Esperança para 2020, revezamento brasileiro treina junto em São Paulo

Crédito: Keiny Andrade/Folhapress Retrato dos nadadores Marcelo Chierighini, Cesar Cielo (de bone) Gabriel Santos (lateral do cabelo raspada) e Pedro Spajari. Tecnico Alberto Pinto da Silva (de preto)
Da esq. para a dir. os nadadores Marcelo Chierighini, Cesar Cielo, Gabriel Santos e Pedro Spajari

PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO

O grande momento da natação brasileira no ano passado não veio de um fato, e sim de uma sequência de números aparentemente aleatórios que juntos compõem uma marca: 3min10s34.

Foi com esse registro que o revezamento 4 x 100 m livre masculino do Brasil obteve a medalha de prata no Campeonato Mundial de Budapeste, em julho passado. O registro foi recorde sul-americano.

O time formado por Gabriel Santos, Marcelo Chierighini, Cesar Cielo e Bruno Fratus terminou a prova a apenas 28 centésimos dos Estados Unidos, atuais campeões olímpicos na disputa em equipe.

Mais expressivo que o simbólico metal foi o tempo. Com os 3min10s34, o revezamento brasileiro teria ido ao pódio em todas as grandes competições desta década, como Mundiais e Jogos Olímpicos.

O desempenho desencadeou expectativas positivas para os Jogos de Tóquio-2020 –a única vez que o Brasil levou medalha na prova foi em Sydney-2000 (bronze).

A dois anos e meio da Olimpíada japonesa, não há como fazer garantias, mas o Brasil tem um trunfo em relação aos concorrentes para permanecer no topo das apostas.

Quase todos os componentes do revezamento treinam em conjunto no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo.

Cielo, Chierighini e Santos dividem raia diariamente sob comando de Alberto Pinto da Silva, que também é o técnico-chefe da seleção masculina -Chierighini faz períodos de treinamento nos EUA, onde Fratus, único que não treina no clube, mora há anos.

Além dos medalhistas no Mundial húngaro, Pedro Spajari, outro nadador do clube, surgiu como potencial integrante do revezamento depois de terminar 2017 com marcas entre as melhores do mundo nos 100 m (48s25).

No último grande evento do ano, o Torneio Open, realizado em dezembro no Rio, o Pinheiros teve os cinco primeiros colocados nos 100 m.

Pela ordem: Santos, Spajari, Chierighini, Cielo e outra promessa, Breno Correia.

O misto de talento e acaso proporciona uma conveniência inédita para a natação do país, de reunir praticamente todos os "selecionáveis" para lapidação diariamente.

A falta de oportunidade de juntar os candidatos à equipe sempre foi motivo de reclamação de atletas do país.

Nenhum dos principais rivais citados pelos atletas, como norte-americanos, australianos, húngaros e russos desfruta da prerrogativa.

"A relação é muito boa e isso se reflete no dia a dia. Todos conhecem a característica do outro", afirmou Cielo.

"Treinar junto supre uma necessidade que temos, que é o baixo número de competições no Brasil. Acaba sendo um parâmetro importante."

Cielo, 30, é recordista mundial dos 50 m livre (20s91) e dos 100 m livre (46s91), e voltou ao Pinheiros no começo de 2017 depois de nove meses de inatividade decretada por perder a vaga para a Rio-2016.

Assim que retornou ao clube, assumiu uma conduta de mentor dos mais jovens, como Santos, 21, e Spajari, 20.

Para Cielo, a medalha justificou a decisão de voltar ao esporte e será um "divisor de águas" para a natação do país. Ao recuperar a motivação, Cielo alavancou os demais.

Nos treinos, é ele quem instiga os outros para tiros de velocidade, na maioria de 75 m.

Na avaliação geral, o convívio gera interação e dicas que valem mais do que qualquer treino específico.

"Mesmo rivais, nos treinos nos ajudamos e cobramos. Na hora da prova individual todos querem ganhar, mas o revezamento é chance real de pódio do Brasil em Tóquio. É hoje a prova mais forte da nossa natação", diz Spajari.

O próximo grande torneio para o revezamento ser testado será o Pampacífico de Tóquio, em agosto de 2018, cuja seletiva será o Troféu Maria Lenk, no Rio, em abril.

INVESTIMENTO

Apesar da euforia por causa do momento favorável, o técnico Alberto Pinto da Silva reivindica que haja investimento no revezamento para o restante do ciclo.

Segundo ele, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) e o COB (Comitê Olímpico do Brasil) têm de tratar o 4 x 100 m livre como "uma das prioridades nas estratégias para 2020".

Silva argumenta que, com recursos, seria possível levar um grupo de potenciais nadadores do revezamento para treinos e participação em torneios no exterior.

"O COB e a CBDA precisam investir na equipe, é uma necessidade", afirmou Cielo.

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