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Na França, pacientes processam fabricante de droga para emagrecer
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ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A associação das vítimas do Mediator, remédio que teria causado a morte de até 2.000 pessoas na França, entrou na Justiça nesta semana contra o laboratório Servier.
Remédio pode ter causado até 2.000 mortes na França
O caso já é um dos maiores escândalos sanitários da história do país.
A ação penal, que inclui a alegação de homicídio culposo, representa a queixa de 116 pessoas que apresentaram valvulopatias -problemas nas válvulas cardíacas- após tomar o remédio.
O Mediator era usado contra o diabetes, mas também era receitado como moderador de apetite. Até o fim do mês, a associação deve entrar com mais ações, representando mil doentes.
"Como é que o laboratório, que foi alertado diversas vezes sobre a toxicidade do remédio, não tomou nenhuma atitude antes?", diz Jean-Christophe Coubris, um dos advogados da associação.
O Mediator, cujo princípio ativo é o benfluorex (derivado das anfetaminas), começou a ser vendido em 1976.
No fim de 2009, a Agência de Segurança Sanitária proibiu a venda da droga, já banida na Espanha e Itália desde 2003 e nos EUA em 1997.
Um ano depois, estudos indicaram que o uso de Mediator trazia risco cardíaco.
Em novembro de 2010, outros dois estudos estimaram em 500 a 2.000 as mortes ligadas ao medicamento.
"Quando foi proibido, 5 milhões de pessoas na França já haviam usado o Mediator e 300 mil ainda estavam em tratamento", afirma Jean-Christophe Coubris.
A professora Anne-Marie*, 60, é uma das primeiras cem pessoas que entraram com a ação na Justiça. Entre 2003 e 2006, ela tomou três comprimidos de Mediator por dia, prescritos por seu clínico-geral para perder peso.
Em 2004, apareceram os primeiros sinais de valvulopatias, mas os médicos não ligaram o problema à droga.
Dois anos depois, ela parou o tratamento. Foi só no final do ano passado que Anne-Marie associou a doença ao uso de Mediator.
"Estou sempre cansada, tenho palpitações e dores de cabeça. Não posso dar dez passos sem perder o fôlego."
CRISE
Hoje, não só o laboratório Servier, mas toda a vigilância sanitária francesa estão na mira por causa do Mediator.
Amanhã, o Ministro da Saúde, Xavier Bertrand, deve divulgar resultados da enquete administrativa encomendada para achar falhas na identificação de riscos.
Em um artigo publicado anteontem no jornal francês "Libération", o diretor da Agência de Segurança Sanitária, Jean Marimbert, fala em "crise sem precedentes" e afirma que vai deixar o cargo.
O laboratório Servier, que vinha negando a responsabilidade no caso e chegou a afirmar que só três pessoas morreram por causa do Mediator, mudou de tom.
À Folha, a empresa afirmou que vai esperar os resultados das investigações. Segundo a Servier, o remédio nunca foi vendido no Brasil.
*O nome foi trocado a pedido da entrevistada
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