FÁBIO ALEIXO
DE SÃO PAULO

Quem acompanha futebol internacional acostumou-se a ver André Villas-Boas, 40, na beira do gramado. Seja como assistente de José Mourinho ou dirigindo equipes como Porto, Chelsea, Tottenham, Zenit e mais recentemente o Shanghai SIPG.

Mas desde sábado (6), Villas-Boas trocou o terno e o banco de reservas por um macacão, um carro e muita terra. O português está competindo no Rali Dacar, que teve início em Lima, no Peru, e acabará em Córdoba, na Argentina, com passagem pela Bolívia.

Ele corre na categoria carros ao lado do navegador e compatriota Ruben Faria. Ambos são integrantes da equipe Toyota Overdrive.

A ideia de Villas-Boas era correr entre as motos, mas por causa do tempo escasso que teria de preparação foi desaconselhado a fazer isso devido aos riscos muito maiores do que nos automóveis. Ele deixou o comando do Shanghai em 29 de novembro.

"Esta ideia de fazer o Dacar esteve presente nos meus sonhos desde quando era pequeno. Acompanhava pela TV todas as provas. Era sagrado para mim. Queria fazê-lo de moto porque penso que aí estão os grandes aventureiros", disse o português à Folha antes do início da prova.

"A paixão pelo esporte a motor vem de muitos anos. Desde pequeno meu pai me levava para ver as corridas de F-1 no Estoril (em Portugal) e provas de rali. Minha família esteve sempre ligada ao automobilismo. Meu tio Pedro Villas-Boas fez o Dacar por duas vezes. Essa paixão vem de geração em geração e eu não podia escapar a ela. Sou apaixonado por tudo o que se move com rodas e motor", disse o português.

"Quando era novo cheguei a fazer o campeonato nacional de todo terreno em moto mas como comecei a minha carreira de treinador aos 18 anos e, sendo os jogos ao fim de semana, não havia maneira de conciliar as duas paixões", afirmou o técnico.

Seu carro, batizado de Race for Good, estampa marcas de instituições que apoiam causas humanitárias em todos os cantos do planeta.

São elas a Ace For Africa, uma ONG que desenvolve trabalhos nas comunidades pobres no Quênia e Tanzânia para desenvolvimento na educação e saúde, a Fundação Laureus e a APPACDM, uma associação que apoia as necessidades do cidadão com deficiência mental.

Em sua primeira participação no Dacar, Villas-Boas tem um só objetivo: cruzar a linha de chegada no dia 20 de janeiro. Não está preocupado com rendimento ou posições. No momento ocupa a 44ª posição após dois dias de disputa, a quase 3h30 do líder Cyril Despres.

"Meu humilde objetivo é chegar ao fim são e salvo, carro e pilotos! Felizmente estou rodeado pelos melhores do mundo", afirmou.

Em que pese a paixão pelo automobilismo, Villas Boas nem pensa em deixar o futebol. No segundo semestre, com o início da temporada 2017-2018, quer retornar a um grande clube europeu.

"Só foi possível fazer esta grande aventura pois tenho seis meses livres desde a minha saída da China", disse o treinador que tem em seu currículo dois títulos nacionais, em Portugal e na Rússia, e o da Liga Europa de 2010-11.

Villas-Boas tem sido especulado na imprensa europeia como um possível substituto de Unai Emery caso ele não siga no comando do PSG.

"Sou um treinador profissional livre neste momento e felizmente tenho uma carreira que permite que meu nome esteja associado aos melhores clubes do mundo e em consequência os melhores jogadores do mundo como Neymar. Se isso acontecer ficarei muito feliz. Mas no momento no entanto a minha cabeça está em Córdoba", disse.

BRASIL NA DISPUTA

O Brasil está representado no Dacar em três categorias. Nos UTVs, com as duplas Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin (Can-Am) e José Sawaya/Marcelo Haseyama (Polaris). Nos quadriciclos, com Marcelo Medeiros (Yamaha), e nos carros com Jorge Wagenfuhr/Idali Bosse (Mitsubishi Triton).

Em 2017, os brasileiros Leandro Torres e Lourival Roldan foram campeões na categoria dos UTVs. Foi o primeiro título do país na história. O melhor resultado até então era de André Azevedo, vice nos caminhões em 2003.

Crédito: RALI DACARPrincipal rali do mundo chega à sua 40ª edição

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