Centro olímpico do Espírito Santo vive caos a 1 ano da Rio-2016
Gabriel Lordello/Folhapress | ||
Centro Olímpico do Espírito Santo onde ainda estão em obras. |
Faltando pouco mais de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, algumas das modalidades esportivas com maior potencial para conquistar medalhas estão sofrendo um "apagão" logístico e financeiro.
No Centro Olímpico do Espírito Santo (Coes), em Vitória, a falta de equipamentos e de infraestrutura e salários atrasados podem comprometer as chances de atletas de ponta, como o atual campeão brasileiro de taekwondo, Charlles Maioli.
"Estamos jogados às traças aqui. Justamente em um ano decisivo, com os Jogos Panamericanos e o Pré-Olímpico, estamos sem estrutura para treinar", diz Maioli, campeão na categoria até 68 kg.
O treinador dele, Leni Junior, conta que não há preparador físico, médico nem nutricionista para acompanhar o atleta. "Por isso, o Charles não consegue cumprir todo o ciclo de treinos necessário a um atleta olímpico", afirma.
O centro é uma unidade da Rede Nacional de Treinamento do Ministério do Esporte, inaugurado em abril de 2013, que visa capacitar profissionais e atletas nas modalidades olímpicas, desde a base até o alto rendimento.
A estrutura deveria receber atletas de nove modalidades esportivas, de badminton a natação e vôlei de praia.
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Centro Olímpico do Espírito Santo onde ainda estão em obras |
Hoje, 290 atletas estão vinculados ao Coes, entre eles a campeã brasileira de ginástica rítmica adulta, Natalia Gaudio, Charles Maioli e a dupla do vôlei de praia Alison e Bruno Schmidt.
O centro é mantido com recursos federais, repassados por meio de convênio para o governo estadual, que contratou uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para gerenciar o projeto.
Apesar de ter dinheiro em caixa, o Estado deixou de repassar a verba à Oscip Ideas –que suspendeu o pagamento dos salários há três meses.
"Eu ganho R$ 4.500 por mês. Não é um salário ruim para um técnico, mas também não é nenhuma fortuna. Precisamos sobreviver e já recorri a parentes e até a agiotas", diz a técnica de ginástica rítmica Monika Queiroz.
Além dos salários atrasados, atletas e treinadores sofrem com a falta de infraestrutura. O projeto previa a construção de um ginásio de ginástica, um de lutas e outro de handebol e quadras de vôlei de praia, entre outros, mas até agora só foram entregues as arenas de ginástica e lutas. O resto está em obras.
No departamento médico, os atendimentos com fisioterapeutas, massoterapeutas, nutricionista, psicólogo e assistente social foram suspensos. "Como prosseguir com um projeto olímpico sem o apoio desses profissionais?", questiona Monika. Só uma fisioterapeuta segue atendendo atletas da ginástica.
O técnico de ginástica artística Wilson Pinheiro de Carvalho Filho, o Brutus, 51, diz que os R$ 12 milhões prometidos pelo governo federal para o projeto foram liberados. "O dinheiro está na conta do governo e nós estamos passando dificuldades", relata o treinador. "Estou vivendo da ajuda do meu sogro."
A mulher de Brutus, Cláudia Júdice, também é treinadora de ginástica artística e não recebe há três meses. "Tenho um filho de três meses e estamos os dois sem salário. É constrangedor", diz.
Em ofício de 20 de março, o secretário estadual de Esportes e Lazer, Valdir Klug, diz ao Ministério do Esporte que "não será necessário o repasse integral" de pouco mais de R$ 6,3 milhões do convênio. Segundo a pasta, houve atraso no projeto e falta de prestação de contas.
OUTRO LADO
A Secretaria Estadual de Esportes e Lazer do Espírito Santo disse, por meio de nota, que a parcela do convênio com o Ministério do Esporte será liberada após a realização de prestação de contas.
"Por isso, estamos impossibilitados de realizar o repasse para o Instituto de Desenvolvimento do Esporte e Ação Social (Ideas), que é responsável por realizar o pagamento dos funcionários."
A nota diz ainda que, devido a atrasos no início do projeto por causa dos trâmites para a licitação, não será necessário receber do governo federal a segunda parcela.
Segundo Renato Martinho, assessor de marketing da Ideas, a prioridade da Oscip é "pagar todo mundo", mas é necessário que os envolvidos, em especial o governo, "busquem equacionar as não conformidades do convênio" para dar continuidade ao projeto. Nem a secretaria nem a Oscip informam, no entanto, quais são as irregularidades.
O Ministério do Esporte não atendeu a reportagem.
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