Veto nos Jogos culmina dois anos de 'febre russa' e ajuda Putin
Alexei Nikolsky/Associated Press | ||
Putin ao lado do presidente do COI, Thomas Bach, na abertura da Olimpíada de Inverno de 2014 |
O veto à participação da Rússia nos Jogos de Inverno na Coreia do Sul culminou o cerco de dois anos que, no início, visava barrar a presença do país na Olimpíada do Rio.
A campanha continua, agora questionando que o país sedie a Copa de 2018, mas perdeu força sem o engajamento do "New York Times", que encabeçava noticiário e opinião sobre o assunto.
Agora se ouvem vozes periféricas, caso do jornal "The Australian", que afirmou que, "se a Fifa não fosse uma organização avessa à integridade, rescindiria os direitos da Rússia de sediar a Copa".
A justificativa é que o organizador do torneio de futebol, o ex-ministro de esportes Vitali Mutko, foi banido pelo Comitê Olímpico Internacional dos Jogos na Coreia.
Mas Mutko faz piada, dizendo que a vexatória seleção russa de futebol é a prova de que o doping não é generalizado —e de que a Rússia não pode sofrer "punição coletiva", quando todo um grupo paga pelo crime de indivíduos.
GUERRA FRIA
No dia 4, sob o título "Por que barrar a Rússia inteiramente", o "NYT" pediu abertamente a "punição coletiva", ecoando Richard Pound, membro do COI, para quem "todos na Rússia são cúmplices" e devem sofrer as consequências.
O texto argumentava que a punição coletiva "já é aplicada noutras instâncias do esporte", por exemplo, quando atletas de revezamento perdem medalhas pelo doping de um deles.
Pound escreveu em novembro de 2015 o relatório que iniciou a campanha, com declarações no "NYT" em que propunha o banimento do atletismo russo dos Jogos do Rio.
Afirmou então que a Rússia mantinha a "atitude dos dias da Guerra Fria" e acusou Grigory Rodchenkov, diretor de um laboratório antidoping moscovita, de pedir e aceitar propina.
Seis meses depois e um mês antes da Olimpíada do Rio, o russo Rodchenkov, já morando dos EUA, denunciou no "NYT" um esquema estatal de doping nos Jogos de Inverno na Rússia, em 2014.
O COI não vetou a Rússia na Rio 2016, como cobrou o "NYT" mas foi essa denúncia que resultou agora no banimento dos Jogos na Coreia, que começam em fevereiro.
Além do artigo pedindo "punição coletiva", o "NYT" publicou às vésperas da decisão do COI um "diário" de Rodchenkov apresentado como prova do que ele havia falado.
FEBRE RUSSA
O cerco à participação da Rússia em eventos esportivos avançou paralelamente à "febre russa" —como os opositores de Vladimir Putin se referem às denúncias contra o país na imprensa americana.
Eles alertam que as acusações em série têm como efeito, na verdade, tornar o atual presidente mais popular. O próprio "NYT" acabou reconhecendo isso, em editorial intitulado "O banimento olímpico ajuda Putin e fere a Rússia".
Em 2018, além da Copa, o país tem eleição. Putin se lançou candidato nesta semana, ao mesmo tempo em que criticava a "punição coletiva" da Rússia e autorizava seus atletas a competir individualmente na Coreia.
A começar por uma das maiores estrelas hoje nos esportes de inverno, a patinadora artística Evgenia Medvedeva, 18, que dias atrás esteve no COI defendendo a Rússia.
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