Risco a medalhista olímpica faz jogadoras do vôlei protestarem
As jogadoras da seleção brasileira de vôlei, bicampeã olímpica, se uniram por uma causa: acabar com o ranking que limita a participação delas nos times da Superliga.
O gatilho para que ao menos uma dezena de atletas publicassem textos nas redes sociais com sua "indignação" e "raiva" contra a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) nesta sexta (23) é a possibilidade de a oposta Elisângela, 36, não disputar a competição que terá início na segunda semana de novembro.
Elisângela foi campeã do Pan de Winnipeg-1999, ganhou a medalha de bronze na Olimpíada de Sydney-2000, defendeu a seleção em Atenas-2004 e é a maior pontuadora da Superliga, a única com mais de 4 mil pontos.
Mesmo assim, não deve jogar a próxima edição, na qual ela gostaria de se aposentar.
João Pires/Fotojump | ||
A oposta Elisângela comemora ponto pelo time de Osasco |
A barreira para Elisângela é o ranking da CBV, criado em 1992 para equilibrar os times.
Nele, em votação, os clubes atribuem pontuação de zero a sete para cada atleta. Na Superliga, cada time pode ter até duas atletas com sete pontos e a soma geral não pode ultrapassar 43.
Elisângela foi etiquetada com três pontos, mas dois são descontados devido à idade. Ela faz 37 anos na sexta (30).
Como atleta de um ponto, assinou contrato com Osasco para jogar o Paulista, que não tem ranking. A final do campeonato é no domingo (25), entre Osasco e Sesi. Depois, a jogadora –terceira opção na posição– não sabe se fica no time, pois o elenco já atingiu a soma de 43 pontos.
"Acho que não vão resolver meu caso. Mas que seja o início do fim desse ranking que hoje já não funciona", afirma Elisângela à Folha.
Nos últimos 13 anos, só dois times, Rio e Osasco, foram campeões da Superliga.
A medalhista olímpica procurou a CBV "informalmente", segundo a própria entidade. Diretor de competições, o ex-técnico Radamés Lattari a orientou a pedir aos clubes autorização para que sua pontuação fosse zerada.
Dos 12 clubes, apenas três foram contra Elisângela: Sesi, Pinheiros e Praia Clube. A atleta encaminhou as respostas à CBV, que nada fez.
Esse posicionamento, que pode fazer com que Elisângela se aposente neste domingo —não quer jogar fora do país em razão do filho de 10 anos— foi o estopim do protesto das atletas da seleção.
"Faz tempo que queremos mais voz. A CBV deveria se impor, se posicionar do lado das atletas, as prejudicadas pelo ranking", afirma Thaisa, do Osasco e da seleção.
A central, de sete pontos, diz que o ranking é um "jogo de xadrez" entre as equipes, que tentam prejudicar umas às outras na votação.
"O ranking não está equilibrando nada, está tirando as jogadoras do Brasil", analisa a líbero Camila Brait, que lista companheiras que poderiam jogar no país, como Sheilla, Fê Garay e Fabíola.
"É pelo nosso futuro. Sem ranking, a Superliga seria melhor, ajudaria a seleção", conclui a levantadora Dani Lins.
Reprodução/Instagram | ||
Jogadoras da seleção brasileira de vôlei fazem protesto no Instagram |
OUTRO LADO
"O ranking é estabelecido pelos clubes e a CBV acata". Essa foi a resposta da Confederação Brasileira de Vôlei à respeito do pedido de mudança feito por Elisângela e negado por três das 12 equipes.
Isso porque as jogadoras da seleção brasileira de vôlei, bicampeã olímpica, se uniram por uma causa: acabar com o ranking que limita a participação delas nos times da Superliga.
Perguntado sobre o motivo do veto, o Pinheiros diz que vai "fazer valer o regulamento".
Já o Praia Clube diz que, em abril, foi o único a votar a favor da redução dos pontos das atletas mais experientes. Voto vencido, agora o clube diz que considera "injusto beneficiar apenas uma jogadora e não a coletividade".
O Sesi não respondeu à Folha até o encerramento desta edição, assim como não explicou à Elisângela o motivo do veto, segundo a atleta.
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