Senna exigiu ser primeiro piloto por escrito na Lotus, mostra contrato de 1987
Em seu último ano na Lotus, antes de partir para a McLaren e ganhar seus três títulos na F-1, Ayrton Senna recebeu, em valor corrigido, 60% do salário atual de Felipe Massa na Ferrari.
Naquela temporada de 1987, exigiu garantia por escrito do status de primeiro piloto, com prioridade no uso de peças. Ganhou bônus por pontos, e a promessa de prêmio por título. Era desobrigado a fazer propaganda da marca de cigarro que patrocinava a equipe e proibido de praticar esportes radicais. Por questões fiscais, assegurou que mudaria da Inglaterra.
O contrato de Senna com a Lotus para as temporadas de 1987 e 1988 está disponível na Legacy Tobacco Documents Library, compêndio virtual sobre a indústria de cigarro mantido pela Universidade da Califórnia, nos EUA.
À época, a Lotus tinha uma forte parceria com a R.J. Reynolds, que estampava a marca Camel nos seus carros.
São 19 páginas, sete de apêndices. Hoje, os contratos dos pilotos de F-1 contam com centenas de páginas.
Senna era um piloto promissor. Mas estava longe da consagração. Tinha quatro vitórias --somou 41 antes de morrer, em 1994. Após estrear na Toleman, em 1984, foi para a Lotus no ano seguinte.
O documento revela que a empresa dele tinha base num paraíso fiscal. O contrato é todo feito em nome da Ayrton Senna Promotions Limited, de Nassau, nas Bahamas.
Tinha validade por dois anos e estipulava data-limite para rescisão, partindo de qualquer lado, sem exercício de preferência ou pagamento de multas: 8 de agosto de 1987. Senna usou este direito e negociou com a McLaren. Em 4 de setembro, anunciou a transferência. Em 1988, levou seu primeiro título.
O salário mostra como a F-1 mudou em 25 anos. Senna recebeu US$ 1,5 milhão da Lotus em 1987. Em valores corrigidos, US$ 4,7 milhões atuais, ou R$ 10,7 milhões.
Segundo a revista "F-1 Business", o salário de Massa é de R$ 17,6 milhões. Fernando Alonso e Lewis Hamilton, os mais bem pagos, recebem cerca de R$ 59 milhões.
Caso fosse campeão, receberia bônus equivalente a 16% do salário. Prêmios pagos por promotores de corridas eram divididos com a equipe e com os mecânicos. E cada ponto no Mundial valeu um extra de US$ 4.000 --ele conquistou 57 e ficou em terceiro naquele Mundial.
A equipe ainda lhe fez um seguro de vida que hoje equivaleria a R$ 405 mil.
Há várias outras curiosidades. Os troféus, por exemplo, eram divididos entre ele e a equipe, mas era a Lotus tinha preferência na escolha. Ele não podia praticar esqui, pilotar moto ou voar de asa-delta. Tinha direito a áreas no macacão e no capacete.
O boné do banco Nacional, porém, estava vetado: a equipe exigiu este direito em 1987 e vendeu o espaço para a petroleira francesa Elf.
E, talvez, o mais importante: as garantias de fornecimento de motores Honda e de que ele receberia tratamento preferencial. Na cláusula 4.3, a Lotus assegura que Senna "será o de número 1, com todas as prioridades na alocação de equipamentos".
Pobre Satoru Nakajima.
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