Sete vezes campeão europeu, Milan vive crise e tem dívida de R$ 1 bilhão

Crédito: Marco Bertorello/AFP Loja da H&M; em Joanesburgo, África do Sul, é destruída em protesto contra racismo neste sábado (13) (Foto: Reprodução/Twitter/ Floyd Shivambu) DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Bonucci comemora o gol da vitória do Milan sobre o Crotone, no primeiro jogo do time em 2018

ALEX SABINO
DE SÃO PAULO

Quando o Milan saiu das mãos de Silvio Berlusconi e foi comprado por US$ 860 milhões (R$ 2,8 bilhões) pelo magnata chinês Li Yonghong, em abril de 2017, parecia que os tempos dourados voltariam para o clube italiano.

Para deixar clara qual era a ideia da nova administração, foram investidos 194,5 mi de euros (R$ 758,2 mi) em contratações. O mais caro foi o zagueiro Leonardo Bonucci, que deixou a campeã nacional Juventus por 42 milhões de euros (R$ 163,7 mi).

Nove meses depois, a sensação entre torcedores e especialistas em finanças do futebol é que o Milan, sete vezes campeão europeu e dono de 18 títulos italianos, se meteu em uma enrascada.

"A venda do Milan mostra que o futebol é uma zona franca. Não há controle nenhum", afirma Pippo Russo, sociólogo da Universidade de Florença e especialista em negócios do futebol.

Dentro de campo, a equipe está em 11º na Série A. Não disputa a Liga dos Campeões e tem de se conformar com a Liga Europa, competição continental de segundo escalão. Nenhuma das aquisições foi sucesso estrondoso e o técnico Vincenzo Montella acabou trocado pelo ex-ídolo Gennaro Gattuso, dono de pouca experiência como treinador.

O maior problema do clube está fora de campo.

"Há incertezas em relação a empréstimos a serem pagos em outubro de 2018 e às garantias oferecidas pelo principal acionista", divulgou a Uefa para justificar não ter aceitado um acordo preventivo com o Milan a respeito do fair play financeiro.

Pelas regras da entidade, é provável que o time seja punido porque não teve arrecadação que justificasse o dinheiro usado nas contratações. Uma das sanções possíveis é proibir a compra e venda de novos jogadores.

Para fechar negócio com Berlusconi, Yonghong apelou a empréstimos e o clube tem de pagar, até outubro deste ano, 303 mi de euros (R$ 1,2 bilhão) para o Elliott Management, fundo hedge norte-americano conhecido por ajudar empresas em dificuldades cobrando juros superiores ao de mercado.

No caso do Milan, esses são de cerca de 11% ao ano. Se o dinheiro não for devolvido, o fundo terá direito de assumir o controle do clube.

"Estamos fazendo o melhor para explicar a nossa situação atual, mas as condições impostas pela Uefa, por exemplo, são impossíveis de serem cumpridas por qualquer clube na nossa situação", explica o CEO do Milan, Marco Fassone, dizendo que a entidade queria um depósito milionário como garantia para fechar o acordo.

A diretoria terá dez meses para obter um refinanciamento. Há dois empréstimos a serem pagos. Um pelo Milan e outro pela Rossoneri Sport, holding criada para comprar o clube por Yonghong. Não há dados disponíveis sobre esta empresa. Os bancos Bofa-Merril Lynch e Goldman Sachs aceitaram refinanciar o débito do Milan. Da Rossoneri Sport, não.

"Esta dívida com a Elliott é muito pesada, uma hipoteca contra o futuro. Os gastos com contratações apenas agravaram a situação. É muito complicada", opina Russo.

Yonghong apareceu em Milão para fechar negócio com a fama de empresário que fez fortuna com mineração e investimentos imobiliários. Insinuou também que haveria apoio do governo da China na transação.

No papel, as minas que ele alega ser dono estão nos nomes de outras pessoas. Não há registro de sua participação em grandes empreendimentos imobiliários. De acordo com o "New York Times", o Estado chinês se distanciou da negociação e há suspeita que a compra do Milan seja apenas uma forma de tirar recursos do país.

Os pais de Yonghong, Nizhi e Yongfei, foram condenados à prisão na China por apropriação ilegal de dinheiro público. Escaparam da cadeia apenas porque fugiram para Hong Kong.

NO PASSADO

O Milan não é campeão italiano desde 2011, quando ainda tinha Gattuso no meio-campo. A última participação na fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa foi na temporada 2013-2014.

Apesar dos problemas dentro e fora de campo, a torcida ajuda. A média de público no ano passado cresceu 30% em relação a 2016. Foram 53.300 pessoas por partida.

Para tornar a situação ainda mais amarga, a arquirrival Internazionale disputa o título nacional e está em 3º. Uma semana antes do último Natal, lançou bonds (títulos de crédito) para levantar 300 milhões de euros (R$ 1,15 bilhão) no mercado financeiro.

"Havia convicção de que o Milan voltaria a competir no nível máximo, mas o investimento maciço no elenco não é o bastante. O Milan está em um círculo vicioso. O clube não se permite deixar passar tempo para as coisas darem certo porque a pressão para voltar a ser uma força mundial é enorme. Com isso, procura fazer tudo na maior pressa possível, faz mal e dá errado", conclui Pippo Russo.

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