Em baixa, média de gols marcados em jogos no Brasil descola da Europa
Ricardo Nogueira-23.nov.2017/Folhapress | ||
Jadson anota gol pelo Corinthians contra o Atlético-MG |
Há quase uma década, a curva da média de gols por partida do Campeonato Brasileiro aponta para baixo. Tendência que não encontra eco nos principais campeonatos da Europa, nem nas Copas do Mundo e muito menos na Liga dos Campeões.
Nem sempre foi assim (veja quadro abaixo). Na primeira metade dos anos 1990, o Brasil e o mundo viveram o futebol ofensivo. O viés da curva da média de gols por jogo era de alta.
"A Copa dos atacantes" decretou o grupo de estudo da Fifa no relatório sobre o Mundial dos Estados Unidos, em 1994. Se quatro anos antes, na Itália, o torneio marcado pelos líberos tinha derrubado a média de gols de forma inédita, as redes haviam voltado a balançar bastante.
Até hoje, o mundial vencido por Romário e companhia tem a segunda maior média de gols desde 1974, perdendo apenas para o torneio de 1982. Dos 141 gols do torneio sediado pela Alemanha, 67% foram feitos por atacantes. O de maior média de gols na história foi o de 1954.
O aumento de gols também foi percebido no Brasil. Disputados com finais em mata-mata, os Brasileiros de 1993 e 1994, vencidos pelo Palmeiras, bateram as médias de 2,5 e 2,4 gols por jogo, até então, as maiores da década.
Era o início de uma curva ascendente da média de gols do Brasileiro que iria até 2005, com poucas regressões.
Desde então, o patamar da média de gols por jogo do Campeonato Brasileiro caiu.
Entre 2015 e 2017, o índice de 2,4 gols por partida registrado em cada um dos anos é o mesmo anotado em 1994. Neste período, o pico foi em 2015, quando o Brasileiro vencido pelo Corinthians, com um ataque que marcou 71 gols, teve 3,1 gols por jogo.
Editoria de arte | ||
"Nós precisamos resgatar a nossa essência. Olhar para o nosso umbigo e revelar jogadores de talento [para marcar mais gols]. Temos cada vez menos futebol. O jogo é burocrático e só tem marcação", diz o técnico Vanderlei Luxemburgo à Folha.
O treinador, um dos símbolos do futebol ofensivo dos anos 1990, é contra importar modelos europeus. "O futebol da Alemanha serve para a Alemanha", diz.
Para Mano Menezes, atual campeão da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, o futebol brasileiro passa por um momento normal de transição.
"Antes, nos defendíamos mal e exportávamos os jogadores extraclasse. Agora, estamos nos defendendo melhor e continuamos a exportar os jogadores", analisa Mano, que ainda indica o desafio para o futuro próximo.
"Neste segundo momento, precisamos continuar defendendo bem, mas encontrar soluções ofensivas, com um jogo mais treinado, sem depender das individualidades, porque não as temos mais".
O pesquisador Israel Teoldo da Costa, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa (MG) enxerga até uma influência do torcedor na mudança das equipes, que traz como consequência a redução no número de gols.
"Eles já entendem que o título nem sempre é possível. Com isso, a torcida aceita o time atuando mais fechado mesmo em casa, jogando por uma bola. O Corinthians, por exemplo, neste ano, ganhou várias partidas por 1 a 0", diz.
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