da France Presse, em Lima

O ouro, utilizado como valor refúgio na economia mundial, tem um futuro brilhante em aplicações para a medicina, o meio ambiente e a energia, estimaram especialistas reunidos em Lima para discutir o presente e o futuro do metal precioso.

Ouvir exemplos de casos sobre as possibilidades do ouro adaptar-se à indústria, com base em novas tecnologias, parece ficção científica se pensarmos em seu tradicional uso para a confecção de joias ou como investimento em tempos de crise, como a que ameaça a Europa.

Além do uso em joalherias (70%) e em investimentos, "o emprego do ouro na medicina vai crescer, mas não será nunca um motor da demanda", afirma Richard Holliday, diretor industrial do Conselho Mundial do Ouro.

Mas esse uso médico vai ter um impacto superior ao seu peso real, pelas histórias que tem para contar.

As pessoas querem ouvir essas histórias: a magia do ouro não ocorre apenas por sua beleza ou valor, mas também pelas notáveis propriedades do metal que é maleável, bom condutor do calor, resistente à corrosão e biocompatível.

"O uso do ouro por parte da indústria, em especial a eletrônica, já representava, em 2010, 12% da demanda mundial", afirmou Holliday durante simpósio internacional sobre o ouro realizado em Lima. "Estamos ante um cenário emergente que será explorado pela medicina, em especial."

Na medicina, sua aplicação não se limita à confecção de blocos dentários, que representam um fator importante da demanda industrial, mas se estende a "terapias para o câncer, reumatismo (sais de ouro), malária e Aids", estima Abiel Mngomezulu, diretor da companhia estatal sul-africana Mintek.

No caso do câncer, o ouro é utilizado a partir de nanotecnologias (partículas pequenas) com aplicação como medicamento em quimioterapia, com a propriedade de atuar apenas nas células cancerígenas evitando eliminar as demais, boas ou más, como ocorre na quimioterapia atual, afirmou Holliday.

Outro metal precioso, a prata, também possui propriedades curativas e "é utilizada para tratar problemas de pele e evitar infecções", garante Carl Firman, analista da consultora britânica Virtual Metals.

Em eletrônica é utilizada em laminados de placas de computadores e em telefones celulares, aparelhos Mp3, televisões de tela plana e câmeras.

Cada telefone celular usa em seu equipamento 0,03 gramas de revestimento em ouro, o equivalente a cerca de um dólar. Essa indústria utilizou 30 toneladas desse metal precioso em 2009 para os celulares, disse Holliday.

Entre 2010 e 2013 prevê-se um crescimento de até 8% na demanda de ouro para a indústria eletrônica.

Um dos desafios apresentados pelo mercado aos produtores de ouro são os materiais de mais baixo custo, aos quais a indústria pode recorrer em vez do metal amarelo ante o aumento de seu preço.

A indústria precisa de "confiabilidade e durabilidade" em seus produtos e isso é oferecido apenas pelo ouro, esta é a fortaleza, segundo os especialistas.

Um dos paradoxos é que o ouro -mineradores provocam a contaminação de rios pelo mercúrio usado no garimpo- pode ser aplicado na proteção do meio ambiente como "energia limpa". Na indústria automotiva um catalisador de ouro converte CO2 em água, no que seria uma contribuição contra a poluição.

O ouro tenta criar uma nova imagem com base em uma frase que resume sua marca comercial: "gold for good" (uma expressão idiomática que singifica "ouro para sempre"), uma maneira de apostar na qualidade e nos novos horizontes, onde seja visto como um metal que põe seus gramas a favor da humanidade.