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Copa tem que ajudar futebol brasileiro a se vender, diz ex-número 3 da Fifa

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Virtual candidato à presidência da Fifa, o francês Jérôme Champagne, 54, tem um receio: que o futebol fique parecido com o basquete.

"Estamos vivendo, no futebol, um fenômeno elitista como o do basquete. Hoje, o mundo todo só vê a NBA. No futebol, as pessoas assistem ao Inglês, ao Espanhol, à Copa dos Campeões e a mais nada. Enquanto isso, as ligas nacionais definham", afirma.

Para romper essa tendência, ele tem ideias. Polêmicas.

Uma delas é cobrar taxas sobre os direitos internacionais de TV --os beneficiados seriam os clubes dos países que recebem essas imagens. Outra é atacar a Lei Bosman, que em 1995 começou a derrubar a limitação de estrangeiros em times de futebol.

Diplomata de formação, morou em Brasília de 95 a 97 e entrou no futebol pelo Comitê Organizador da Copa de 98. De lá foi para a Fifa, onde trabalhou por 11 anos.

Diretor de Relações Internacionais, terceiro posto na hierarquia, deixou a entidade em 2010. Surgiu como opção de terceira via em 2011, mas não lançou candidatura.

Agora, ensaia reaproximação com Joseph Blatter, que deve deixar o cargo em 2015. Sobre a próxima eleição, diz: "Não estou dentro nem fora. O momento é de debates".

Champagne conversou com a Folha na última segunda, no Rio, após participar de um debate promovido pela Fundação Getulio Vargas.

Folha - Como o senhor vê a organização da Copa de 2014?
Jérôme Champagne - Todas as Copas na história produziram debates como os que estão acontecendo no Brasil. O estádio Centenário, em Montevidéu, por exemplo, não estava pronto na abertura da primeira Copa, em 1930.
Eu trabalhei no comitê da Copa de 98. Criticaram o comitê, a França, etc. Mas organizamos a Copa, e bem. A África do Sul foi muito criticada. E a Copa foi fantástica.
O importante é que o futebol existe no Brasil antes da Copa e vai continuar depois. Daí que o evento tem que ser pensado para servir o futebol brasileiro após o apito final.
Qual vai ser o legado da Copa para que o futebol brasileiro cresça, se exporte mais, seja mais visto lá fora? Essa tem que ser a pergunta central.

Que legado pode ser este?
A Copa tem que ajudar o futebol brasileiro a crescer e mostrar que está mudando da forma que o país mudou.
Havia uma época em que os clubes brasileiros excursionavam pelo mundo. Iam para África, Ásia, Europa... Era fantástico. Era possível ver o Santos jogando em Paris!
O problema é o calendário. E esse calendário tem que considerar os interesses fundamentais dos Estaduais, porque o futebol brasileiro não pode se limitar aos 40 clubes da Série A e da Série B.
O campeonato do Amapá é importante porque é uma das bases da pirâmide do futebol do país. O desafio é fazer um calendário que leve os Estaduais em conta, mas que também permita aos grandes clubes se mostrarem lá fora.
É preciso uma reflexão com todos os atores --atletas, clubes, federações e CBF-- para ver como a Copa pode ajudar o futebol brasileiro.

O senhor estava na organização da Copa de 98. Por que isso não foi feito na França?
Foi uma situação diferente. Havia o choque recente de uma interferência política, o Caso Bosman. A França e os clubes franceses eram bem fortes antes da lei. Agora, a França é o segundo país, só atrás do Brasil, em jogadores que atuam fora do país.
Hoje, o jovem francês que sai das divisões de base de um clube da primeira ou da segunda divisão imediatamente recebe ofertas dos grandes clubes e, com a Lei Bosman, isso não tem limites. Países como a França, o Brasil e os da África hoje são só provedores de talentos.

O senhor defende ajuda financeira da Fifa aos clubes?
Sim. Hoje, nas 209 federações filiadas, há mais ou menos 2.500 clubes de primeira divisão. Desses, 2.000 precisam de ajuda. A Fifa tem que agir. Se há uma cidade com dois clubes e nenhum deles tem Centro de Treinamento, parece-me correto investir lá.
Sou a favor de rever a Lei Bosman para impor um novo tipo de cota aos clubes. Hoje, o Chelsea não precisa investir em formação, em times de base, porque tem dinheiro para contratar quem quiser.

Mas isso não esbarra na legislação europeia?
Precisa haver uma discussão para modificar as regras. O problema, supostamente, é o do direito europeu de livre comércio. Essa foi a brecha usada pelos grandes clubes para criar uma espécie de hipercapitalismo do futebol.
Hoje, as grandes equipes são formadas só por estrelas globais. Veja o Paris Saint-Germain, que foi comprado por um grupo do Qatar. A região de Paris era a mais forte do país na formação de talentos. Hoje, jovens do PSG sabem que nunca vão jogar no time de cima e estão saindo.
É um cenário de distorção econômica, que corrompe a justiça do esporte e gera crescimentos artificiais.

E como ajudar os clubes?
Uma ideia é criar uma taxa sobre os direitos de TV vendidos fora do país. A Fifa dedica 30% de seus recursos a programas de desenvolvimento. Mas o Campeonato Inglês, distribuído em 202 países, não ajuda com nada. Pelo contrário: toma dinheiro desses países, esvazia seus estádios, leva jogadores. O papel da Fifa é reequilibrar isso.
Não é um imposto sobre a venda dos direitos do Campeonato Espanhol dentro da Espanha. Não. Mas se a Espanha vende direitos em um país onde a liga local tem dificuldades com essa concorrência injusta, tem que oferecer uma compensação.
Podemos pensar também num tipo de fundo abastecido com os recursos das transferências internacionais.

O senhor já comparou a situação do futebol à do basquete...
Como no basquete, o futebol ruma para o elitismo, em direção a uma minoria rica.
O clube que terminar o próximo Campeonato Inglês em 20º vai ganhar duas vezes mais do que o campeão francês. Vai receber mais do que o terceiro colocado na Espanha
Então, se você é presidente do Wigan ou do Sunderland, seu único objetivo é ficar na primeira divisão, comprar alguns jogadores estrangeiros para se manter artificialmente por lá, mesmo que isso prejudique o Campeonato Sul-Africano ou o Brasileiro.

Como o senhor vê o fato inédito de o presidente da CBF, José Maria Marin, ser também o presidente do comitê organizador da Copa do Mundo?
Você já disse tudo. A pergunta é suficiente. É um acúmulo de funções, e é a primeira vez na história que algo assim existe. Isso já diz tudo.

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