PAULO VINÍCIUS COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

A escalação de Tite contra o Uruguai tinha seis jogadores diferentes da última derrota de Dunga, para o Peru, na Copa América de 2016. Em junho do ano passado, em Boston, não estavam Marcelo, Marquinhos, Casemiro, Paulinho, Firmino e Neymar.

Não era pela ausência de Neymar que o time não ia bem há um ano. Até porque com ele em campo e Dunga no banco não passou de um empate por 2 a 2 com o Uruguai, no Recife, em março de 2016.

As diferenças são notáveis desde a chegada de Tite. As relações dentro do grupo melhoraram. A qualidade dos treinos e o gosto dos jogadores com o trabalho também.

O Brasil tem hoje a maior série invicta entre as campeãs mundiais. Não perde há oito jogos, a Alemanha há sete.

A sequência de vitórias dá a noção de que o time está pronto. "Não está pronto. Contra o Paraguai, podemos enfrentar um adversário que marque na defesa. Vamos ter de rodar a bola, ter posse, vai ser diferente", diz Tite.

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A principal razão de haver ainda muito trabalho pela frente é o fato de o Brasil ter desperdiçado dois anos. Em vez de contratar Tite logo depois do 7 a 1, a CBF deixou Dunga por 26 jogos.

Desde a mudança de treinador, a seleção só enfrentou rivais sul-americanos. Tite pediu o amistoso contra a Alemanha, em março de 2018, para corrigir isso. Também enfrentará a Austrália, invicta há seis partidas.

Se tivesse assumido logo depois do fiasco da Copa, Tite teria chance de enfrentar Japão, Turquia, Áustria, França, México, Honduras, Estados Unidos e Costa Rica. Todos derrotados na era Dunga.

É o contraponto. Se Tite não enfrentou europeus, o Brasil só perdeu para sul-americanos depois da Copa de 2014. Foram três derrotas, para Colômbia, Chile e Peru.

Depois do título mundial, a Alemanha disputou 32 jogos e perdeu oito. Em três anos, estrearam 15 novos jogadores. O Brasil, 25.

Jogador não falta. Mas o diagnóstico há sete meses era de que a geração não era boa e só Neymar desequilibrava.

Ele continua sendo o melhor jogador da equipe, artilheiro e líder de assistências da era Tite, participou de dez dos 23 gols, 43%. Com Dunga, a dependência era de 31% -11 gols e 5 passes.

Um grande time sempre vai depender de seu melhor jogador. O Barcelona depende de Messi, o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e o Brasil de Neymar.

Só que os resultados camuflam a dependência. Uma das coisas que ainda faltam à seleção é saber que a Copa só se ganha em junho de 2018.

Até lá, o time tem de continuar evoluindo, fazer testes, ter mais opções. Ganhar do Uruguai não encaminha a conquista do Mundial, assim como vencer a Espanha no Maracanã, em 2013, não impediu o desastre do Mineirão.

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