Troca entre Boston e Cleveland levanta questão sobre lealdade na NBA

Crédito: Seth Wenig/Associated Press Boston Celtics' Isaiah Thomas, left, shoots over New York Knicks' Willy Hernangomez during the second half of the NBA basketball game, Sunday, April 2, 2017, in New York. (AP Photo/Seth Wenig) ORG XMIT: NYSW112
Armador Isaiah Thomas virou grande ídolo dos Celtics e foi negociado

GIANCARLO GIAMPIETRO
DE SÃO PAULO

Quando Boston Celtics e Cleveland Cavaliers anunciaram em 22 de agosto uma troca bombástica envolvendo os armadores Isaiah Thomas e Kyrie Irving, entre outras peças, o primeiro impacto na NBA foi esportivo.

Era a primeira vez na história que dois finalistas de conferência fechavam uma negociação dessas proporções meses depois de terem se enfrentado –na decisão do Leste, os Cavaliers bateram os Celtics por 4 a 1 para, depois, perderem para o Golden State Warrios na grande final.

As ramificações da transação, porém, se aprofundaram, valendo aos atletas da liga como uma plataforma de defesa, ou contra-ataque, dependendo do ponto de vista.

As imagens de camisas do ala LeBron James queimadas por torcedores do Cleveland, em 2010, quando o astro resolveu deixar o clube rumo ao Miami Heat, onde ficou até 2014, quando voltou aos Cavaliers, se tornaram recorrentes na liga de basquete.

James e outros atletas foram prontamente nomeados como "mercenários" e "traidores" por torcedores furiosos e até mesmo por jornalistas, especialmente dos locais que estavam deixando.

Quando os Celtics decidiram negociar Thomas, 28, o superastro dos Cavaleiro questionou os diferentes pesos dados à decisão de dirigentes e jogadores.

"Quando nós decidimos fazer o que achamos melhor para nós, se fala em 'covardia', 'traição', etc. Mas, quando é o outro lado que toma a decisão, aí são apenas 'negócios'? Ah, tudo bem", questionou.

O caso envolvendo Thomas era ainda mais espinhoso.

Em três temporadas pelo time de Boston, o armador de 1,75 m de altura –atualmente o jogador mais baixo da liga– se tornou um dos maiores ídolos da cidade.

"Foi duro. Isaiah fez um campeonato fantástico neste ano e divertiu a cidade toda", disse Danny Ainge, gerente geral dos Celtics. "Todos se apaixonaram por ele, até por ser um cara subestimado, devido ao seu tamanho. Mas ele tem muito coração."

Em 179 partidas, Thomas teve médias de 24,7 pontos e 6 assistências, sendo eleito duas vezes para o "Jogo das Estrelas". Liderou o clube três vezes aos playoffs.

O envolvimento de Thomas se fortaleceu no mata-mata passado, quando, em 16 de abril, defendeu o time contra o Chicago Bulls um dia após sua irmã morrer num acidente de carro. Os Celtics perderam a partida, mas Thomas anotou 33 pontos e foi aplaudido de pé em Boston.

Quatro meses depois, seria negociado –o Cleveland também receberia o ala Jae Crowder, o pivô Ante Zizic e duas escolhas de "draft" (o processo seletivo de novatos).

"Perdemos alguns grandes jogadores. Foi um dia muito emocional. Amamos Thomas e Crowder", disse Steve Pagliuca, um dos proprietários dos Celtics. "Mas Kyrie é um atleta muito especial",

A confusão foi além: Thomas está se recuperando de uma lesão no quadril. É possível que ele perca boa parte da próxima temporada. Após exames médicos, o Cleveland freou a negociação, mesmo já a tendo anunciado em suas redes sociais e mesmo que valorizasse muito a escolha de "draft" do Brooklyn Nets adquirida no pacote. Depois de idas e vindas, a troca só foi oficializada na quinta (31).

A NBA toda aguardava o desfecho da novela, não só pela forma como poderia alterar a dinâmica da Conferência Leste, mas também pela reação de Thomas, que poderia voltar a Boston, sem clima. Afinal, são apenas negócios, mas com muitas emoções envolvidas.

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