Logística desafia vela brasileira para Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020

Crédito: Brian Snyder/Reuters 2016 Rio Olympics - Sailing - Preliminary - Men's One Person Dinghy (Heavyweight) - Finn - Race 1/2 - Marina de Gloria - Rio de Janeiro, Brazil - 09/08/2016. Jorge Zarif (BRA) of Brazil competes. REUTERS/Brian Snyder FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: JKP32
Jorge Zarif foi o quarto colocado na classe Finn nos Jogos do Rio

PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO

As intempéries do país e dificuldade logística para deslocar equipamentos têm forçado os velejadores brasileiros a adquirir barcos adicionais na preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio.

Competidores das dez classes que integram a modalidade na Olimpíada passaram a comprar modelos novos já em 2017 para ficarem estocados com antecedência em arredores ou locais próximos ao palco de competição, que será a cidade de Enoshima (a duas horas da capital).

A CBVela (Confederação Brasileira de Vela) afirmou à Folha que todas as classes terão barcos sobressalentes.

A entidade estima investimento de cerca de R$ 1 milhão para custeio dos novos barcos para a Olimpíada, aí inclusas a aquisição e o transporte para o país asiático.

Estrategicamente, todos os principais velejadores brasileiros têm duas embarcações: uma delas fica no Brasil e a outra na Europa, onde ocorre a maior parte das competições em nível internacional.

Até em razão da quantidade de eventos no continente, o país dispõe de uma base em Barcelona, mantida pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil).

Passados os Jogos do Rio, o entendimento da confederação, do comitê e dos atletas foi de que seria mais fácil obter novos barcos do que trasladá-los do Brasil ou da Europa para a Ásia até 2020.
Jorge Zarif, 25, quarto colocado nos Jogos do Rio e campeão mundial na classe Finn em 2013, foi um dos primeiros a adotar tal expediente.

Ainda no ano passado, ele fez a encomenda ao fabricante da embarcação, por temer a demora de uma fila de pedidos que pode chegar a nove meses. No início de 2017, concluiu a compra, no valor de 22 mil euros (R$ 87 mil), sem incluir o mastro.

Ele espera que o equipamento chegue ao Japão em julho deste ano -se fosse importá-lo para o Brasil, o custo subiria para até 50 mil euros (R$ 198 mil).

A previsão é que no segundo semestre, provavelmente em setembro, aconteça o primeiro evento-teste de vela na raia olímpica de Enoshima.

"A distância até o Japão é muito complicada e encarece a campanha. Eu já tenho um barco no Brasil e outro na Europa, mas tive de adquirir um terceiro porque não dá tempo de competir e treinar em meio a tantos deslocamentos", afirmou o velejador.

"Não faz qualquer sentido levar e trazer o barco a todo momento", complementou.

A CBVela disse que "já ajudou e continuará ajudando" os velejadores do país a adquirirem as embarcações. O COB também deve entrar no circuito para viabilizá-los.

A medalhista olímpica Fernanda Oliveira, 36, adere ao coro. Ela tem a experiência de já ter vivido -e ido ao pódio- em uma Olimpíada na Ásia. Em Pequim-2008, ela levou o bronze na classe 470, ao lado de Isabel Swan.

"É um desafio grande o fato de a próxima Olimpíada ser no Japão. A distância é uma coisa que geralmente nos assusta. Mas nos Jogos da China a situação era parecida. Vai ser impossível ter o conforto que tivemos no Rio, não adianta se preocupar", disse.

As campeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze (da classe 49er FX) também terão um equipamento adicional para a preparação até 2020.

CLIMA

Em que pesem as precauções de antecedência, existe um outro fator de preocupação para a confederação brasileira: as vicissitudes climáticas características do Japão.

As intempéries têm atrapalhado a definição de uma base, ou até mesmo um depósito, para os barcos na campanha até os Jogos de 2020.

"Lá há problemas de furacões, tufões e tsunami. Por isso, não se pode deixar o barco armazenado em qualquer clube", afirmou o bicampeão olímpico Torben Grael, 57, atual coordenador técnico da equipe brasileira de vela.

Grael julga que os empecilhos na logística obrigarão todos os países a adotarem barcos adicionais. "Não é possível ficar transportando barcos. O custo do transporte é o custo do barco", disse.

Ele acrescentou que a própria raia olímpica de Enoshima terá um efeito complicador para os competidores.

"A condição no Japão é de vento bem fraco, e não sei se nossos velejadores estão muito acostumados. A Olimpíada de 2020 será difícil para nós, ao contrário da do Rio. Vamos sair da melhor condição para a mais inóspita."

Os Jogos serão entre 24 de julho e 9 de agosto de 2020..

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