Há 30 anos, técnico da seleção dos EUA de basquete conhecia Oscar

Crédito: 23.ago.1987/Reuters
O jogador Oscar Schmidt comemora a medalha de ouro da seleção brasileira

DE SÃO PAULO

A medalha de ouro conquistada pelo seleção brasileira masculina de basquete no Pan Americano de 1987, em Indianápolis, que completa 30 anos nesta quarta (23), foi considerada pelos americanos como a maior surpresa da competição.

Ao relatar a vitória da equipe de Ary Vidal sobre os donos da casa na final, o "New York Times" lembrou a entrevista coletiva na véspera do jogo, quando o treinador do time dos EUA demonstrou não saber o nome do principal jogador brasileiro, Oscar Schmidt. Leia a reportagem abaixo.

Jogos Pan-Americanos: Brasil derrota EUA no basquete masculino

WILLIAM C. RHODEN
PARA O "NEW YORK TIMES" EM INDIANÁPOLIS

Em entrevista coletiva no sábado, Denny Crum, o treinador da seleção de basquete masculino dos Estados Unidos, estava discutindo a equipe do Brasil quando percebeu que havia esquecido o nome do melhor jogador adversário. Por fim, um dos jogadores norte-americanos vasculhou a lista de jogadores do Brasil e disse o nome em voz alta.

Depois do jogo de hoje, o nome de Oscar Schmidt estará na mente de Crum e nas lembranças dos 16.408 espectadores que foram à Market Square Arena e viram o Brasil dar a maior virada na história da 10ª edição dos Jogos Pan-Americanos, revertendo uma desvantagem de 16 pontos.

Na final feminina do basquete. Katrina McCain marcou 30 pontos, 23 dos quais no segundo tempo, e levou os Estados Unidos a uma medalha de ouro com vitória por 111 a 87 sobre o Brasil.

McClain, pivô da Universidade da Geórgia, com 1,88 metro de altura, apanhou 11 rebotes - todos no segundo tempo - para dar aos Estados Unidos sua sexta medalha de ouro pan-americana no basquete feminino. Teresa Edwards fez 17 pontos e Clarissa Davis fez 16 pontos para os Estados Unidos. Hortencia Marcari liderou o Brasil com 30 pontos, e Paula Silva marcou outros 26, 20 dos quais no primeiro tempo.

A derrota foi apenas a terceira da história para o basquete masculino norte-americano, nos Jogos Pan-Americanos, e é apenas a segunda ocasião desde 1951 em que o ouro não ficou com os Estados Unidos. O Brasil conquistou a medalha de ouro em 1971, depois que os Estados Unidos foram eliminados da disputa por medalhas em uma derrota diante de Cuba. A única outra derrota dos Estados Unidos aconteceu contra a Argentina, por 54 a 53 pontos, em 1955.

Crum atribuiu a derrota de seu time à pontaria brasileira nos arremessos de longa distância.

Os Estados Unidos acertaram dois de seus 11 arremessos de três pontos, enquanto o Brasil acertou 10 dos 25 arremessos de três pontos tentados. O Brasil converteu 45% de seus arremessos na partida, mas acertou 23 dos 42 arremessos tentados no segundo tempo. Os Estados Unidos acertaram 16 de seus 46 arremessos no período.

"Talvez a pressão tenha tido alguma coisa a ver com isso, mas hoje seis ou sete de nossos jogadores acertaram menos de 50% de seus arremessos", disse Crum. "Contra um bom time, em uma competição desse nível, isso não pode funcionar".

Grande vantagem no final do primeiro tempo

Os Estados Unidos lideravam por 68 a 54 no final do primeiro tempo. Oscar, cuja média de pontos durante o torneio foi de 33,3, e Marcel Souza, que teve média de 25,7 pontos por partida, tinham apenas 11 pontos cada, àquela altura.

"Eles não me deixaram receber a bola no primeiro tempo", disse Oscar, que joga por um clube da Itália.

Ao longo da partida, Crum usou três jogadores - Rick Berry, Willie Anderson e Fennis Dembo - para marcar Oscar. Mas pela metade do segundo tempo, uma combinação de cansaço, corta-luzes eficientes da parte dos brasileiros e dificuldades nos arremessos começou a complicar as coisas para os norte-americanos.

Restando 17 minutos e 16 segundos na partida, David Robinson, pivô de 2,18 metros que joga pela Marinha, levou uma falta técnica por se pendurar do aro, sua quarta.

Pervis Ellison substituiu Robinson com os Estados Unidos liderando por 77a 62. Foi então que Oscar e Marcel começaram a jogar. Schmidt passou a acertar arremessos de toda a quadra, e Marcel decidiu provocar Rex Chapman, da Universidade do Kentucky, que o estava marcando.

"Eu disse a ele que sou velho, não conseguia marcá-lo", contou Marcel. "Nada pessoal. Só tentei pressioná-lo um pouco, porque essa era nossa única chance".

Schmidt converteu dois lances livres e o placar ficou em 77 a 64. Depois de um arremesso norte-americano de três pontos que não foi convertido, o Brasil marcou de novo quando Chapman errou um passe, e em seguida Oscar roubou uma bola e acertou um jumper, deixando o placar em 77 a 71. Marcel marcou de novo, levando o placar a 77-73, e só então Chapman acertou um jumper, 79-73.

Em seguida, veio um período em que o Brasil marcou 10 pontos contra apenas dois dos norte-americanos, e assumiu a liderança por 83 a 81 com um arremesso de Oscar da lateral da quadra.

Oscar reconduziu o Brasil à liderança, por 95 a 94, com seu sexto arremesso de três pontos convertido no segundo tempo. Robinson voltou à quadra e Keith Smart devolveu a liderança aos Estados Unidos, por 96 a 95, faltando 6min35seg.

Robinson foi eliminado ao fazer sua quinta falta, 30 segundos mais tarde, com os Estados Unidos atrás por 100 a 96 pontos. Ele marcou 20 pontos e apanhou 10 rebotes. "Nos últimos 50 segundos, quando olhei para o placar, não acreditei que estávamos à frente e ganhando o jogo", disse Oscar. "Tivemos sorte. Tentamos muitos arremessos que entraram quando em outros jogos talvez não entrassem. Mal consegui acreditar que ganhamos o jogo".

Perguntado como havia aprendido a fazer arremessos de três pontos, Oscar, que foi selecionado para a NBA pelo New Jersey Nets no draft de 1984, disse que sua mulher o ajudou a aprender.
"Minha mulher vai comigo aos treinamentos e me passa a bola 500 ou mil vezes", ele disse. "Por isso me casei com ela".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.