Contra alergias, bebês devem usar protetor solar só após os 6 meses

Crédito: Karime Xavier/Folhapress Kelly Cardoso, 21, e seu filho Nicolas, 5 meses
Kelly Cardoso, 21, e seu filho Nicolas, 5 meses

PHILLIPPE WATANABE
DE SÃO PAULO

Praia, sol e um bebê todindo vermelho, não por queimaduras do sol, mas por alergia ao protetor solar. Neste mês, a imagem de um bebê australiano com a pele toda irritada viralizou, deixando os pais de cabelo em pé, com medo de viver algo similar.

"Esse é meu filho de três meses. Ele não ficou exposto ao sol, ele simplesmente estava fora de casa, então, por garantia, resolvi passar protetor solar nele. Não comprem esse protetor solar", dizia a postagem de Jessie Swan, mãe do garoto, que ficou internado por três dias.

O produto, no caso, era o protetor solar Peppa Pig, FPS 50, da Cancer Council Australia. A empresa afirmou à Folha que é "importante que os consumidores usem o produto de acordo com as indicações no rótulo".

Protetores solares não são indicados para crianças com menos de seis meses de idade, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia. O uso nessa faixa etária só é recomendado quando orientado por dermatologistas em situações excepcionais.

"Pele de bebê, abaixo dos seis meses, é muito mais fina que a pele do adulto e absorve mais substância. Por isso só podemos aplicar produtos destinados a recém-nascidos na pele deles", diz Vânia Oliveira de Carvalho, presidente do departamento científico de dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Além disso, segundo Elisabeth Lima Barbosa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), por causa de uma formação imunológica inicial, os bebês têm uma facilidade muito grande de desenvolver alergias.

A alternativa são as barreiras físicas, como roupinhas com fotoproteção (que, segundo especialistas, funcionam, mas é recomendável não expor o bebê diretamente no sol), bonés, carrinhos com abas. Mais tarde, o bebê pode usar diferentes tipos de protetores: entre seis meses e os dois anos, protetores "baby"; após os dois anos, filtros infantis.

Quando a secretária Kelly Cardoso, 21, decidiu ir à praia neste ano, como faz todo mês de janeiro, buscou aconselhamento com a pediatra de seu filho Nicolas, 5 meses.

"Fiquei muito apavorada com essa história da alergia, nunca imaginei que um protetor poderia causar aquilo."

A pediatra disse: "Você vai ter que ficar mais tempo na casa do que na praia", diz Kelly. "Ela me orientou a ficar pouquinho com ele na praia, sempre na parte da manhã e no fim da tarde. E também pediu para evitar levá-lo para a praia ao meio-dia", diz Cardoso.

Contudo, Vânia de Carvalho, da SBP, diz que não vale o risco de expor o bebê. "Seis meses passa tão rápido."

Kelly também partiu em busca de todo um arsenal, com chapéus, bonés e roupinhas com fotoproteção.

Crédito: Karime Xavier/Folhapress Kelly, no dia a dia, usa bonés, chapéus, roupinha e um guarda-chuva para proteger Nicolas do sol
Kelly, no dia a dia, usa bonés, chapéus, roupinha e um guarda-chuva para proteger Nicolas do sol

As especialistas ouvidas e o Consenso Brasileiro de Fotoproteção também alertam que não se deve expor bebês diretamente ao sol. Isso quer dizer que os famosos banhos de sol não são necessários nos primeiros seis meses.

"Mesmo que você não faça [expor] deliberadamente, ele vai acabar recebendo o sol necessário para produção de vitamina D", afirma Carvalho, da SBP. Segundo ela, os raios solares recebidos pela criança nos passeios do dia a dia são suficientes.

Além disso, Carvalho diz que a reposição da vitamina D, se necessária, pode ser feita por via oral, evitando riscos desnecessários ao bebê.

Mesmo com todos esses cuidados, alguns pais ainda testam o produto em pequenas áreas do corpo do bebê menor de seis meses para evitar uma alergia. Mas isso não garante a segurança da criança. "Às vezes há alergias após vários usos. Não vale o risco", afirma Carvalho.

Crédito: Ilustração Carolina Daffara

Bebê ao Sol

Bebês têm uma pele mais sensível e, por isso, requerem cuidados especiais na hora de se expor ao sol

Até os seis meses

- Não usar protetor solar; especialistas afirmam que a criança pode desenvolver alergias
- Evitar expor o bebê diretamente ao sol; isso pode levar, acidentalmente, a queimaduras
- Passeios cotidianos ao ar livre são suficientes para a criança receber luz solar, importante na produção de vitamina D
- Para proteção do dia a dia, as opções são:
- Roupinhas com mangas longas nos braços e pernas; algumas, inclusive, já apresentam fotoproteção (que, segundo especialistas ouvidos, funcionam mesmo)
- Chapéus e bonés (alguns também já apresentam fotoproteção)
- Carrinhos com abas protetoras
- Passeios no começo da manhã (até 10h ou 11h, em caso de horário de verão)
- Passeios no final da tarde (depois das 15h ou 16h, em caso de horário de verão)

Entre seis meses e dois anos

- As crianças devem usar protetor solar físico do tipo "baby"
- Tomar cuidado com a exposição excessiva

A partir dos dois anos

- O ideal é usar filtro solar infantil

Fontes: Vânia Oliveira de Carvalho, presidente do departamento científico de dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, e Elisabeth Lima Barbosa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia

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