Clubes denunciam máfia de resultados em divisões inferiores do Paulista
Johnny Torres - 11.fev.2016/Diário da Região | ||
Lance de Rio Preto (de branco) e Barueri, cujos atletas receberam oferta de suborno para perder |
Se você é dirigente de um time pequeno do interior paulista saiba que há grande chance de receber um telefonema de um investidor. Mas não é para reforçar sua equipe.
Desde meados de 2015, ao menos cinco clubes de divisões inferiores do Campeonato Paulista foram procurados para que aceitassem placares pré-definidos em troca de dinheiro.
As informações levantadas pela Folha indicam a existência de uma ação consistente em busca da manipulação de resultados do futebol.
Os cinco clubes receberam ofertas para que suas equipes perdessem jogos, o que favoreceria apostadores ao redor do mundo. Todos, contudo, negam ter aceitado o suborno.
O TJD-SP (Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo) apura dois casos após denúncias feitas por dirigente do América de São José Rio Preto e por jogadores do Grêmio Barueri. Com base em outros depoimentos, o Sindicato dos Atletas de São Paulo acionou a Polícia Federal e a Interpol, que ainda não responderam se investigarão as denúncias.
A reportagem também ouviu relatos de cartolas de outros dois times sobre proposta para entregar o jogo: do EC São José, de São José dos Campos, e do Grêmio Catanduvense, de Catanduva, que disputam a terceira divisão.
A Assisense, de Assis (quarta divisão), também recebeu oferta similar em 2015.
A Federação Paulista de Futebol (FPF) informou que encaminhará ao Ministério Público e à Justiça Desportiva todas as denúncias que vier a receber. Diz ainda que contratou empresa especializada em monitorar manipulação de resultados.
OPERAÇÃO 4 A 0
Catanduvense e São José foram procurados por um homem que dizia representar apostadores online —não está claro se é a mesma pessoa.
A proposta foi de R$ 50 mil para que os times perdessem, respectivamente, para o Comercial, de Ribeirão Preto, e para o Atibaia, pela terceira divisão paulista de 2016.
"A pessoa começou falando que sabia que precisávamos de dinheiro e ofereceu para perdermos. Insistiu em duas oportunidades e disse que ia entregar a mala com o dinheiro após o jogo", contou o presidente do Catanduva, Reginaldo Borges, 41.
De acordo com ele, a proposta era para o clube perder por 4 a 0 —o jogo terminou 2 a 2, em 6 de fevereiro.
Borges afirmou que não fez a denúncia por falta de tempo. "Estou disposto a contribuir [com a investigação]. Tenho gravação no WhatsApp."
Procurar gestores de clubes em dificuldade financeira e oferecer dinheiro para derrotas por 4 a 0 são ações que integram o "modus operandi" do esquema.
Na semana passada, o jornal "Diário de S. Paulo" revelou que dois jogadores do Barueri relataram que a equipe recebeu proposta para perder para o Rio Preto por 4 a 0, também pela terceira divisão.
De acordo com os atletas do Barueri, a oferta foi levada ao elenco pelo empresário Jaci Martinho de Oliveira, ex-gestor do clube, e por outras duas pessoas. O jogo estava 3 a 0 até os 37 minutos do segundo tempo, quando o atacante Gustavo, filho de Jaci, cometeu pênalti que resultou no quarto gol do rival.
Procurado, Jaci não quis comentar a acusação. Matheus Soares dos Reis, sócio dele, diz que, de fato, houve a proposta, mas nega que os jogadores tenham aceitado.
Já Gilmar de Souza, gestor do São José, afirmou ter recebido ligação de um número não identificado às vésperas do jogo contra o Atibaia, em 17 de fevereiro.
"O time tem risco de queda, há a cobrança de torcida. Minha vontade era dar pancada nesse cidadão. Essa situação é ridícula e precisa ser investigada", afirma ele, cujo time perdeu por 3 a 0.
Segundo ele, a proposta também foi de R$ 50 mil.
O América de Rio Preto, da quarta divisão, recebeu uma proposta para perder para o Vocem de Assis, em julho de 2015. Neste caso, o resultado proposto ao time não foi revelado. O time foi derrotado por 4 a 1.
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