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15/09/2011 - 18h53

Jornalista diz acreditar que Anvisa vai proibir venda de anfetamínicos

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DE SÃO PAULO

A jornalista Débora Mismetti, editora-assistente de Saúde e Ciência da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (15) sobre a polêmica dos remédios para emagrecimento no país.

Folhapress
Débora Mismetti é editora-assistente de Saúde desde março de 2010
Débora Mismetti é jornalista da Folha desde 2007

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) adiou no fim de agosto a decisão sobre a proibição de inibidores de apetite.

A Vigilância Sanitária deve decidir pela proibição da venda dos inibidores de apetite pertencentes ao grupo das anfetaminas e derivados (femproporex, anfepramona e mazindol) no país.

Quanto à sibutramina, um dos mais populares emagrecedores, a tendência é que a venda continue liberada, mas sob restrições.

Participaram do bate-papo 216 pessoas.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

(05:01:20) Glaucia: A Anvisa faz testes com os medicamentos ou a proibição é devido ao mesmo procedimento em outros países?

(05:02:15) Débora Mismetti: Oi, Glaucia. A Anvisa em si não faz os testes. Eles fizeram uma revisão das pesquisas já realizadas no mundo com esses remédios e da legislação a respeito
deles em outros países.

(05:02:49) Douglas: Na sua opinião, os médicos também são a favor dos remédios em boa parte porque recebem comissão de farmácias e porque tornam a visita dos pacientes algo obrigatório por conta da receita ou é por motivos de saúde mesmo?

(05:04:54) Débora Mismetti: Douglas, não podemos afirmar que os médicos estão todos agindo por interesse financeiro. Essas generalizações são perigosas. Os médicos defendem que querem ter todas as opções em mãos na hora de tratar os pacientes. Se um não se adapta com um tipo de remédio, eles querem ter a possibilidade de tentar outros. A Anvisa, por sua vez, acredita que falta garantia de segurança para o uso dos inibidores de apetite.

(05:05:13) Priscila: Afinal, os benefícios compensam os malefícios destes medicamentos? Como funciona a Lei em outros países?

(05:07:07) Débora Mismetti: Priscila, a questão do risco versus benefício é o centro desse debate. É difícil ter uma opinião isenta nisso. O que vemos é que algumas pessoas tomam esses remédios e sofrem efeitos colaterais. Outras, não. Faltam pesquisas grandes e controladas para a maioria desses remédios, especialmente os mais antigos, chamados de anfetamínicos. Para a sibutramina, há uma pesquisa grande, mas feita com pessoas que já tinham problemas de coração.

(05:07:35) Gil: O fato de ser proibido não facilita a venda clandestina, praticada até mesmo em farmácias?

(05:07:55) Débora Mismetti: Nos EUA e na Europa, não se usa mais sibutramina. Mas ainda há algumas opções de anfetamínicos. Muitos médicos e pessoas que tomam os remédios dizem isso, que vai acabar acontecendo um comércio ilegal, pela internet.

(05:09:08) polo: Debora, existe alguma verdade sobre essa proibicao ser algum tipo de lob de certos laboratorios?

(05:10:06) Débora Mismetti: Polo, não tenho essa informação. Alguns dizem que há lobby para manter os remédios no mercado, mas não sabemos se isso é verdade.

(05:10:36) jana: De acordo com a ANVISA, o Brasil consome 55% da sibutramina produzida no mundo. Qual é o motivo de tamanha voracidade do público em torno deste produto?

(05:12:41) Débora Mismetti: Jana, a obesidade no Brasil vem crescendo sem parar, então esse pode ser um dos motivos. Existe também um abuso na prescrição dessas drogas. A Anvisa fez um levantamento e mostrou que entre os médicos que mais receitam sibutramina há muitos que não estão envolvidos no tratamento da obesidade.

(05:12:56) Rita: Débora, já tomei sibutramina e anfepramona e tive efeitos colaterais com os dois, mas mesmo assim emagreci. O problema é que voltei a engordar e agora fico preocupada com essa possível proibição da Anvisa. Se isso o que acontecer qual a saída para uma pessoa como eu que não consegue emagrecer...mas não é tão gorda para fazer redução de estômago?

(05:14:15) Débora Mismetti: Rita, é possível que a sibutramina permaneça no mercado por mais um ano. A Anvisa ainda não bateu o martelo, mas, por enquanto, parece que vai ser isso mesmo. Os médicos também estão estudando outras possibilidades, novos medicamentos, mas, por enquanto, não tem nada certo.

(05:14:31) Mari: Agora surgiu um novo remédio no mercado, que inclusive foi capa da Veja. Mas já surge com polêmmicas em volta? Sabe algo sobre ele?

(05:14:56) Débora Mismetti: Sim, Mari, mas esse remédio não foi aprovado para perda de peso, só para tratamento de diabetes tipo 2.

(05:15:48) Débora Mismetti: O remédio, que se chama Victoza, é parecido com um hormônio produzido naturalmente pelo intestino. O remédio faz a comida se mover mais lentamente no estômago e age no cérebro aumentado a sensação de saciedade. Mas ele também age no pâncreas aumentado a produção de insulina, por isso é usado para diabetes.

(05:16:17) Débora Mismetti: Pesquisas estão em andamento para verificar se será possível usar essa remédio para perda de peso.

(05:15:28) Silas: Antigamente os endocrinologistas receitavam anfetaminas, diazepínicos etc e ninguém ligado à saúde questionava tais medicamentos. Por que com a sibutramina virou esse pandemônio?

(05:18:00) Débora Mismetti: Silas, os anfetamínicos também estão em debate pela Anvisa. A diferença é que quando esses remédios começaram a ser usados, havia menos exigências de testes antes da aprovação. Com a sibutramina, houve mais exigências e foram encontrados efeitos colaterais. Temos que lembrar que há restrições a anfetamínicos em outros países.

(05:16:56) Luna: A obesidade é de fato combatida pelos males que causa ou boa parte pela estética. O que vc acha?

(05:20:14) Débora Mismetti: Luna, a obesidade é combatida tanto pelos males que causa quanto por motivos estéticos. O que é preciso pesar é até onde ir por causa da estética, certo? Cirurgias de obesidade e remédios são coisas sérias. Não que a estética não seja também, mas os efeitos colaterais dos remédios e das operações precisam ser levados em consideração. É preciso conversar bem com o médico antes de decidir qual é o melhor tratamento.

(05:20:24) Lica: Nos EUA e na Europa que tipo de tratamento existem?

(05:21:47) Débora Mismetti: Lica, a sibutramina não é mais usada na Europa e nos EUA, mas lá ainda são usados alguns anfetamínicos. Nos EUA, a sibutramina é usada de forma clandestina também. Saiu uma reportagem na Folha sobre isso há poucas semanas.

(05:22:26) gama: quais os efeitos colaterais da subtramina p a proibição?

(05:24:37) Débora Mismetti: Gama, a sibutramina foi tirada do mercado nos EUA com base em um estudo chamado Scout. Os pesquisadores observaram como pacientes obesos com risco cardíaco reagiam ao remédio. O estudo mostrou que, nessas condições, as pessoas tiveram mais chances de ter infartos e derrames.

(05:24:44) Débora Mismetti: Gama, os médicos que defendem a manutenção dos remédios no mercado questionam o uso desse estudo como motivo para proibir a sibutramina, porque a bula do remédio já diz que ele não pode ser receitado para cardíacos.

(05:25:44) Débora Mismetti: Quem defende o veto ao remédio defende que esse estudo mostra que o remédio pode ser perigoso.

(05:25:51) Lica: A obesidade não tem uma ligação muito grande com a cultura do momento? O que você acha?

(05:26:50) Débora Mismetti: Oi, Lica, é verdade que existe uma grande valorização da magreza, mas já vemos movimentos contrários, defendendo o direito de as pessoas serem gordas e felizes.

(05:27:09) Débora Mismetti: É o chamado Orgulho Gordo.

(05:27:24) PRESTON: como funciona a fiscalização que a ANVISA faz para autorizar a entradas de remédios, que depois se descobre que são prejudiciais a saude?

(05:28:43) Débora Mismetti: Oi, Preston. Quando um laboratório quer colocar um remédio no mercado, ele deve apresentar estudos que comprovem a segurança e eficácia da droga. Depois da aprovação, pesquisadores continuam investigando a ação dos remédios e, às vezes, descobrem que eles podem ser mais prejudiciais do que se acreditava antes.

(05:29:15) Débora Mismetti: Nesses casos, Preston, a Anvisa, assim como a FDA, nos EUA, pode pedir a retirada do remédio do mercado.

(05:29:05) Ana: Quais serão as alternativas caso a proibição dos remédios vendidos atualmente seja aprovada?

(05:30:22) Débora Mismetti: Oi, Ana. Como já comentamos, outros remédios estão em estudo, como o Victoza, hoje usado para diabetes tipo 2. Ainda está no mercado o Xenical também.

(05:31:22) Débora Mismetti: O Xenical funciona reduzindo a absorção de gordura. Mas causa efeitos colaterais, como diarreia, inchaço, enfim. Não é todo mundo que se adapta. E a pessoa tem que fazer uma reeducação alimentar, senão não funciona.

(05:31:46) Gilson: De acordo com uma pesquisa, 74% dos brasileiros aprovam a poibição? Por que você acha que tanta gente aprova e ao mesmo tempo tanta gente os consomem?

(05:33:45) Débora Mismetti: Oi, Gilson, não sei como essa pesquisa foi feita, mas o percentual de brasileiros que usa um desses remédios deve ser muito menor do que essa. Não deve ser gente suficiente para fazer diferença em uma grande pesquisa populacional. Mas, repito, não sei quantas pessoas foram entrevistadas e nem que perguntas foram feitas para elas.

(05:34:33) Livia: não existem medidas intermediárias antes da proibição? Tipo: obrigar médicos a mandar relatórios sobre seus pacientes etc?

(05:35:41) Débora Mismetti: Oi, Livia, essa possibilidade existe sim. A Anvisa já falou em exigir que os pacientes assinem um documento dizendo que estão cientes do risco de tomar os remédios, por exemplo, e de que os efeitos colaterais sejam relatados pelas farmácias e fabricantes para a Vigilância Sanitária.

(05:36:20) Débora Mismetti: Mas isso está em debate só no caso da sibutramina. Os anfetamínicos, ao que parece, devem ser proibidos de vez. A Anvisa ainda não decidiu, mas parece que vai ser assim.

(05:36:17) PRESTON: Fazendo estudos e se comprovando que esses remédios são prejudiciais a saude, porque se demora tanto para que esse remédio prejudicial a saude saia de circulação?

(05:37:45) Débora Mismetti: Oi, Preston, demora mesmo. E, no caso desses remédios, foram feitos diversos debates, os médicos estão questionando isso muito, já disseram que podem recorrer à Justiça, enfim.

(05:37:45) Gunter: Em suas matérias, você já chegou a computar o percentual de pessoas que permanecem magras após parar com os remédios?

(05:38:42) Débora Mismetti: Oi, Gunter, nunca fiz isso, porque eu teria que entrevistar centenas de pessoas para conseguir um número relevante. Mas a gente percebe que muita gente engorda quando para de tomar, sim.

(05:39:12) Gunter: O que quero saber é; os médicos alegam que o uso de remédios se faz necessário, mas os pacientes se viciam nisso e não mudam nada em sua rotina...

(05:39:14) Débora Mismetti: Por isso é que os médicos dizem que, se os remédios forem proibidos, muita gente vai engordar, porque precisaria ficar tomando esses remédios sempre.

(05:40:14) Débora Mismetti: Gunter, se o remédio está funcionando, a rotina acaba mudando mesmo, porque a sibutramina mexe com a sensação de saciedade. Claro que, se a pessoa para de tomar, o efeito acaba e ela pode voltar a comer como antes. Aí engorda mesmo.

(05:40:53) Bruno Mato Gross s: em que época a anvisa vai decidir sobre o veto dos remédios de emagreciamentos???

(05:41:38) Débora Mismetti: Oi, Bruno. Essa decisão já foi adiada várias vezes, mas deve ser tomada no fim deste mês.

(05:42:05) Débora Mismetti: A Anvisa afirma que a reunião em que isso vai ser decidido vai ser transmitida pela internet. É só entrar no site e assistir.

(05:42:23) gama: o bRasi consome 55% da subtramina mundial. Quantas mortes no país já ocorreram por ingestão da subtramina... q a Anvisa relatou?

(05:43:07) Débora Mismetti: Oi, gama. Não conheço relatos de mortes no Brasil que sejam atribuídas à sibutramina.

(05:43:23) Anamaria: você acha que se houvesse uma maneira de medir se uma pessoa precisa do medicamento, esse teste deveria ser condicional para a prescrição?

(05:44:59) Débora Mismetti: Oi, Anamaria, essa é uma ideia interessante, mas a obesidade é uma coisa tão complexa, não dá para medir. Os médicos conversam com os pacientes e veem se eles têm dificuldade de controlar a alimentação, se comem de forma desregrada, se já tentaram fazer várias dietas e nada deu certo, essas coisas.

(05:45:14) Anamaria: você sabe alguma coisa sobre os testes genéticos que ajudam a melhorara a dieta?

(05:45:54) Débora Mismetti: Anamaria, há pesquisas sobre genes da obesidade, mas nada ainda que ajude a fazer uma dieta com mais sucesso, infelizmente.

(05:46:25) Felipe: O que existe de mais moderno sendo estudado nesta área de endocrinologia?

(05:49:11) Débora Mismetti: Oi, Felipe. As pesquisas genéticas são um campo que está sendo explorado. Outra coisa são as relações entre a obesidade e os circuitos de recompensa no cérebro. Já se diz que há pessoas mais "viciadas" em comer, por isso têm dificuldade para emagrecer. Desequilíbrios de neurotransmissores podem ter algo a ver. Também já ouvi falar de pesquisas usando moléculas parecidas com as dos hormônios da tireoide, mas isso ainda está em estudo mesmo. Outros inibidores de apetite que agem no sistema nervoso central também estão em pesquisa. Um já foi submetido à FDA, nos EUA, mas não passou ainda. E existem os remédios parecidos com os hormônios do sistema digestivo, como esses para diabetes e outros que ainda estão por vir.

(05:49:23) Débora Mismetti: Obrigada a todos e até a próxima!

(05:49:27) Moderador UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de todos os internautas. Até o próximo!

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