Copa opõe seleção bem-sucedida a organização sob desconfiança
De um lado do campo, estádios modernos lotados, todos os campeões mundiais da história no torneio, previsão do hino cantado em coro por jogadores e torcedores a cada partida da seleção. E ainda a chance bastante real de encerrar o trauma da Copa de 1950 com a conquista do hexacampeonato.
Do lado oposto do campo, gastos bilionários em estádios e outras obras de infra-estrutura, desconfiança sobre a capacidade do Brasil de organizar uma competição dessa magnitude e greves que tumultuaram o país nas últimas semanas.
Nesta quinta (12), começa o maior evento da história do esporte do país, com as atenções divididas. O país confia na seleção, que vem de uma série de resultados positivos, mas só metade da população brasileira aprova a realização do Mundial por aqui, como revelam as pesquisas mais recentes do Datafolha.
Na cerimônia de abertura da 20ª Copa, a presidente Dilma Rousseff vai se sentar ao lado dos cartolas da Fifa na tribuna de honra do Itaquerão, em São Paulo.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Desta vez, ela não fará discurso –seu nome nem sequer será anunciado no estádio. A intenção é evitar a repetição da vaia no início da Copa das Confederações, em 2013.
A partir das 17h, a seleção comandada por Luiz Felipe Scolari enfrenta a Croácia no estádio que se tornou um dos símbolos da falta de organização do segundo Mundial a ser realizado no Brasil –o primeiro aconteceu há 64 anos.
No Itaquerão, que custou mais de R$ 1 bilhão, o Brasil –o único que disputou todas as edições do torneio– vai tentar manter a escrita na busca pelo sexto título.
Para o jogo desta quinta, a seleção conta com uma marca favorável. Até então, nenhum país anfitrião foi derrotado na partida de estreia.
"Chegou a hora! E vamos todos juntos, é o nosso Mundial", disse Felipão, nesta quarta (11), no estádio.
Neste momento, contudo, os brasileiros não estão juntos no apoio à Copa.
Pesquisa Datafolha do início deste mês mostra que a realização da Copa no Brasil divide em fatias semelhantes a população de São Paulo.
Entre os paulistanos, 41% são a favor da realização do evento, e 46% são contra.
11% que são indiferentes.
Já na população brasileira, a avaliação sobre a Copa é mais positiva: 51% aprovam o Mundial ante 35% que se opõem ao evento.
Prometida em 2007 por Ricardo Teixeira, então chefe da CBF, como a Copa da iniciativa privada, o Mundial consumiu cerca de R$ 26 bilhões –a maior fatia em dinheiro público.
Os números superlativos, aliás, dominam o Mundial.
Embora tenha rachado o país, a segunda Copa realizada no Brasil vai marcar o maior lucro da história da Fifa. A entidade que comanda o futebol no planeta vai arrecadar cerca de R$ 10 bilhões.
A Fifa também nunca vendeu tantos ingressos para um evento. Já foram comercializados 2.967.911 bilhetes.
Pela primeira vez na história, a Copa será transmitida para todos os países do mundo. A quantidade de telespectadores deve superar os 3,2 bilhões que assistiram ao Mundial de 2010.
HEXA?
Os números da Copa chamam a atenção; os da seleção brasileira também.
Campeã da Copa das Confederações, a equipe é favorita ao título, que não vence desde 2002. Nunca perdeu um jogo no país sob o comando de Felipão, está invicto há 13 jogos oficiais com o técnico e acumula nove vitórias consecutivas.
Com o apoio da torcida e Neymar como protagonista, após o jogo contra a Croácia, a seleção terá ainda mais cinco adversários pelo caminho para chegar ao Maracanã no sonhado dia 13 de julho.
"Gostaria que encontrássemos a seleção uruguaia de novo na final da Copa e vencêssemos. Seria uma linda revanche", deseja Pelé, o maior jogador da história do futebol brasileiro. Será?
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