Veja como infiéis justificam suas puladas de cerca
Esqueça a máxima "quem ama não trai". Há outras razões por trás da infidelidade que vão além da falta de amor, de acordo com John Gottman, terapeuta americano e autor do recém-lançado "O que Faz o Amor Durar?" (Fontanar, 248 págs., R$ 29,90).
Na obra, Gottman, que é professor da Universidade de Washington, discute as causas da infidelidade baseado em 40 anos de experiência com terapias de casais.
A traição é previsível, diz. Os principais motivos seriam a solidão, a perda da confiança e a sensação de que não pode contar com o parceiro.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
"A maioria das pessoas trai em busca de um amigo, não de sexo. Querem ser valorizadas quando estão solitárias."
Não é bem isso que os infiéis dizem. Um levantamento com 8.840 usuários do site de traição Ashley Madison no Brasil revelou que 37% dos homens e 25% das mulheres dizem trair por falta de sexo.
Fernanda (todos os nomes foram trocados), 29, advogada, é casada há quatro anos e trai o marido desde o segundo ano do casamento. "Meu marido viaja muito a trabalho e eu fico em casa. No começo tentava 'me virar sozinha', mas não nasci para isso."
"Já saí com quatro homens que conheci em um site de traição. É só desejo sexual."
Renata, 35, dona de casa, é casada há 13 anos e trai regularmente, desde sempre. Segundo ela, por prazer.
"Gosto da sensação de variar de parceiros e do desafio da sedução. Mas amo muito meu marido, ele é o homem mais incrível que eu conheço. Não penso em me separar, somos felizes juntos."
Para a terapeuta colombiana Pilar Jaramillo, que relata casos reais de infiéis no livro "Infidelidad" (sem edição no Brasil), esses motivos não passam de desculpas.
"Eles sempre culpam o parceiro, a falta de sexo, o tédio. Mas nessa busca pelo prazer muitos encontram a dor."
AMOR E SEXO
A psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, conduziu uma pesquisa sobre sexo com 8.200 brasileiros. Além de concluir que a maioria dos homens já traiu alguma vez (de 65% a 70% do total), o estudo mostrou que dois terços deles diferenciam afeto de sexo.
Já a maior parte das mulheres acha que as duas coisas são indissociáveis. Elas também dizem trair menos –o número variou de acordo com a faixa etária; de 18 a 25 anos, 48,9% admitiram ter traído.
"Entre aqueles que separam afeto de sexo é comum a ideia de que não traíram –afinal, não estão envolvidos."
Entre aqueles que separam sexo de amor, uma justificativa frequente é que simplesmente surgiu uma oportunidade irresistível. Pelo menos é o que disseram 41,4% dos usuários do site de traição Second Love que participaram de uma pesquisa on-line sobre o tema.
Rafael, 28, professor, afirma ter traído a ex-namorada por um deslize. "Fui a uma festa sozinho com meus amigos, não tinha planejado nada, mas acabei bebendo demais e traí."
Ele se arrependeu e terminou contando para a ex-namorada, que o perdoou. O acontecimento serviu de lição. Há um ano comprometido, ele continua saindo sozinho com os amigos, mas garante que nem pensa em trair.
"Eu me controlo e não dou espaço para outras mulheres", garante.
De acordo com o psicólogo Ailton Amélio, professor da USP, a traição tende a não compensar no longo prazo.
"Trair é excitante, faz bem para o ego. Se fosse ruim, ninguém trairia. O problema é que ficar enganando o outro por muito tempo é degradante demais."
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