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A minha Copa: Não houve frustração para mim em 1950, diz Janio de Freitas

Editoria de Arte/Folhapress
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Você já leu e ouviu vezes incontáveis, mas não sabe o que ouviu e leu. Vale repetir: "O Maracanã caiu em um silêncio absoluto, 200 mil pessoas emudecidas, paralisadas, atônitas".

Convenhamos, não era para menos: gol do Uruguai. Nem era para mais: seria difícil inventar mentira mais aparentemente lógica para as circunstâncias de um segundo gol uruguaio contra um único do Brasil. Era a própria taça que Ghiggia fazia entrar no gol.

O que se seguiu foi o troar abafado de 200 mil vozes de espanto, lamúria, incerteza, foi gol? E agora? Meu Deus, 200 mil sons como um vapor muito denso, indistinguíveis, sem gritos. Uma sonoridade cava e penetrante como o som da terra nos terremotos.

E nem então veio o silêncio. Os 200 mil continuaram torcendo, sem alegria mas torcendo. Até a sentença do apito. E aí os 200 mil reencontraram o seu destino histórico: nas rampas, só o som imenso dos passos emergia da marcha bovina para o recesso da frustração.

A verdade é que o selecionado (assim se dizia) não era a maravilha apregoada. No seu jogo em São Paulo, penou por um empate de 2 a 2 com os turísticos suíços. Mas o trio Zizinho, Ademir e Jair e uma goleada carnavalesca no vistoso time da Espanha, com o Maracanã cantando "Touradas de Madri", difundiram o sonho de campeão antecipado. O time uruguaio não era melhor. O Brasil poderia dizer que teve menos sorte, mas preferiu dizer que Bigode, um brucutu, se acovardou e que Barbosa falhou.

Barbosa, ninguém precisa ter dúvida a respeito, foi o melhor goleiro brasileiro pelo menos desde iniciada a década de 40. Foi sensacional sem sensacionalismos, graças à colocação perfeita. E goleiro de agarrar a bola, que Barbosa trazia com estilo para o peito, não goleiro enluvado que soca todas. E contra Barbosa ainda foi inventada a idiotice de que comprou a trave do Maracanã e queimou-a em um churrasco.

De quebra, lembro que Ghiggia foi craque para os brasileiros. Zizinho, um gênio incomparável, que viveu sob a perversidade cronológica de não jogar na era da TV e do marketing, foi eleito unanimemente o craque da Copa, tanto nas votações dos jornalistas internacionais como na dos jogadores estrangeiros.

Paixão das sucessivas gerações da família desde a fundação do Flamengo, o futebol foi a minha diversão de infância. Os pequenos éramos levados a acompanhar o Flamengo domingo a domingo, nas então demoradas e aventurosas idas aos campos suburbanos.

Depois, o Maracanã de todas as tardes de todos os fins de semana.

Adolescente na Copa de 1950, posso confessar que outra coisa me importou mais do que o jogo e me poupou da frustração: vi a final da Copa com a belezinha que, naquela altura, se imagina ser o amor único, definitivo, eterno –a própria vida, até o fim. A minha Copa não foi perdida.

Janio de Freitas é colunista da Folha

Daniel Marenco - 26.mar.2012/Folhapress
O jornalista Janio de Freitas
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