Descrição de chapéu Coronavírus

Programa gratuito simula circulação do ar e ajuda a planejar ambientes fechados anti-Covid

Físico diz que ventilação é essencial para diminuir disseminação do coronavírus

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São Paulo

A pandemia do coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, fez —ou deveria ter feito— com que os cuidados com a ventilação em ambientes fechados fossem redobrados. Isso porque, após meses de disputas científicas, o consenso entre os especialistas hoje é que a principal via de transmissão do vírus é o ar.

Assim, quanto menor for o espaço e a circulação de ar, maior o risco de contágio.

Para ajudar a tomada de medidas simples, como a mudança na disposição de móveis e pessoas no ambiente, pesquisadores da Universidade Cornell (EUA) apresentaram uma ferramenta para um programa de computador capaz de simular a trajetória do ar em ambientes fechados e com ventilação artificial, como sistemas de ar-condicionado.

Voltada para profissionais como arquitetos e designers de interiores, o instrumento faz parte do aplicativo Eddy3D, que pode ser baixado gratuitamente a partir de 30 de julho (disponível em inglês).

Simulação da circulação de ar em ambiente fechado feita no programa Eddy3D
Simulação da circulação de ar em ambiente fechado feita no programa Eddy3D - Divulgação/Cornell University

"O novo módulo para o Eddy3D vai mostrar como configurar móveis e mesas, posicionar corretamente as divisórias e como maximizar a ventilação preditiva para facilitar a movimentação de ar fresco e conter patógenos transmitidos pelo ar", diz Timur Dogan, professor do Departamento de Arquitetura da instituição e um dos envolvidos no desenvolvimento da ferramenta, em um comunicado publicado pela universidade.

Segundo os desenvolvedores, a pesquisa que baseia o instrumento mostrou que a posição de móveis e pessoas interferem na difusão dos vírus no espaço, e o fluxo direto de ar tem o poder de dissipar essas partículas. O estudo está disponível no formato pré-print (ainda sem revisão de outros cientistas).

Para o físico Daniel Stariolo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), a ferramenta é bem-vinda. "A ventilação é fundamental para diminuir o risco de contágio. Ao respirar, as pessoas que estão infectadas pelo vírus exalam o patógeno para o ar. Como o vírus é uma partícula muito, muito pequena, pode ficar flutuando por muito tempo", afirma.

Em maio de 2020, Stariolo apresentou um estudo no qual seus cálculos indicavam a possibilidade da transmissão do coronavírus pelo ar, o que torna ainda mais importante a adoção de medidas como uso de máscaras e distanciamento físico. A OMS (Organização Mundial da Saúde) só passou a considerar o mecanismo de transmissão para o Sars-CoV-2 em julho daquele ano.

Entre os ambientes de maior risco, o físico aponta os ônibus que transitam com as janelas fechadas, shoppings, mercados, escritórios e salas de aula.

Segundo Stariolo, que não esteve envolvido na pesquisa, o software poderia contribuir para testar diferentes geometrias e posições para os objetos em uma sala, por exemplo, e visualizar a velocidade e a trajetória do ar dentro dos espaços. Isso permite detectar quais os pontos críticos, em que o ar pode ficar parado, e quais são as barreiras que impedem a melhor circulação do ar.

O físico afirma que a ventilação natural é sempre a melhor opção, mas que a otimização da circulação artificial de ar pode tornar ambientes fechados mais seguros. "É possível usar um design mais inteligente", diz.

"Na pandemia, fomos forçados a pensar na qualidade do ar que respiramos, mas essa é uma questão muito anterior ao coronavírus, que interfere na nossa expectativa de vida. Pensar na ventilação vai ser cada vez mais necessário", conclui Stariolo.

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