Técnico diz que Bélgica conquistou o direito de sonhar com título da Copa

Crédito: Bruno Fahy/AFP Belgium's head coach Roberto Martinez walks during a training session on August 28, 2017, in Tubize, ahead of a FIFA World Cup 2018 qualification football match between Belgium and Gibraltar on August 31 and Greece on September 3. / AFP PHOTO / BELGA / BRUNO FAHY / Belgium OUT
O espanhol Roberto Martínez durante um treinamento da seleção da Bélgica

ALEX SABINO
DE SÃO PAULO

Roberto Martínez, 44, tinha nove anos quando teve noção do que era a Copa do Mundo. Colecionou desesperadamente figurinhas do Mundial de 1982, disputado na Espanha, seu país natal.

Volante com passagem discreta por pequenos clubes, teve carreira melhor como técnico. Foi por causa disso que participou dos torneios de 2010, na África do Sul, e em 2014, no Brasil. Ambos como comentarista.

Faltava algo. Com a cotação em alta após levar o minúsculo Wigan ao título da Copa da Inglaterra de 2012, teve altos e baixos no Everton, até ser demitido no ano passado. Foi quando a oportunidade se abriu. De forma inesperada, foi escolhido para comandar a seleção da Bélgica, quando Marc Wilmots foi demitido após a eliminação na Eurocopa.

Martínez vai realizar o sonho da Copa do Mundo com uma das seleções que podem surpreender na briga pelo título. Fazem parte da equipe jogadores badalados e que atuam em grandes clubes europeus, como o goleiro Thibaut Courtois, do Chelsea; o meia Kevin De Bruyne, do Manchester City; e os atacantes Eden Hazard, também do Chelsea, e Romelu Lukaku, do Manchester United.

Para ele, a Bélgica está em condições de vencer qualquer adversário na competição.

"Ganhamos o direito de sonhar que é possível vencer a Copa do Mundo", disse Martínez em entrevista à Folha.

Folha - A Bélgica foi uma das oito cabeças de chave no sorteio dos grupos. Isso mostra que a equipe pode ser considerada uma das favoritas?
Roberto Martínez - Não nos chamaria assim, mas não há motivo para temer ninguém. Nosso grupo de jogadores e a campanha que fizemos nos últimos anos mostra que podemos enfrentar qualquer adversário de igual para igual.

Sua seleção caiu em um grupo com Inglaterra, Panamá e Tunísia. Você construiu sua carreira como técnico na Inglaterra. Isso lhe dá uma certa vantagem para esse confronto da primeira fase?
Não diria vantagem. Eu conheço todos os jogadores da Inglaterra e trabalhei com alguns deles. Mas eles também nos conhecem. Courtois, Kompany, Fellaini, De Bruyne, Hazard, Lukaku... Todos eles jogam na liga inglesa.

O que falta para o time?
Nós sabemos quem são os favoritos. São as seleções de sempre. Se tivermos força mental nos momentos de dificuldade, podemos superar todas essas equipes.

Quem são os favoritos?
Brasil, Alemanha, Argentina e França. São os times mais badalados e com razão.

Em 2014, a Bélgica chegou às quartas de final e perdeu para a Argentina em uma partida apertada. Na Rússia, onde a seleção pode chegar? O objetivo é pelo menos igualar o que fez no torneio no Brasil?
O objetivo é ir mais longe. Pelo que mostramos desde a última Copa do Mundo, ganhamos o direito de sonhar, de acreditar que é possível vencer o torneio.

Não teme que declarações como essa possam gerar ainda mais expectativa nos atletas?
Não disse que vamos vencê-lo. Mas ganhamos o direito de sonhar com o título.

Kevin De Bruyne vive um grande momento no Manchester City, da Inglaterra. Ele é a maior arma da Bélgica?
A forma que ele se apresenta nos últimos meses é sensacional. Tem velocidade, força, habilidade e faz gols. Tê-lo na seleção é um privilégio. Não tenho como não dizer que ele será fundamental.

Na fase atual, De Bruyne está no mesmo patamar dos jogadores que foram finalistas do prêmio de melhor do mundo da Fifa deste ano: Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo?
São três jogadores que jogam mais próximos ao gol. São atacantes. Kevin tem uma característica de chegar à frente para finalizar, mas é um armador também. Respondendo à sua pergunta, ele pode ser considerado para o prêmio se mantiver essa forma durante toda a temporada e dependendo do que acontecer na Copa do Mundo.

Não é a mesma percepção que temos de Eden Hazard. Ele parece viver momentos de inconsistência.
Não concordo com isso. Ele vem jogando bem pelo Chelsea e creio que as pessoas não percebem o quanto ele é regular nos jogos, apesar de ser sempre muito marcado. Eden é um dos líderes da equipe e o que conseguirmos na Copa do Mundo da Rússia será com a grande ajuda dele.

Há pelo menos quatro anos se fala na geração belga, na quantidade de talentos à disposição no país e na capacidade para vencer um torneio importante. Isso não é um peso?
Não. Se comparar com a base que esteve no Brasil para a disputa da Copa de 2014, o elenco é mais maduro, mais consciente do que pode conseguir. Esta é uma geração de ouro, mas não é a primeira vez que a Bélgica conta com grandes seleções. Já chegou perto de vencer a Eurocopa [em 1980, perdeu a final para a Alemanha] e esteve na semifinal do Mundial [em 1986].

E para o treinador? Pesa?
É a realização de um sonho. Todo jogador sonha em jogar a Copa, assim como todo técnico. Eu estive como comentarista em 2010 e 2014 e consegui ter uma visão geral do que era o torneio. Observações que me serão úteis agora. Aos nove anos, em 1982, eu comecei a sonhar com este momento, que está chegando.

Sua escolha para dirigir a Bélgica surpreendeu.
Não acho que seja uma surpresa. Eu fui técnico na Premier League [o Campeonato Inglês] por sete anos. Quem passa tanto tempo na pressão que é dirigir um time nessa liga está preparado para qualquer seleção. Nosso planejamento é que a Bélgica chegue ao auge na Copa do Mundo.

RAIO-X

Nome completo
Roberto Martínez Montoliú

Nascimento
13 de julho de 1973 (44 anos), em Balaguer, Espanha

Principais títulos como treinador
Terceira divisão da Inglaterra 2007-2008 (com o Swansea City) e Copa da Inglaterra 2012-2013 (com o Wigan Athletic)

Campanha nas eliminatórias
Primeiro colocado do Grupo H, com 28 pontos

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