Apesar de elenco milionário, Inter sofre na Série B do Brasileiro
Luiz Munhoz/Recorte do Olhar/Folhapress | ||
William Pottker comemora gol contra o Náutico, pelo Campeonato Brasileiro da Série B |
O final de 2016 deveria ter sido época festiva para o Internacional. Em 17 de dezembro, o clube comemorou dez anos do título mundial, conquistado sobre o Barcelona (ESP). Cinco dias antes do aniversário, a equipe foi rebaixada pela primeira vez no Brasileiro da Série A.
Não houve desespero, apesar disso. Outros grandes também caíram. Acreditava-se que a volta seria tranquila. O Internacional começou a Série B com o elenco mais caro do campeonato.
Neste sábado (22), a equipe enfrenta o Vila Nova (GO), no Serra Dourada. Com 24 pontos, o clube gaúcho, três vezes campeão brasileiro (1975, 1976 e 1979), está fora da zona de acesso.
"Time grande cai, sim. Tem que suar e se esforçar para subir. Não será fácil, mas vamos conseguir", diz Norberto Guimarães, vice-presidente de relações sociais do clube.
Com a adoção de medidas como planos de sócio torcedor a R$ 10, ele tenta manter acesa a chama da torcida, que vive em permanente estado de descontentamento desde o segundo semestre de 2016.
A cada jogo no Beira-Rio acontece um protesto. Duas das principais organizadas do clube, a Camisa 12 e a Guarda Popular, foram suspensas porque tiveram integrantes flagrados em atos violentos.
A presença de público no estádio caiu em relação ao Brasileiro de 2016. Como mandante, a média é de 17.632 pessoas. No ano passado, ainda na Série A, foi de 25.421.
A região do Beira-Rio virou local de confrontos a partir da derrota por 1 a 0 para o Boa Esporte, em 1º de julho. Em seguida veio o empate com o Criciúma, conquistado apenas graças a um gol salvador nos acréscimos. As organizadas protestaram ao lado do portão próximo ao edifício-garagem do clube. A Brigada Militar utilizou bombas de gás e balas de borracha contra os torcedores.
É a pior campanha do time em casa nos últimos 17 anos. Uma média de 47% de aproveitamento. Em 21 pontos disputados, conquistou dez.
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SEM PAZ
Até nas vitórias, o Inter não consegue ter paz na segunda divisão. O único gol sobre o Luverdense, na última terça (18), rendeu polêmica. O assistente Marcio Eustaquio Santiago marcou impedimento na jogada, mas o árbitro Igor Junio Benevenuto mandou seguir. A reclamação dos visitantes fez a partida ficar parada por 12 minutos.
Na entrevista após o jogo, o técnico Guto Ferreira disse para repórter do SporTV que não retrucou a pergunta dela porque era "mulher e talvez não tenha jogado futebol". Depois pediu desculpas.
O gol foi marcado por William Pottker, atacante contratado por ter sido destaque no Paulista. Chegou com salário de R$ 250 mil mensais. Nesta semana, a diretoria acertou com o centroavante Leandro Damião (R$ 500 mil).
O jogador mais caro do elenco é o meia argentino D'Alessandro, que recebe cerca de R$ 600 mil.
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"Nossa projeção é de déficit no ano, mas o time de 2017 tem de ser mais caro do que o de 2016. Caímos [de divisão]", constata o presidente Marcelo Medeiros.
A folha do elenco é de cerca de R$ 7,5 milhões por mês. Nenhum rival na Série B chega perto disso. O líder Guarani gasta cerca de R$ 600 mil mensais com salários. O mesmo que recebe D'Alessandro sozinho. Nenhuma outra equipe da divisão gasta mais do que R$ 1 milhão.
O clube tenta se reerguer nas finanças não apenas por causa do rebaixamento. Conseguiu se livrar do contrato do volante Anderson, hoje no Coritiba, que recebia R$ 500 mil. Mandou o argentino Ariel para o Barcelona (EQU). O pacote pelo atacante, somado salário e luvas, chegava a quase R$ 700 mil por mês.
Medeiros alega ter assumido o Inter, no início do ano, com R$ 25 milhões em contas vencidas. A projeção de faturamento para 2017 caiu de R$ 332 milhões para R$ 262 milhões. Uma das primeiras missões foi fazer acordo para parcelar dívida de R$ 44 milhões com o Banrisul.
À exceção do Fluminense, rebaixado para a Série C em 1998, nenhum dos grandes do Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul deixou de voltar à elite no ano seguinte após a queda.
"Se a gente não subir vai ser um desastre", diz Pottker.
SEGURANÇA
Minutos antes da partida contra o Luverdense, o clima era de preocupação no Beira-Rio. Depois das confusões nas partidas anteriores, o público foi de apenas 10.383 pessoas. Sob temperatura de 5° C, a polícia estava presente em todas as entradas do estádio.
No anel superior, com as maiores organizadas suspensas, a Fico (Força Independente Colorada) foi a banda que apoiou o time, mesmo em fase "terrível", como define o torcedor Adriano Lamana, 35. "Pior momento da minha história no Inter", definiu.
As queixas de organizadas são que a diretoria não dialoga com os torcedores, apesar de o clube viver um momento difícil. Este seria parte do descontentamento que levou aos protestos.
"É um ano atípico. Jogamos um campeonato que não é nosso. O protesto é válido, ninguém fica feliz de ver o time perder, mas quebrar o patrimônio do clube não vai mudar o resultado. A resposta vai vir em campo", disse Norberto Guimarães, sobre depredações no estádio.
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