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A minha Copa: Um fato isolado pode contaminar um país, afirma Sérgio Dávila

Editoria de Arte/Folhapress
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Meia hora antes de os jogos começarem, os meninos da Fifa passavam distribuindo papeis impressos com a escalação dos times que iam se enfrentar logo mais para nós, jornalistas que cobríamos a Copa da França de 1998.

Assim que recebi o meu, no espaço reservado à imprensa no Stade de France naquele 12 de julho de 1998, dia da final entre Brasil e França, vi que algo estava errado.

Nos titulares brasileiros, faltava alguém entre o capitão, Dunga, camisa 8, e o meia Rivaldo, número 10. No fim da lista, depois de Bebeto (20), aparecia Edmundo, com a 21. Entre os reservas, o susto: Ronaldo (9).

Liguei para a Redação em São Paulo, mas não consegui completar a chamada. Eram tempos pré-massificação da internet, e a telefonia celular também claudicava. Fui teclando os números fixos de minha lista de contatos em busca de alguém que avisasse o jornal.

No terceiro, atendeu um amigo, jornalista que acompanhou a Copa toda como espectador, mas já tinha voltado ao Brasil por falta de ingresso para o jogo de encerramento. Estava numa das milhares de festas que se organizaram em torno da final por todo o país.

Eu contei a novidade. Ele deu uma risada. Tampou o bocal do telefone e gritou para os presentes, ainda rindo: "Gente, o Sérgio está dizendo que o Animal foi escalado no lugar do Ronaldinho!" -naquela época, o Fenômeno ainda era Ronaldinho, e o Ronaldinho Gaúcho era uma jovem revelação do Grêmio.

Um gaiato gritou de volta: "É isso que dá mandar quem não entende nada de futebol cobrir Copa do Mundo!" Mais risos. Eu não entendo nada de futebol. Entendia um pouco mais em 1998, mas ainda assim mal dava para o gasto.

'OUTSIDER'

Essa minha "qualidade" valeu minha convocação pela Folha para o time que cobriu o evento.

O jornal queria um "outsider", alguém com olhar "estrangeiro" que fizesse reportagens chamadas no jargão de "sides", textos sobre aspectos humanos, curiosos e não necessariamente ligados ao futebol.

Um deles falava do aumento da prostituição nas vans estacionadas num bosque que cortava a cidade de Ozoir-la-Ferrière, a 45 minutos de Paris, onde a seleção brasileira ficou concentrada.

Outro trazia título premonitório: "Mãe de Ronaldinho diz que briga do filho com namorada foi 'à-toa'". Relatava os rumores sobre o rompimento entre o jogador e a modelo Suzana Werner e como isso poderia afetar a performance dele no campo.

Pois bem. Naquele dia Ronaldo não iria jogar a final. Logo a informação se espalhou pelos jornalistas no estádio, na sala de imprensa, nas Redações do mundo inteiro. Ele estava doente.
Acidentou-se! Amarelou? Muitas eram as conjecturas.

Minutos depois, antes mesmo de o jogo começar, quando o estádio foi tomado pelos azuis cantando a "Marselhesa", como lembrou Juca Kfouri em almoço recente, nós já sabíamos: naquela noite, o Brasil seria vice.

Minha Copa foi a de 1998, que mostrou como um fato isolado pode contaminar um time, uma torcida, um país.

Sérgio Dávila é editor-executivo da Folha

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