Após defender lei antigay na Rússia, Isinbaieva diz que foi mal-interpretada
A russa Ielena Isinbaieva, tricampeã mundial do salto com vara na última quarta-feira em Moscou, voltou atrás da declaração dada na quinta-feira a favor da lei antigay aprovada em seu país. A atleta disse ter sido mal-interpretada.
"O que eu quis dizer é que as pessoas deveriam respeitar as leis de outros países, particularmente quando são convidadas. Mas quero deixar claro que respeito as opiniões dos meus colegas atletas, e quero declarar nos termos mais fortes que sou contra qualquer discriminação contra os gays em decorrência da sua sexualidade"
"O inglês não é minha primeira língua, e acho que posso ter sido mal-entendida quando falei ontem", disse a russa.
Aprovada pelo presidente russo Vladimir Putin em junho, a lei proíbe a apologia a manifestações homossexuais e fez com que vários países cogitassem boicotar os Jogos de Inverno de Sochi, no próximo ano.
Em entrevista concedida na quinta-feira, a atleta bicampeã olímpica defendeu a lei aprovada em seu país. "Se deixarmos que essas coisas sejam promovidas nas ruas, tememos por nosso país porque nos consideramos normais, pessoas comuns", afirmou.
"Nós só vivemos com homens e mulheres, mulheres com homens. Nós nunca tivemos problemas na Rússia e não queremos ter no futuro."
A declaração gerou clamores para que Isinbaieva renuncie ao seu cargo de embaixadora da juventude olímpica.
O corredor americano Nick Symmonds se disse chocado com as declarações da colega, e comentou que poderia ser preso só por usar uma peça de roupa com as cores do arco-íris, um símbolo do movimento GLBT.
"Fico perplexo de que uma mulher jovem, tão bem educada, possa estar tão atrasada", disse Symmonds a uma rádio britânica.
"Quer saber, Ielena, uma grande parcela da sua cidadania é composta por homossexuais comuns e correntes."
O atleta dedicou sua medalha de prata conquistada na terça-feira durante a prova dos 800 m aos seus amigos homossexuais.
ARCO-ÍRIS
As declarações de Isinbaieva ocorreram depois que pelo menos duas atletas da Suécia competiram com as unhas pintadas com arco-íris no Luzhniki Stadium, onde acontece o Mundial de atletismo.
Emma Green Tregaro, medalha de bronze no salto em altura no Mundial de 2005, postou uma foto de suas unhas no Instagram, dizendo que estavam pintadas com as cores do arco-íris e incluiu as "hashtags" "orgulho" e "Moscou-13".
"A primeira coisa que me aconteceu quando cheguei a Moscou foi abrir as cortinas do meu quarto e vi um arco-íris, o que foi um pouco irônico", afirmou Emma em um vídeo colocado no site do jornal sueco "Expressen".
"Aí recebi a sugestão de uma amiga no Instagram de que eu deveria pintar minhas unhas com as cores do arco-íris e me pareceu uma coisa simples que podia desencadear algumas reflexões."
A outra atleta a pintar as unhas foi a velocista sueca Moa Hjelmer, que disputou as baterias dos 200 m.
Segundo a Iaaf, a federação internacional de atletismo, as duas opiniões devem ser respeitadas. Em seu regulamento, a entidade defende que não deve haver nenhum tipo de discriminação religiosa, política ou de orientação sexual entre os atletas.
"O que elas fizeram é desrespeitoso com nosso país. É desrespeitoso com nossos cidadãos porque somos russos. Talvez a gente seja diferente dos europeus e de outras nacionalidades", disse Isinbaieva.
"Temos nossa casa e todos devem respeitá-la. Quando vamos a outros países, tentamos seguir suas regras", completou a saltadora.
Reprodução/Instagram | ||
A sueca Emma Green Tregaro exibe as unhas pintadas com as cores do arco-íris |
TEXTO VETA APOIO A RELACIONAMENTO 'NÃO-TRADICIONAL'
Aprovada pelo presidente Vladimir Putin em 29 de julho, a lei antigay russa tem causado controvérsia no mundo todo e preocupado atletas e cartolas.
A Rússia abrigará os Jogos de Inverno em Sochi-2014 e a Copa-2018.
Tanto o Comitê Olímpico Internacional como a Fifa já pediram explicações ao governo russo sobre o texto. E exigiram que ele se responsabilize pela segurança dos competidores e torcedores dos eventos.
O presidente dos EUA, Barack Obama, também criticou a lei.
De acordo com políticos russos, a lei não proíbe o homossexualismo, apenas desencoraja sua discussão por menores de 18 anos.
No texto original, ela criminaliza "a expressão pública de apoio a formas não-tradicionais de relacionamentos". Segundo Ielena Mizulina, uma das autoras da lei, esses relacionamentos são entre "homens e homens, mulheres e mulheres, bissexuais e transsexuais".
As punições a quem desrespeitar a lei vão de cerca de R$348, para indivíduos, até R$ 70 mil, para organizações e órgãos de imprensa. Estrangeiros podem ser multados, presos ou proibidos de voltar à Rússia.
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