Jogadores uruguaios fazem levante contra parceiro da federação local

Crédito: Miguel Rojo/AFP Uruguay's national team footballers jog during a training session, ahead of their FIFA World Cup South American qualifier football match against Brazil, at the Complejo Celeste training center in Montevideo, on March 20, 2017. Uruguayan national team footballer Diego Godin (C) and / AFP PHOTO / MIGUEL ROJO ORG XMIT: 975
Jogadores da seleção uruguaia treinam antes de jogo contra o Brasil

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Às vésperas doconfronto com o Brasil, os jogadores da seleção uruguaia vivem em confronto com a principal parceira comercial da federação local. Desde segunda-feira (20), os comandados de Oscar Tabárez boicotam a Tenfield, empresa que controla os direitos das principais competições do país até 2024.

A empresa também foi a detentora dos contratos de imagem da seleção por quase 20 anos, mas esse acordo encerrou em dezembro após pressão dos atletas. Foi um reflexo do escândalo de corrupção envolvendo dirigentes e empresários presos pelo FBI em 2015.

Criada pelo empresário Francisco Casal, que nasceu em São Paulo, a Tenfield é parceira da federação desde 1998. O conglomerado é acusado pelos atletas de ter conseguido tanto poder com a ajuda de Eugenio Figueredo, ex-presidente da federação local e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Cartola que delatou Ricardo Teixeira vive preso no Uruguai.

Os negócios de Figueredo com a Tenfield são alvo de investigação no país. Os dados são mantidos em sigilo pelas autoridades do Uruguai.

A ofensiva dos jogadores às vésperas da partida contra a seleção brasileira é mais um capítulo da relação conflituosa entre os atletas e os executivos da empresa.

Nos treinos desta semana no Uruguai, os jogadores se recusam a dar entrevista para os profissionais da Tenfield, que também administra a principal emissora de esporte em rede fechada. O canal transmite as partidas da equipe nacional.

Crédito: Miguel Rojo/AFP Uruguayan footballers Diego Godin (R) and Carlos Sanchez take part in a training session, ahead of their FIFA World Cup South American qualifier football match against Brazil, at the Complejo Celeste training center in Montevideo, on March 20, 2017. / AFP PHOTO / MIGUEL ROJO ORG XMIT: 972
Godin durante treino da seleção uruguaia em Montevidéu

Em meio à disputa entre atletas e empresa, a federação local perdeu todos os contratos de patrocínios. Eles venceram no final do ano e não foram renovados ate agora. Os jogadores querem participar da negociação.

O boicote atual também é uma tentativa das principais estrelas do futebol do país para dar força ao movimento dos jogadores locais chamado "Más Unidos Que Nunca" (mais unidos do que nunca).

Eles acusam a Tenfield de pagar pouco pelos direitos de transmissão dos torneios do país. No início do ano, representantes da Turner e da Fox ofereceram quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 310 milhões) por ano pela competição. A empresa de Casal paga cerca de US$ 9 milhões (R$ 28 milhões) por temporada.

"Todos estamos juntos [no movimento dos jogadores locais]. Apesar de morarmos no exterior, temos a responsabilidade de fazer algo para o nosso futebol", afirmou o capitão da equipe nacional, o zagueiro Diego Godín.

No ano passado, descontentes com os direitos de imagem pagos aos jogadores da seleção, atletas chegaram a apresentar uma proposta da Nike para substituir a marca que veste a equipe uruguaia.

A norte-americana ofereceu aos executivos da federação local US$ 24 milhões (cerca de R$ 72 milhões) por sete anos de contrato. Parceira desde 2007, a Puma já tinha anunciado um proposta de US$ 5 milhões (R$ 15 milhões) pelo mesmo período.

A empresa alemã se beneficiou de uma cláusula de contrato que havia entre a Tenfield -intermediária no negócio- e a federação. Pelo acordo, ela tinha sempre a prioridade de manter o acordo com a entidade, desde que igualasse a oferta de uma rival.

Em outubro, a Puma bancou a oferta da Nike e manteve o patrocínio do time uruguaio. Nesta quinta, os jogadores vão estrear o novo uniforme desenhado pela fabricante alemã.

Ao ser questionado sobre até quando os atletas vão boicotar a Tenfield, Godín foi seco. "Até um novo aviso", respondeu, deixando claro que a trégua não virá tão cedo.

A empresa e a federação preferiram não comentar o caso. Em outubro, quando os atletas questionaram a legitimidade da empresa, a Telfield informou em nota que trabalha "com a mais absoluta boa fé". Na época ela divulgou que a atitude dos jogadores é uma "intromissão ilegítima" nas relações contratuais com a entidade que gere o futebol do Uruguai.

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