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24/08/2010 - 06h55

Circuncisão em bebês sofre forte queda nos EUA

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RONI CARYN RABIN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Apesar de uma campanha mundial a favor da circuncisão para desacelerar a disseminação da Aids, o índice de circuncisão entre bebês americanos parece estar declinando.

Uma apresentação pouco notada feita por um pesquisador federal de saúde no mês passado na Conferência Internacional da Aids em Viena sugeriu que o índice tinha caído bastante --para menos da metade de todos os meninos nascidos em hospitais convencionais de 2006 a 2009, contra cerca de dois terços na década de 1980 e 1990.

Na semana passada, autoridades dos Centros de Controle e Prevenção de doenças alertou que os números da apresentação não eram definitivos. Mas já estão agitando um forte debate na internet.

Os números foram apresentados na conferência da Aids por um pesquisador dos Centros, Charbel E. El Bcheraoui. A apresentação não foi coberta por nenhum dos principais veículos de notícias, mas um relatório do serviço de notícias Elsevier Global Medical News, junto com uma foto de um slide da apresentação, rapidamente circulou pela blogosfera.

O slide retrata uma queda acentuada na circuncisão, para apenas 32,5% em 2009, contra 56% em 2006. Os números se baseiam em cálculos da SDI Health, uma empresa de Plymouth Meeting, Pensilvânia, que analisa dados de assistência à saúde; eles não incluem procedimentos fora de hospitais (como a maior parte dos rituais de circuncisão judaicos) ou não-reembolsados por seguro.

Andrew Kress, diretor-executivo da SDI Health, alertou que os dados ainda não foram publicados e ainda estão sendo analisados, mas confirmou que a tendência era de cada vez menos circuncisões a cada ano.

Ele acrescentou que medir o índice de circuncisão não era o propósito do estudo, que foi projetado para medir o índice de complicações decorrentes do procedimento.

Opositores da circuncisão receberam bem a tendência como uma vitória do senso comum sobre o que eles chamam de mutilação genital culturalmente aceita. Para autoridades federais de saúde, que têm debatido se devem ou não recomendar a circuncisão para deter a disseminação da Aids, a notícia sugere uma batalha que pode ser mais difícil do que o esperado.

Autoridades dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças recusou solicitações de entrevistas sobre o estudo, mas uma porta-voz, Elizabeth-Ann Chandler, respondeu a perguntas por e-mail. Ela reiterou que a agência usou os números da SDI para calcular o índice de complicações, não de circuncisões.

"Os Centros não estiveram envolvidos na coleta dos dados citada, nem participou de qualquer revisão desses dados específicos para o propósito de calcular os índices", ela escreveu. "Assim, não podemos comentar sobre a precisão dessa estimativa específica se circuncisão masculina infantil."

Mas ela não contestou a decrescente popularidade da circuncisão.

"O que podemos dizer é que os índices circuncisão masculina infantil declinaram nesta década", ela escreveu.

O estudo descobriu um índice muito baixo de complicações associadas a circuncisões de recém-nascidos; a maioria delas foi considerada leve e nenhum bebê morreu.

Organizações que se opõem à circuncisão disseram que os pais podem estar respondendo à mensagem que seus grupos vêm espalhando através de sites e vídeos distribuídos a educadores.

"Espalhou-se a mensagem de que é um procedimento desnecessário, prejudicial e doloroso", disse Georganne Chapin, diretora-executiva da Intact America, uma organização sem fins lucrativos sediada em Tarrytown, NY.

Uma maior consciência sobre a circuncisão feminina também pode ter influenciado os pais, ela disse, perguntando: "Como podemos pensar que não há problema em cortar meninos, quando ficamos horrorizados com a ideia de cortar as menininhas?"

Tanto os Centros de Controle quanto a Academia Americana de Pediatria estão revisando a evidência científica sobre a circuncisão com o objetivo de elaborar novas recomendações de políticas, mas até o momento nenhuma das instituições o fez, embora a agência federal devesse ter emitido suas recomendações até o final do ano passado.

Autoridades da academia pediátrica disseram que sua nova política deve ser divulgada até o início de 2011; uma força-tarefa que estudou o tema finalizou seu relatório, que está sendo revisão por vários outros comitês, de acordo com Michael Brady, diretor de pediatria do Nationwide Children's Hospital, em Columbus, Ohio, que trabalhou na força-tarefa.

A academia provavelmente irá adotar uma posição mais incentivadora do que sua atual posição neutra e declarar que o procedimento possui benefícios à saúde além da prevenção do HIV, afirmou Brady.

A Organização Mundial de Saúde endossou em 2007 a circuncisão masculina como "uma intervenção importante para reduzir o risco de HIV adquirido através de relações heterossexuais".

"Ninguém vai dizer a um pai que ele tem de circuncidar o filho. Isso seria tolo", disse Brady. "O principal é que os médicos forneçam informação sobre os riscos e benefícios e permitam que os pais tomem a melhor decisão."

Vários programas estaduais do Medicaid deixaram de cobrir procedimentos de circuncisão depois que a academia lançou sua política atual, em 1999. Brady afirmou que essa pode ser uma razão pela qual menos pais optam pelo procedimento. Outras possíveis razões incluem uma crescente população hispânica que tradicionalmente não adota a circuncisão, assim como o movimento anti-circuncisão e uma tendência maior entre os pais de rejeitar intervenções médicas como a vacina.

Cerca de 80% dos homens americanos são circundados, um dos índices mais altos do mundo desenvolvido. Mesmo assim, defensores da circuncisão reconhecem que um forte aumento no procedimento provavelmente não teria um impacto substancial nos índices de HIV no país, já que o procedimento não parece proteger os indivíduos com maior risco, que são os homens que mantêm relações com outros homens.

Embora estudos na África tenham descoberto que a circuncisão reduz o risco de um homem se infectar através de uma parceira HIV-positivo, não está claro se um homem circuncidado com HIV tem menos tendência a infectar uma parceira.

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