Racismo volta ao foco na Rússia após camaronês ser retratado com banana

FÁBIO ALEIXO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM MOSCOU

A pouco mais de duas semanas para o início da Copa das Confederações, o racismo voltou a estar em foco na Rússia. Tudo por causa de uma polêmica fantasia durante uma espécie de Carnaval realizado no último sábado, em Sochi, para celebrar a abertura da temporada de verão.

Durante o desfile pelas ruas da cidade que receberá quatro jogos do torneio, camaroneses foram retratados por russos pintados com a cara de preto, e um deles aparecia com um cacho de banana pendurado próximo ao pescoço.

A imagem foi flagrada pelo jornalista nigeriano Lolade Adewudi, que vive e estuda na cidade, e rapidamente se espalhou após publicação em redes sociais. Ele enviou uma carta de repúdio à administração de Sochi queixando-se da forma como os africanos foram representados.

"Pelo menos três integrantes do grupo de Camarões pintaram a cara com um preto que de nenhuma maneira representa a pele e a cor das belas pessoas do país. Para piorar tudo, um deles estava com bananas. Isso é o maior desrespeito com um país inteiro cuja seleção vocês receberão em Sochi nas próximas semanas", escreveu.

Camarões jogará na cidade no dia 25 de junho, na última rodada do Grupo B, contra a Alemanha. Caso passe à semifinal, poderá fazer mais um jogo no município que recebeu os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014.

A repercussão foi tão grande que a Fifa publicou um comunicado condenando o fato e afirmando que comportamentos como esse não serão aceitos durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo do próximo ano.

"Nós entendemos que um dos objetivos da parada em Sochi era celebrar os times da Copa das Confederações. Entretanto, as demonstrações foram inapropriadas. Pintar rostos de preto é algo considerado discriminatório e não será tolerado dentro dos estádios", reforçou a entidade.

A imagem negativa passada pelo Carnaval gerou imediata resposta do prefeito de Sochi, Anatoly Pakhomov. Em um comunicado de imprensa, ele tratou o episódio como um fato isolado. Na quarta-feira, recebeu o nigeriano que tornou a imagem popular no mundo e o presenteou com dois ingressos para a semifinal que ocorrerá na cidade.

"Participaram do Carnaval mais de 3 mil pessoas e peço desculpas por alguns não terem bom senso. Sinto muito por isso ter lhe causado raiva e o ofendido. Mas quero assegurar que foi um incidente isolado, que de nenhuma maneira caracteriza o lado multinacional e multicultural de Sochi. Nossa população sempre se diferenciou pela tolerância e hospitalidade", afirmou o prefeito.

O racismo sempre foi tido como um problema no futebol local, tanto que a União Russa de Futebol criou o cargo de inspetor contra a discriminação. O ex-jogador Alexey Smertin foi nomeado para o cargo.

"A posição da Rússia é de tolerância zero contra qualquer tipo de discriminação, o que é estipulado nos regulamentos da Fifa. O incidente em Sochi é resultado de mau gosto e falta de educação. Nosso objetivo é minimizar isso. Temos de trabalhar para melhorar a educação das pessoas. Temos de respeitar a todos que venham para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo. Daremos calorosa boas-vindas a todos os turistas" afirmou em entrevista ao Canal RT.

Em 2015, um ano antes de ser nomeado para o cargo, Smertin havia declarado que não existia racismo na Rússia e que a mídia fazia uma má imagem do país.

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