Descrição de chapéu Coronavírus

SP tem menor média de internações por Covid desde novembro e estuda flexibilizar regras

Especialistas alertam para perigo da variante delta e necessidade de manter cuidados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O estado de São Paulo registrou nesta segunda-feira (26) a menor média móvel de novas internações por Covid-19 desde novembro de 2020, com 1.187 admissões em UTI e enfermaria. A queda do indicador vem num momento em que o governo estadual prepara a flexibilização das restrições para comércio e serviços.

Atualmente, na chamada fase de transição, que vai até 31 de julho, o estado tem toque de recolher das 23h às 5h. Comércio e serviços podem funcionar com 60% da capacidade até as 23h.

Apesar da redução das novas internações nas últimas semanas, especialistas alertam para a ameaça das variantes, principalmente da delta, e para a necessidade de manutenção de uso de máscara e de distanciamento físico.

A queda mais contínua desse número vem sendo observada desde 12 de junho. O indicador é um dos dados projetados pela plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia. A média móvel é a média das novas internações do dia em questão e dos seis dias anteriores.

Desde o início da série, em 19 de maio de 2020, o índice mais baixo ocorreu em 7 de novembro de 2020, quando a média móvel de novas internações no estado chegou a 840.

“Estamos perto do melhor momento de toda a pandemia, mas ainda estamos muito aquém do que se espera para o controle da pandemia, porque ainda há muitos casos e mortes pela doença”, afirma o pesquisador Wallace Casaca, coordenador da plataforma.

Nesta segunda, o estado de São Paulo chegou a 4.003.549 de casos e 137.273 mortes por Covid-19. No mês de julho, são 9.592 novos óbitos e 276.215 novos casos da doença.

Na opinião do especialista, a média móvel de novas internações é um indicador eficiente na avaliação da evolução da pandemia de Covid-19, melhor que a taxa de ocupação, índice variável de acordo com a abertura e o fechamento do número de leitos para a doença. “A média móvel reflete o número de pessoas que estão procurando o hospital por conta de Covid-19 nos últimos dias”, afirma Casaca.

O estado de São Paulo registrou a média móvel mais alta da série em 26 de março de 2021, com 3.399 internações.

Paulo Abrão, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor de infectologia da Unifesp, afirma que, com a cobertura vacinal que São Paulo tem hoje, a flexibilização do Plano SP em meio à variante delta é um risco.

“A delta é a variante mais transmissível de todas até agora e não temos uma cobertura vacinal suficiente para garantir que não vamos ter aumento de casos, internações, necessidade de UTI e óbitos. Países como Reino Unido e Israel tiveram a variante delta com influência menor nesses indicadores porque estavam com uma cobertura vacinal muito maior”, ressalta.

Análises do Instituto Adolfo Lutz e do Centro de Vigilância Epidemiológica, ligado à Secretaria Estadual da Saúde, identificaram 783 casos autóctones de quatro variantes até 24 de julho: 15 da delta (13 na capital e 2 no Vale do Paraíba), 3 da beta, 42 da alfa e 723 da gama.

Estimativas sobre o potencial de transmissão da variante delta variam muito, mas estudos indicam que a linhagem é pelo menos 50% mais transmissível.

Além disso, uma pessoa infectada pela variante delta tem uma carga viral que pode ser até cerca de mil vezes maior do que um paciente infectado por outra variante, segundo um estudo realizado por cientistas de instituições chinesas.

Para o especialista, é necessário cautela e é preciso aguardar os dados dos próximos 60 dias.

“No final de março, começo de abril, quando recebemos a P.1 [gama], tivemos um colapso em São Paulo, com gente morrendo na fila de UTI. As pessoas esquecem muito rápido. Não podemos correr o risco de isso acontecer de novo. É necessário continuar forçando a ampliação da cobertura vacinal e segurar um pouco as medidas, porque podemos ficar em maus lençóis”, diz Abrão.

“As pessoas ficam comemorando que as UTIs não estão tão cheias e a média [móvel] está diminuindo, mas a comparação é com um referencial ruim e muito alto. Ainda estamos pior hoje se comparado com o pior momento [da pandemia] do ano passado”, afirma Claudio Maierovitch, médico sanitarista da Fiocruz e membro do Observatório Covid-19 BR.

Segundo Maierovitch, estamos numa corrida contra o vírus e ainda longe de alcançar a imunidade coletiva. Para ele, é uma ilusão achar que a diminuição dos índices de Covid-19 significa a superação da pandemia. “Estamos em plena efervescência da transmissão”, diz.

“Pensando nas duas doses, teríamos que ter vacinado mais de três vezes o que já vacinamos. Se conseguíssemos vacinar rapidamente, diminuiríamos a velocidade de espalhamento do vírus. À medida em que fracassamos nisso, ele continua se espalhando. Os EUA vacinaram muito mais do que a gente e há aumento de casos porque relaxaram demais”, completa Maierovitch.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.