No tênis de mesa, China faz celebração do esporte nacional
O hino chinês começa a tocar no ginásio da Universidade de Pequim. Três bandeiras chinesas são hasteadas e chegam ao topo exatamente no fim da música. Um oficial sorri satisfeito.
Faltavam duas horas e 34 minutos para o início da final masculina do tênis de mesa e a cena da celebração já estava pronta.
A imagem é emblemática, um ensaio para o mais ensaiado evento dos Jogos. Que foi seguido à risca: na disputa do bronze, o chinês Wang Liqin não deu a menor chance ao sueco Jorge Persson e fez 4 a 0. Foi a garantia da terceira bandeira chinesa. Porque as outras já estavam sacramentadas. A decisão seria caseira. No esporte nacional da China, que conta com 6 milhões de jogadores federados, faltava então definir o melhor deles.
Num país que manda crianças de 5 anos para centros de treinamento, que promove o maior campeonato do mundo e que já usou o esporte para fazer diplomacia, todos sabiam que o campeão se tornaria herói de um povo apunhalado pela lesão de Liu Xiang no atletismo. E o que se seguiu foi uma batalha.
Os finalistas, velhos conhecidos. De azul, Ma Lin, 28, recrutado aos 6, nascido na capital chinesa, três vezes vice-campeão mundial e por isso apelidado de "rei sem coroa", estilo frio. De preto, Wang Hao, 24, recrutado aos 7 em Changchun, prata em 2004, topete pintado de vermelho, emotivo, explosivo, mais espetaculoso.
Companheiros de seleção, de treinos, de viagens, de dia-a-dia, Ma e Wang já haviam se enfrentado 18 vezes em grandes torneios internacionais, com 11 vitórias para o primeiro. O último triunfo, porém, era do segundo: em 2002, numa competição disputada na Holanda.
Mas nunca haviam jogado nada tão valioso e significativo, uma partida que incendiou um ginásio lotado por 7.557 pessoas. Que, duelo local, impediu que um dos dois usasse vermelho. Que, por dividirem o mesmo técnico, os privou de orientações à beira da área de jogo.
Que viu Ma vencedor, num 4 a 1 mais duro do que parece.
O primeiro game chegou a ficar empatado em 4 a 4, ponto comemorado por Wang com os punhos cerrados e um grito. Mas o rival, dono de uma mania de usar a raquete para se abanar entre um lance e outro, não se abalou. Fechou em 11 a 9.
No segundo, um replay. Wang vibrando, como no sexto ponto, quando fez o rival correr até os extremos da área. Ma se segurando e vencendo: 11 a 9.
O terceiro game, enfim, foi do caçula: 11 a 6, mais uma vez gritando muito, fazendo o adversário correr. E se abanar.
Ma se vingou com um 11 a 7 no quarto game, que exigiu reiterados pedidos do placar por silêncio para os saques.
O duelo chinês pelo ouro acabou numa devolução de Wang que morreu na rede: 11 a 9.
Só então Ma celebrou. Beijou a bandeirinha chinesa no uniforme, correu para o público, abraçou o emocionado técnico, pegou uma bandeira chinesa e deu uma volta olímpica. Foi o desfecho perfeito de um torneio em que o país ganhou todos os ouros disponíveis --e também celebrou com um pódio 100% no feminino.
"Foram tantos anos de prata no Mundial... Fui tão criticado... Mas sem a grande dor, ninguém valoriza o grande prazer", disse Ma, ainda na quadra.
Então vieram o pódio, as medalhas, as bandeiras e o hino.
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