De título suspeito a exemplo de gestão; veja a ascensão do rival do São Paulo
Divulgação Atlético Nacional | ||
Jogadores do Atlético Nacional treinam no centro de treinamento do Palmeiras |
Quando o Atlético Nacional (COL), rival do São Paulo na semifinal da Libertadores nesta quarta (6), venceu a competição continental em 1989, o narcotráfico na cidade de Medellín, comandado por Pablo Escobar vivia anos dourados.
E a suspeita de que o mais famoso narcotraficante da história poderia ter ajudado o time da cidade, mesmo sendo o rival de seu time de coração, Independiente Medellín (COL), sempre colocou uma sombra sobre o título do time colombiano.
Naquela campanha, houve um episódio, no mínimo suspeito. Nas semifinais, o Atlético Nacional goleou o Danúbio (URU), por 6 a 0, na Colômbia. Alguns anos mais tarde, um dos assistentes argentinos revelaria à imprensa de seu país que Escobar havia tentado comprar o trio de arbitragem sob a famosa ameaça "plata o plomo" (grana ou chumbo, em espanhol).
Juan Bava contou que, em Medellín, a equipe de arbitragem foi surpreendida por capangas que avisaram: ou aceitavam dinheiro para não prejudicar o time colombiano ou poderiam não voltar com vida para a Argentina.
"Estamos no hotel. Partem no meio a porta três ou quatro capangas e dizem: 'aqui está o dinheiro'. O Nacional tem que ganhar. E eles pra cima e pra baixo com uma metralhadora, e eu encolhido num cantinho. E nós pedimos para eles levarem a mala", contou Bava.
A ajuda de Escobar não é comprovada, mas sua amizade com jogadores daquela equipe, com direito a visitas à famosa "prisão de luxo", La Catedral, onde Escobar ficou preso, já foi amplamente divulgada. As torcidas adversárias têm até uma música para lembrar a suspeita, chamada "Pablito te la compró".
Independentemente da ajuda, o fato é que os anos de glória de Pablo Escobar foram acompanhados pelo time alviverde. Além do primeiro título de um time colombiano na Libertadores, em 1989, o Atlético Nacional também foi campeão colombiano em 1991.
Em 1994, um ano após a morte do narcotraficante, o time voltaria a ser campeão, mas como o próprio site do clube lembra, a equipe "já não tinha a constelação de estrelas de anos anteriores. O grupo havia perdido em quantidade e qualidade e não despertava favoritismo".
Apenas cinco anos mais tarde, o Atlético Nacional voltaria a ser campeão do país, mas a gestão do clube já estaria completamente modificada.
El Tiempo/Folhapress | ||
Pablo Escobar acompanha partida em Medellin acompanhado de sua mulher e seu filho |
GESTÃO EMPRESARIAL
"Chegou no Nacional a Organização Ardilla Lülle (OAL), que é um dos grupos econômicos mais importantes do país, senão o mais. E eles compraram o Nacional", explicou o ex-jogador, ex-presidente e agora gerente de planejamento e desenvolvimento do clube, Víctor Marulanda.
A OAL é um conglomerado empresarial comandado pelo bilionário Carlos Ardila Lülle, listado na Forbes como a 1.121ª pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio avaliado em US$ 1,97 bilhões (R$ 6,5 bilhões). O grupo conta com empresas de automóveis, agronegócio, diversos veículos de imprensa e a fabricante de refrigerantes Postobón, que patrocina a equipe. Desde 1996, o grupo também é dono do Atlético Nacional.
"Durante os primeiros anos, o que fizeram foi transformar o Nacional em uma empresa, com políticas e boas práticas institucionais como as de qualquer empresa exitosa. Transformaram o Nacional em uma verdadeira empresa", conta Marulanda.
A aposta parece ter dado certo. O time de Medellín tornou-se o maior campeão nacional com 15 títulos —nove deles a partir de 1996.
Victor Aristizábal, maior artilheiro da história do time, e que também teve passagem pelo São Paulo, de 1996 a 1998, também se admira com a gestão do time.
"Os caras que chegaram na nova diretoria têm como levar o time a títulos. São muito organizados. Pagam em dia, dão suporte", afirma o ex-jogador que agora é comentarista na televisão.
Marulanda conta que o time é atualmente o mais rico da Colômbia, com faturamento de US$ 25 milhões (R$ 82,2 mi) e que tem um planejamento a longo prazo que é exemplo para as outras equipes.
"Estamos trabalhando nos últimos anos com o manejo de um modelo de jogo que funcione para todo o clube, mas representando uma história, para que a torcida se sinta identificada com o produto. Os técnicos têm que ter um perfil determinado e os jogadores também", afirmou o dirigente.
O perfil dos técnicos é geralmente moderno e ofensivo. Nos anos vitoriosos geridos pela OAL, o principal nome no comando da equipe foi o de um velho conhecido da torcida são paulina: Juan Carlos Osorio.
Raul Arboleda - 14.mai.15/AFP | ||
Juan Carlos Osorio comanda o Atlético Nacional na beira do campo |
O colombiano ficou no Atlético Nacional de 2012 a 2015 e conquistou seis títulos nacionais no período. O desempenho chamou a atenção do São Paulo, que o contratou em maio do ano passado.
Osorio ficou pouco tempo na equipe —deixou o clube em outubro para treinar a seleção mexicana, mas o estilo ousado conquistou a torcida são paulina.
O atual treinador do time é Reinaldo Rueda, que também é reconhecido pelo estilo agressivo. No Morumbi, nesta quarta, deve colocar três atacantes para buscar o gol fora de casa.
"O ataque é muito agressivo. É muito rápido. Se [o São Paulo] der a possibilidade de contra-ataque no Morumbi, vai tomar gol", afirma Aristizábal.
CONTROVÉRSIA
O comando do clube por um conglomerado com veículos de mídia é ponto de controvérsia na Colômbia.
Em janeiro deste ano, o técnico do Deportivo Cali (COL), Fernando 'Pecoso' Castro, disparou contra o Atlético Nacional em um programa de rádio.
"De quem é a Win Sports? De quem é a RCN? De quem é o Atlético Nacional? Temos que dizer a verdade. Ali ninguém vai falar mal do Nacional", afirmou Castro. "Eles são o primeiro time da Colômbia a ter um canal
próprio", completou.
A Win Sports e a RCN tem os direitos de transmissão da liga colombiana e pertencem à OAL.
Outro ponto de controvérsia é o fato da Postobón ser parte do conglomerado, patrocinadora da liga colombiana, chamada Liga Postobón, e também do Atlético Nacional, o que poderia causar conflito de interesses.
Luis Acosta/AFP | ||
Torcedores do Atlético Nacional fazem festa no estádio Atanasio Girardot, em Medelín |
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SÃO PAULO
Denis; Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Mena; Hudson (Thiago Mendes), João Schmidt), Thiago Mendes (Wesley ou Carlinhos), Ytalo e Michel Bastos; Calleri. Técnico: Bauza
ATLÉTICO NACIONAL
Armani; Sánchez (Perez), Henríquez, Mejía e Bocanegra; M.Torres, Guerra, Farid, Ibarguen (Lobo), M.Moreno (Dajome) e Borja. Técnico: Reinaldo Rueda
Estádio: Morumbi
Árbitro: Mauro Vigliano (ARG)
TV: 21h45 (Globo (para SP e DF), Fox Sports e SporTV
Livraria da Folha
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