'Eu presenciei oferta de suborno pelo Qatar', afirma ex-dirigente
Reprodução/Sky Sports | ||
Phaedra Al-Majid, ex-dirigente do comitê do Qatar para a Copa |
Ex-dirigente do comitê da candidatura do Qatar à Copa de 2022, a árabe-americana Phaedra Al-Majid afirma que testemunhou a oferta de dinheiro para membros da Fifa, além de lobby e acordos para influenciar a escolha da sede do mundial.
Phaedra foi uma das principais testemunhas da investigação do ex-promotor americano Michael Garcia, designado pelo comitê de ética da Fifa para apurar denúncias de corrupção no processo que levou, em 2010, à vitória do país árabe contra outros concorrentes, entre eles os EUA.
Editoria de Arte/Folhapress |
Em entrevista à Folha, Phaedra deu mais detalhes das denúncias, que têm sido negadas pelas autoridades do Qatar. A mais grave é a oferta, segundo ela, de dinheiro por parte do Qatar para obter votos dentro da Fifa.
"Eu presenciei em Angola a oferta de US$ 1,5 milhão a três africanos do comitê executivo da Fifa em trocar de votarem pela candidatura do Qatar", afirma.
Ex-diretora de comunicação internacional do comitê, ela alega sofrer ameaça e intimidação dos cartolas desde que deixou o cargo em 2010.
"Fui demitida porque eles me culpavam por qualquer coisa que saía na mídia contra a candidatura. O que eles não entendiam –e talvez agora entendam– é que podem controlar a imprensa árabe, mas não a mídia internacional", diz Phaedra. Para ela, o processo de escolhas na Fifa é "extremamente obscuro".
Nas últimas duas semanas, Phaedra foi manchete das páginas dos jornais e dos canais de televisão europeus como pivô da crise entre o ex-promotor Michael Garcia e o presidente do comitê de ética da Fifa, o juiz alemão Hans-Joachim Eckert.
Em um relatório de 42 páginas, Eckert descartou a anulação da escolha do Qatar por considerar limitada a investigação, inclusive as informações de Phaedra, que veio a público logo depois para protestar contra a exposição de seu testemunho.
O documento de Eckert serviu para a Fifa anunciar que a sede da Copa de 2022 será mantida no Qatar, assim como a de 2018 na Rússia, também sob investigação.
Michael Garcia repudiou o relatório de Eckert por ignorar, segundo ele, indícios graves apontados na sua conclusão de 350 páginas mantida em sigilo pela Fifa.
VOTOS POR DINHEIRO
Na entrevista à Folha, a primeira dela a um veículo brasileiro, Phaedra contradiz a Fifa e o Qatar em relação ao envolvimento do dirigente qatariano Mohamed bin Hammam no processo.
Ele é suspeito de ter distribuído dinheiro para obter votos para o país como sede da Copa do Mundo quando ocupava o cargo de vice-presidente da Fifa.
A Fifa e os árabes alegam que Hammam, banido do futebol, agiu por conta própria e pagou suborno em razão de outros interesses, até porque não teria um posto oficial no comitê de candidatura.
A versão de Phaedra Al-Majid é outra: "Eu era testemunha: o Hammam foi parte integral do processo do Qatar. Era o nosso lobista-chave na candidatura".
Ela diz que não presenciou evidências que comprometeriam cartolas sul-americanos, entre eles o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, que na época da escolha da sede da Copa era membro do comitê executivo da Fifa.
Em 2011, Phaedra chegou a enviar um e-mail com as denúncias à Fifa, mas se retratou depois. Ela alega hoje que foi obrigada a recuar na época diante da ameaça de sofrer processo milionário por parte do Qatar sob o argumento de quebra de confidencialidade do seu trabalho.
"No entanto, eu trabalhei para a candidatura porque acreditava que um país árabe deveria ter a chance de receber uma Copa do Mundo em 2022 ou depois disso."
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