Eleito senador, Kajuru quer frente para abrir 'caixa preta' da CBF

Vencedor da eleição em Goiás, ele espera contar com apoio do presidente eleito Jair Bolsonaro

Kajuru foi eleito senador em Goiás
Kajuru foi eleito senador em Goiás - Raquel Arriola / UOL
Sérgio Rangel
Rio de Janeiro

Eleito senador por Goiás com cerca de 1,5 milhão de votos, o radialista Jorge Kajuru, 57, quer usar o seu mandato para renovar a administração esportiva brasileira.

Crítico dos cartolas da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do COB (Comitê Olímpico do Brasil), ele é um dos articuladores de movimento que pretende mudar a estrutura das entidades esportivas nacionais, segundo ele, “um segmento corrompido e intocável até agora”.

Nesta terça-feira (13), o jornalista vai se encontrar com o senador Romário (Podemos-RJ) e a senadora eleita Leila do Vôlei (PSB-DF) para definir os primeiros passos da ofensiva. No dia seguinte, ele se reúne com Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e outros aliados para tratar do assunto.

Romário e Rodrigues foram os integrantes mais ativos da CPI do Futebol, que investigou as contas da CBF após a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da entidade, por corrupção na Suíça em 2015.

 

“Não quero ser líder, mas quero procurar gente de bem com a coragem, que não vai recuar lá na frente, para abrir a caixa preta da CBF, do COB e das federações”, afirmou o senador eleito pelo PRP.
Kajuru acredita que o relatório “paralelo” da CPI, assinado por Romário e Rodrigues, servirá de base para o início da “faxina” nas entidades. 

No trabalho de cerca de mil páginas, os três ex-comandantes da CBF (Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e Marin) foram acusados de terem cometidos seis crimes: lavagem de dinheiro, estelionato, crime contra a ordem tributária, crime contra o sistema financeiro nacional, organização criminosa e crime eleitoral. 

Eles já haviam sido denunciados em 2015 pelo FBI por fazer parte de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de competições no Brasil e no exterior.

“Grande parte do trabalho já foi feito aqui e lá fora. Só para dar um exemplo. O Ricardo Teixeira não pode ficar livre neste país, que já prendeu tanto corrupto. O Eduardo Cunha, o Sérgio Cabral estão na cadeia e ele continua por aqui”, afirmou Kajuru. 

“Além do nosso esforço, tem aí o novo governo. Acredito que o presidente eleito [Jair Bolsonaro] também vai querer distância da cartolagem que está aí e vai gostar deste desafio”, completou Kajuru.

Na época da CPI, os aliados da CBF boicotaram o trabalho de Romário e Randolfe e conseguiram aprovar o relatório oficial do senador Romero Jucá (MDB-RR), que não pedia nenhum indiciamento. O relatório foi chamado de “chapa branca” por Romário.

Apesar de usar o relatório paralelo da comissão como base, ele disse que vai investigar a CBF ainda mais a fundo.

O senador eleito citou como “suspeita” a licitação feita pela confederação para vender os direitos de transmissão internacionais e de exploração das placas de publicidade do Brasileiro, vencida pela BR Foot Mídia. Sem experiência na área, a empresa assinou contrato para pagar R$ 550 milhões pelas propriedades. 

Em seguida, o fundo de investimentos Futbol Holdings comprou a empresa brasileira. O fundo fica localizado em um paraíso fiscal nos EUA e não informou os seus sócios. O negócio foi revelado pela Folha. 

“Que transparência é essa?”, indagou. “Deve ter gente conhecida como sócia. Isso cheira a quadrilha. Parece que estão querendo criar uma nova Traffic [empresa acusada de pagar propina aos cartolas do Brasil e do exterior]. Quero me aprofundar nisso”, disse.

Para obter apoio do novo governo, o senador eleito disse que conversará com o economista Paulo Guedes, um dos integrantes do núcleo duro de Bolsonaro, ainda neste mês. 

O paulista de 57 anos também disse que pretende fiscalizar Rogério Caboclo, presidente eleito da CBF. 
Kajuru não acredita que o afilhado político de Del Nero tem condição de fazer a renovação necessária na entidade. Del Nero foi banido pela Fifa por corrupção neste ano, 

“Na CBF o que muda é só a coleira. O cachorro é sempre o mesmo”, disse. “Quando o Ricardo Teixeira saiu e entrou o Marin, a coleira mudou, mas nada aconteceu. Agora é a mesma coisa”, completou.
Ele pretende fazer pressão para a criação de uma liga independente de clubes e mudar o colégio eleitoral da CBF.

Atualmente, as 27 federações são maioria na eleição. Os 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro também votam, mas tem um peso menor no pleito.

“Enquanto o presidente da CBF for eleito pelos presidentes de federações, como acontece hoje, você não pode acreditar que o futebol brasileiro vai mudar e não terá mais corrupção”, disse o jornalista.
Mensalmente, a CBF repassa cerca de R$ 70 mil para as federações estaduais, além de cerca de R$ 20 mil para os presidentes das 27 entidades.

Kajuru disse que a renovação no Senado (de mais de 85% das 54 vagas disputadas nesta eleição) vai ajudar os opositores da CBF a derrotar a bancada da bola, que saiu enfraquecida das urnas.
Relator da CPI do Futebol, o senador Romero Jucá (MDB-RR) foi um dos que perdeu o cargo. Além dele, Zezé Perrela (MDB-MG) e João Alberto Souza (MDB-MA), que defenderam a CBF na CPI, também deixaram o Senado. Os dois nem se candidataram.

“Espero que agora os velhacos da bancada da bola não tenham mais voz. A estrada está limpa”, disse o jornalista.

A Folha entrou em contato com a CBF e com a BR Foot Mídia, mas elas não quiseram comentar as declarações do senador eleito Jorge Kajuru. A reportagem também enviou mensagens para o advogado de Ricardo Teixeira, mas ele não respondeu até a conclusão desta edição.

Já a Futbol Holdings afirmou que a negociação com a BR Foot é sigilosa e que a empresa tornará público o seu quadro societário a partir de 2019, quando o contrato de confidencialidade dos investidores tiver expirado.

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