Mulher que sente 'cheiro' de parkinson pode ajudar ciência em novo teste para doença
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Olfato poderoso de Joy pode ajudar milhares de pessoas que têm ou que terão parkinson |
A escocesa Joy Milne, 57, faz parte de um grupo seleto da população com uma capacidade acima do normal de sentir e identificar cheiros. "Estou em algum lugar entre o cachorro e o ser humano. Tenho um olfato melhor que a maior parte dos seres humanos", diz ela.
E esse olfato poderoso pode ajudar milhares de pessoas que têm ou terão doença de Parkinson –doença degenerativa que afeta o sistema nervoso central e que pode causar tremores em repouso, rigidez dos músculos, dificuldade em manter o equilíbrio e lentidão dos movimentos voluntários.
Joy é capaz de sentir o cheiro do Parkinson. O marido dela, Les, foi diagnosticado com a doença quando tinha 45 anos. Mas Joy percebeu que havia algo errado dez anos antes.
"Meu marido era médico e eu, enfermeira. Eu sentia um cheiro estranho quando ele estava por perto. E isso causava um pouco de atrito, porque eu dizia que ele não estava escovando os dentes, que não estava tomando banho... Ele começou a ficar bem chateado, então eu tinha que ficar calada", conta.
Um dia, o casal foi a um encontro de pessoas com parkinson e ela percebeu que outras pessoas tinham o mesmo cheiro que Les. "Meu nariz só pensou: Uau!", lembra.
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Les foi diagnosticado com a doença quando tinha 45 anos |
Pessoas com parkinson podem vir a ter dificuldade para andar, falar e dormir. Não há exames médicos para detectar a doença precocemente.
O diagnóstico é feito com base nos sintomas. Por isso, muitas vezes, o problema só é identificado quando o paciente já sofreu danos relevantes.
Mas Joy percebeu que quem tem a doença, independentemente do estágio, tem um cheiro característico, em maior ou menor grau.
EXPERIMENTOS
Ela relatou o cheiro que sentia em uma conferência sobre parkinson. Experimentos conduzidos pelo professor Tilo Kunath, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, comprovaram a habilidade de Joy.
A escocesa recebeu 12 camisetas para cheirar –seis tinham sido usadas por pacientes com parkinson e outras seis, por voluntários que não tinham a doença.
Joy identificou corretamente as seis blusas de pacientes que tinham parkinson, mas também sentiu o odor em uma camiseta que pertencia a uma pessoa do grupo de controle.
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Joy usa sua habilidade a favor da ciência |
Três meses depois, ela foi informada que o dono da camiseta foi diagnosticado com a doença.
Joy foi, então, encaminhada para participar de uma pesquisa conduzida pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, que busca isolar e identificar as moléculas que produzem o odor característico.
Os pesquisadores esperam que o olfato de Joy ajude a diagnosticar a doença nos primeiros estágios, e que tratamentos em desenvolvimento hoje sejam usados para frear o avanço da doença.
MAS O QUE É O CHEIRO DE PARKINSON?
"É um cheiro denso. Muito diferente. Pessoas com parkinson, seus cuidadores e familiares vão te dizer que esse cheiro existe", diz Joy.
"Eu senti esse cheiro de dez a 12 anos antes de Les ser diagnosticado. À medida que o parkinson piorava, o cheiro ficava mais forte. Tornou-se parte dele. Mas eu, com a minha sensibilidade de olfato, sentia o tempo inteiro. Isso se tornou bem desconfortável, na verdade. Mas eu tinha a noção de que não podia reclamar demais."
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Les morreu aos 65 anos, após duas décadas enfrentando a doença |
Les morreu aos 65 anos. Ele viveu com Parkinson por 20 anos. Não há cura para a doença. Antes de o marido partir, ela prometeu que usaria sua "habilidade" de sentir cheiros para tentar ajudar outras pessoas.
"É horrível ver o seu companheiro mudar dessa forma. Se conseguirmos criar um teste de diagnóstico, então não chegaremos às piores fases da doença. Porque, naquela fase de diagnóstico, de 60% a 70% do estrago neurológico já ocorreu", diz Joy.
"Não vamos alcançar a cura agora. Mas frear [o avanço da doença] ou amenizar será uma grande conquista."
Empics | ||
Joy está ajudando pesquisadores a desenvolverem um exame capaz de detectar o parkinson |
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