Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu

Pirei com a conquista do tri, lembra José Trajano

Editoria de Arte/Folhapress
José Trajano
José Trajano
Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

A primeira Copa ao vivo a gente nunca esquece. E a minha, por sorte, foi a de 1970, no México. A última de Pelé. E a que nos deu em definitivo a Jules Rimet, depois derretida. É mole ou quer mais?

Fui para o México bem antes da seleção pôr os pés na terra de Cantinflas. E olha que o pessoal da canarinho desembarcou com um mês de antecedência, para se acostumar com a temida altitude. É que eu e uma turma, chefiada por João Máximo, havíamos trocado o "Jornal do Brasil" pelo "Correio da Manhã". E fui enviado na frente para resolver questões burocráticas.

Apesar da incômoda presença do major Ypiranga dos Guaranys, escolhido a dedo pelo SNI (Serviço Nacional de Informações) para monitorar a imprensa e chefiar a segurança da seleção, o convívio com a comissão técnica e jogadores era muito bom.

Diferentemente dos dias de hoje, quando há hora marcada para tudo.

Chegamos a dar uma surra no time formado por Zagallo, Cláudio Coutinho e Parreira numa pelada disputada na concentração, em Guanajuato, espécie de Ouro Preto mexicano, cidadezinha onde a seleção se preparou antes de viajar para Guadalajara.

Queríamos torcer contra. Pelo menos alguns de nós. Achávamos que o ditador Médici iria se aproveitar caso a seleção ficasse com o caneco. Bastou Rivellino, aos 24 min, empatar o jogo de estreia contra os tchecos para todos virarem a casaca. Terminou 4 a 1, mole, mole. E ninguém mais falou nisso.

Fora a partida contra a Inglaterra, vencida por 1 a 0, após jogada magistral de Tostão, driblando sem perdão a Bobby Moore, o maior zagueiro que vi, e também quando o injustiçado Félix fez defesa digna de Lev Yashin, o Brasil passou por todo mundo como um foguete.

Foi a Copa marcada pelas bolas que entraram, mas também pelas que não entraram, todas protagonizadas por Pelé: o chute do meio-campo por cima do goleiro tcheco Viktor; a cabeçada defendida pelo genial inglês Gordon Banks; dois lances contra o uruguaio Mazurkiewicz, além do gol anulado contra a Itália no finzinho do primeiro tempo.

Nós, jornalistas brasileiros, também fomos campeões em torneio disputado por ingleses, mexicanos e sul-americanos. Joguei como zagueiro direito e calcei em todas as partidas chuteiras emprestadas pelo Fontana. Com todo respeito ao zagueiro, preferia que fossem dos craques Gerson ou Tostão. Ou, então, de Rivellino ou Carlos Alberto. Com certeza, melhoraria meu pobre futebol.

Vejam só! Após a final contra a Itália, comemoramos com os jogadores em uma boate no chiquérrimo hotel Camino Real, onde se exibiam Wilson Simonal e o conjunto do César Camargo Mariano. Foi baita farra até de manhã.

Pirei com a conquista do tri. Não queria voltar para o Brasil. Achava que a Cidade do México, local da final da Copa, tinha cheiro agradável de baunilha. E queria conviver com a metade da bossa-nova que morava lá (João Gilberto, Carlos Lyra, Tamba 4, Lennie Dale), além de ir todas as noites assistir à vedete Nache de Acapulco no teatro de revistas em frente ao hotel.

Voltei. Fui a mais cinco Copas. Mas sempre que ouço João Gilberto cantando "Farolito", gravada no México no mesmo ano, choro de saudades. A Copa de 70 foi demais!

O texto de José Trajano, comentarista da ESPN e autor de "Procurando Mônica", faz parte da série "A Minha Copa", publicada aos domingos. Leia os textos anteriores em www.folha.com.br/folhanacopa

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade

Siga a folha

Publicidade

+ Livraria

Livraria da Folha

Jogo Roubado
Brett Forrest
De:
Por:
Comprar
Festa Brasil (DVD)
Vários
De:
Por:
Comprar
The Yellow Book
Toriba Editora
De:
Por:
Comprar
Futebol Objeto das Ciências Humanas
Flávio de Campos (Org.), Daniela A.
De:
Por:
Comprar
Folha na Copa
Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página