Imagine que Felipão tivesse decidido que o Brasil não conseguiria sair da primeira fase —que a Croácia, Camarões e México eram adversários fortes demais para a seleção brasileira.

Imagine que, tendo se classificado para o maior torneio do mundo, Felipão tivesse decidido que era mais importante preparar um time jovem para a Copa América de 2015 e para garantir a classificação do Brasil à Copa do Mundo de 2018.

Impossível imaginar? Claro que sim. A menos que você torça para a outra seleção verde e amarela.

Parece que a Austrália está começando a Copa do Mundo de 2014 sem ter por que lutar a não ser o orgulho, pois não há esperança de glória. Em nosso grupo, com Espanha, Holanda e Chile, ninguém fala sobre a Austrália como uma equipe capaz de se classificar para a segunda fase.

E com razão, aliás, porque se trata de três países que podem chegar às semifinais, com a Espanha sendo uma das quatro equipes do torneio que tem chance realista de glória.

Como consequência, o treinador Ange Postecoglou aceitou seu destino e decidiu que começaria a planejar para o futuro, principiando pela Copa Asiática de 2015, que será realizada na Austrália em janeiro do ano que vem.

Por muitos anos a Austrália teve uma seleção competitiva no cenário mundial, e os "Socceroos" conseguiram derrotar algumas das maiores seleções do planeta: Brasil, França, Uruguai, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Holanda, Dinamarca, Sérvia, Japão, Coreia do Sul e muitas mais. No entanto, a "geração de ouro" que conquistou essas famosas vitórias envelheceu, e muitos de seus integrantes se aposentaram nos últimos anos.

Mesmo aqueles que estavam tentando vaga na Copa do Mundo deste ano —Mark Schwarzer, 41; Lucas Neill, 36; Sasa Ognenovski, 35; Harry Kewell, 35; Brett Emerton, 35; Luke Wilkshire, 32; David Carney, 30; e Brett Holman, 29— foram basicamente informados pelo novo técnico de que não estavam mais nos seus planos.

Agora restam apenas dois membros da "geração de ouro", Tim Cahill e Mark Bresciano, ambos com 34 anos, mas em boa forma, e cujas qualidades são grandes demais para que sejam ignoradas, apesar de sua idade.

Cahill jogará isolado como único atacante da Austrália, a despeito de sua altura (1,79 m) e de ter passado a maior parte de sua carreira atuando no meio de campo. Ainda assim, sua extraordinária impulsão significa que ele é uma grande ameaça no jogo aéreo, especialmente nos escanteios e faltas.

Bresciano jogará com a camisa 10, mas apenas se os preparadores físicos o liberarem. Ele está tentando superar uma lesão séria nas costas, mas ainda assim jogou 30 excelentes minutos contra a Croácia em El Salvador na semana passada.

É difícil antever a Austrália conseguindo alguma coisa em qualquer de suas partidas no Brasil, mas a confiança da equipe é surpreendentemente alta.

Ainda que eles formem uma das seleções mais jovens do torneio, estão começando a disputa sem medo e nem expectativas.

Embora o time do Chile seja excelente, as dúvidas sobre a forma física de Arturo Vidal são sérias, pois ele é o gerador de energia para sua equipe.

Seria um grande estímulo para a Austrália caso ele fique de fora, dado o número de jogadores dos "Socceroos" que estão lesionados (Robbie Kruse, Tom Rogic, Rhys Williams, Trent Sainsbury e Curtis Good).

Ainda que a maior parte das pessoas antecipe que o Chile vencerá por dois ou três a zero, é possível que a Austrália segure um empate, o que seria um excelente resultado. Ainda melhor seria a Austrália conseguir um gol. Mas isso não será tão fácil.

No entanto, ninguém esperava que nossos vizinhos da Nova Zelândia se saíssem bem na Copa do Mundo de 2010, mas eles encerraram o torneio como única equipe invicta.
Isso prova que qualquer coisa é possível na Copa do Mundo. Com alguma sorte, a Austrália talvez não seja o adversário fácil que o resto do mundo espera.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

	Editoria de Arte/Folhapress