SÉRGIO RANGEL
DO RIO

Apenas 94 torcedores pagaram para assistir a vitória do Macaé diante do América, por 1 a 0, em 27 de dezembro.

O acanhado estádio de Saquarema foi palco da partida de pior público do Estadual do Rio de 2018, que começou no ano passado, com seis clubes disputando seletiva que terminou no sábado (13).

O público ínfimo é apenas um dos sintomas decorrentes da crise nas prefeituras fluminenses, principais financiadoras dos clubes do interior nos últimos anos. Sem verba, os dirigentes dos times que disputaram a seletiva tiveram de encolher investimentos.

A principal fonte de renda é a cota de televisão do torneio. Na fase inicial, cada clube recebe cerca de R$ 900 mil.

"A crise pegou a cidade. O futebol não poderia ficar fora dessa realidade", diz o presidente do Macaé, Teodomiro Bittencourt, o Mirinho.

Macaé e Cabofriense conseguiram a classificação para a fase principal. Nesta terça (16), o Botafogo será o primeiro grande a estrear na competição. Sem a força máxima, o time vai enfrentar a Portuguesa, no Engenhão. Os outros grandes jogam na quarta-feira (17) e na quinta-feira (18) com os reservas.

Há menos de quatro anos, o Macaé, time da capital do petróleo vivia o seu auge. Com o nome da prefeitura local estampada na camisa por cerca de R$ 3 milhões, o "alvianil praiano" silenciava o Castelão lotado (63.254 pessoas) ao empatar com o Fortaleza e subir para a Série B do Campeonato Brasileiro.

QUEDA LIVRE

No ano seguinte, 2015, a cidade mergulhou na maior depressão da sua história, abalada pela situação financeira da Petrobras e pela drástica redução das cotações internacionais do petróleo.

Sem a verba da prefeitura, uma das maiores arrecadadoras de royalties do país, o Macaé perdeu seu maior parceiro e entrou em queda livre.

Neste ano, o time disputa a Série D do Brasileiro, após ser rebaixado duas vezes seguidas, e tenta permanecer na elite do Estadual do Rio.

"Estamos tentando fazer milagre aqui", disse Mirinho, que conta com seis "patrocinadores". Nenhum dos parceiros coloca dinheiro no clube. As empresas apenas prestam serviços ao time, como uma empresa de ônibus que transporta a delegação e uma clínica da cidade que cuida da saúde dos atletas.

Na última quarta-feira (10), o time foi obrigado a jogar em Nova Friburgo contra o América porque a PM não liberou o estádio da prefeitura.

"Mas nessa atual situação, não tenho nem coragem de bater na porta do prefeito para pedir dinheiro", afirmou o cartola, que já foi presidente da Câmara de Vereadores.

A Cabofriense passa por situação semelhante. Com a melhor campanha da seletiva, tem apenas um patrocinador no uniforme e não conseguiu verba da prefeitura.

Cabo Frio virou palco de protestos frequentes de funcionários públicos que reclamam dos salários atrasados.

Os cofres municipais eram o maior parceiro do time, que tem Alair Corrêa, prefeito da cidade por quatro mandatos, como presidente de honra.

Em 2004, quando os royalties jorravam na cidade, Corrêa bancou um amistoso contra o Cruzeiro, então campeão brasileiro, na cidade. O clube mineiro chegou de jatinho fretado pela prefeitura.

Equipe de maior torcida na seletiva, o Goytacaz também está sem dinheiro público para a disputa do Estadual.

Diferentemente dos adversários Cabofriense e Macaé, o time disputa a partir deste sábado, o quadrangular que define os rebaixados.

O regulamento da seletiva é esdrúxulo. Em apenas cinco jogos, os dois primeiros colocados se classificaram para o restante do torneio. Já os quatro piores vão disputar um quadrangular para decidir os dois rebaixados.

"É injusto demais. Jogamos mais de 30 partidas no ano passado para subir para a primeira. Depois de toda a festa, não vamos jogar contra os grandes. Isso é falta de respeito", disse Paulo Henrique, técnico do Goytacaz.

O presidente da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio), Rubens Lopes, nega que o regulamento do torneio prejudique os pequenos. "Essa foi a forma que encontramos para todos jogarem. E todos concordaram na época. Na Libertadores acontece a mesma coisa", afirmou.

O clube tentou um "convênio financeiro" com a prefeitura, mas não teve sucesso.

Nesta fase, os dirigentes se contentam apenas com o "apoio" da prefeitura, que cede ambulâncias e funcionários das empresas municipais para ajudar na organização das partidas em casa.

Apesar dos problemas financeiros, o clube centenário de Campos tem o apoio da torcida, a única dos seis clubes envolvidos na seletiva que prestigia o time.

Na quarta-feira, 2.216 torcedores fizeram a festa, na virada no último minuto contra o Resende, por 2 a 1, no estádio que completou 80 anos no dia anterior.

"Eles são o nosso maior patrimônio. Vivemos basicamente da renda [das partidas] e da ajuda dos empresários que são torcedores", declarou o presidente do Goytacaz, Dartagnan Fernandes.

"Todos estão aqui por amor ao Goytacaz. Mas, sem o apoio da prefeitura, não vejo luz no fim do túnel", acrescentou o dirigente.

Apesar do apoio dos torcedores do Goytacaz, até agora, o Estadual do Rio é um fracasso de público. Após 15 jogos disputados, a média é de 514 torcedores por partida.

"O nosso maior desafio é trazer as famílias aos estádios. Esse problema se agrava a cada ano. Os mecanismos de repressão se mostram cada vez mais ineficientes", afirmou Lopes, que culpa a violência e a crise econômica pela fuga dos torcedores.

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