'Homem-bomba', argentino delata cartolas e TVs entre choro e ironias

Crédito: John Taggart/Reuters
Alejandro Burzaco, delator no caso Fifa, nos Estados Unidos

SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK

O homem que desabou em lágrimas no julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, em Nova York, já foi uma das figuras mais poderosas do futebol na América do Sul.

Na cadeira de testemunha da acusação, onde deu o depoimento mais bombástico do caso até o momento, Alejandro Burzaco chorou ao relatar ameaças de morte que diz ter recebido na Argentina e ao lembrar como sua vida virou do avesso há dois anos.

Ele não esquece o dia no fim de maio de 2015 em que policiais prenderam sete dirigentes do futebol mundial num hotel de luxo em Zurique, na Suíça, detonando a atual investigação da Justiça dos Estados Unidos.

Burzaco estava no restaurante do Bar au Lac e viu de perto a captura de José Maria Marin, ex-presidente da CBF acusado de receber propina em negociações de contratos da Fifa –um dos três réus desse caso, ao lado do paraguaio Juan Ángel Napout, ex-presidente da Conmebol, e do peruano Manuel Burga, ex-chefe do futebol de seu país, que ainda se declaram inocentes.

No comando da Torneos y Competencias, empresa de marketing esportivo de Buenos Aires, o empresário argentino disse ter distribuído ao longo das últimas duas décadas pelo menos US$ 160 milhões em propina de grupos de mídia a 30 poderosos da Conmebol, confederação que gerencia o futebol na América do Sul, e dirigentes do esporte, irrigando uma extensa rede de crimes financeiros.

Em 2004, o ano em que entrou para a empresa de marketing esportivo que viria a controlar pouco depois, Burzaco já tinha acumulado uma fortuna de US$ 30 milhões.

Mas sua verdadeira ascensão financeira -e entrada no mundo do crime- coincidiu com o momento em que o governo argentino estatizou os direitos de transmissão de futebol no país e escolheu a Torneos como responsável pela negociação deles no exterior.

Enquanto delata seus ex-amigos, Burzaco aguarda uma sentença -ele sabe que pode pegar até 60 anos de prisão. Sua única esperança, ele disse no tribunal, é de um dia poder voltar para casa. (SM)

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.