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Deveria ser proibido torcer na tribuna de imprensa, diz Clóvis Rossi sobre Copa-90

William Mur/Editoria de Arte/Folhapress
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Minha Copa inesquecível foi a da Itália-1990. Aquela em que o Brasil sofreu a eliminação mais precoce desde o fracasso em 1966 na Inglaterra.

Mas, calma, patrioteiros de plantão, não foi por isso. De todo modo, confesso com toda a honestidade que não me sinto condenado a torcer pelo Brasil só por ter nascido aqui. Não vejo o futebol como a encarnação da pátria de chuteiras mas como uma arte, um balé, um espetáculo. Em sendo assim, se os bons artistas são russos, chineses, australianos, marcianos ou brasileiros, torço pelos bons artistas.

E, como logo ficou óbvio, a seleção de 1990 não tinha bons artistas, além de ter como técnico um falastrão enganador, chamado Sebastião Lazaroni.

O que me marcou, naquela Copa, foi a comprovação ao vivo da promiscuidade inaceitável entre uma parte da chamada crônica esportiva e os jogadores/dirigentes. OK, ingenuidade minha, dirá você, do alto de suas certezas e cinismo.

Verdade. Uma coisa é você notar a promiscuidade em cada transmissão de partidas da seleção, até no mais inocente dos amistosos. Outra, mais chocante, é vê-la em ação no cotidiano de cobertura de Copa –momento em que patrioteirismo e promiscuidade vivem seu maior esplendor.

Moacyr Lopes Junior - 21.set.2007//Folhapress
O clonuista Clóvis Rossi na redação da *Folha*
O colunista Clóvis Rossi na redação da Folha

Minha ingenuidade me levava a acreditar que lugar de torcedor é na arquibancada. Na tribuna de imprensa, o lugar é para a informação, não para a torcida.

Na Itália, o choque de realidade veio no dia em que a delegação brasileira desembarcou no aeroporto de Fiumicino. No trajeto do terminal para o ônibus que os levaria à concentração, um dos jornalistas dava tapas nas costas de cada jogador, com frases como "vai, Taffarel", "boa sorte, Dunga" e assim por diante.

Segundo choque: verificar como Romário tratava bem os jornalistas enquanto sua permanência com a seleção estava em dúvida por causa de uma contusão. Quando foi finalmente confirmado, dava-lhes solenes bananas, mesmo para os mais bajuladores.

Havia todo um discurso para justificar o patrioteirismo, explicitado por Robério Vieira, o "Gata Mansa", assessor de imprensa da CBF: se a seleção fosse bem, seria bom para todos, inclusive os jornalistas. Tremenda tolice: não consta que o salário de um só jornalista tenha sido cortado só porque a seleção caiu fora logo.

Por falar no assessor (já morreu), na véspera do jogo contra a Argentina, pelas oitavas de final, disseram a ele que eu já havia marcado a volta para o dia seguinte à partida, certo de que o Brasil perderia.

Robério perguntou se era verdade. Não era, mas eu disse que era, afinal "essa seleçãozinha não vai conseguir ganhar do Maradona". Ele devolveu: "Azar seu, vai viajar sozinho porque vamos ganhar".

Na noite seguinte, 1 a 0 para a Argentina, Robério, com o paletó manchado de lágrimas, me viu na sala de imprensa e disse: "Você tinha razão, é uma seleção de merda".

Pena que boa parte da mídia só tenha descoberto a verdade após aquele passe de Maradona para o gol de Caniggia.

Clóvis Rossi é colunista da Folha

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