FÁBIO ALEIXO
DE SÃO PAULO

O treinador do Brasília, Sérgio Negrão, afirmou que levará à CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) uma proposta para a criação de uma liga alternativa voltada apenas para atletas transexuais.

O assunto ganhou força após o sucesso de Tifanny, de Bauru, na atual edição do torneio. Em apenas cinco jogos disputados se tornou a maior anotadora, considerando a média de pontos.

Ele disse que já tratou informalmente do assunto com algumas pessoas da modalidade e que fará uma proposta oficial em reunião que a entidade realiza após a final da Superliga para avaliação do campeonato e melhorias para a próxima edição.

"Para jogar entre os homens, a Tifanny é muito fraca. Para jogar entre as mulheres, é muito forte, e vi isso de perto. Então tenho sim essa ideia de que possam fazer uma liga alternativa aberta a todos os transexuais, inclusive com uma rede a 2,35 m [altura intermediaria entre a do masculino que é de 2,43m e do feminino, de 2,24m]", afirmou o treinador à Folha.

"Acredito que a Tifanny não seja o único caso que exista no Brasil. Mas como a diretriz do COI é muito ampla, abre muita brecha. Ninguém sabe o que fazer e o que isso pode se tornar. Só quero deixar bem claro que isso não tem a ver com preconceito", disse Negrão, que já foi integrante do departamento técnico da Superliga.

Bruna Benevides, secretária de articulação política da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), discorda de Negrão. Ela é contra a criação de uma liga alternativa para transexuais, algo inédito no esporte de alto rendimento mundial.

"Pensar em uma terceira categoria remete ao Apartheid, é muito mais exclusão do que inclusão. É uma ideia que se baseia num preconceito", disse.

"Neste momento, vejo toda esta discussão em torno da Tifanny muito mais como algo social do que técnico", completou.

A proposta, no entanto, já encontra simpatizantes em representantes de outras equipes da Superliga.

Marina Miotto Silva, supervisora do time de São Caetano, diz que concorda com a criação de uma liga para transexuais.

"Se outras pessoas na mesma situação da Tifanny aparecerem, o que vai acontecer?", disse, levantando um empecilho para a criação da liga.

"Acho que vai demorar para que surjam três ou quatro times de transexuais. Ninguém quer impedir ninguém de jogar."

A CBV afirmou à reportagem que "segue as regras e as categorias emanadas pela FIVB [Federação Internacional de Vôlei]" e que "qualquer nova categoria deve ser definida por ela".

A FIVB reafirmou que discutirá diretrizes para participação de transexuais no vôlei neste ano.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) também reverá o sistema, mas afirmou que caberá às federações internacionais de cada modalidade definir regras de elegibilidade e eventos específicos.

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