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O bósnio: "Depois de anos de pesadelo, o sonho enfim se realiza"

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Quando o árbitro alemão Felix Zwayerd soprou seu apito pela última vez naquela noite fria em Kaunas, por um segundo o silêncio tomou as arquibancadas e o gramado. O gol de Vedad Ibisevic bastou para vencer a Lituânia e garantir o primeiro lugar no grupo das eliminatórias. Ainda assim, era como se os bósnios - jogadores, treinadores, torcedores, jornalistas, todo mundo - estivessem se perguntando se aquilo era mesmo verdade. Tínhamos conseguido? Nada está errado? Como se alguém tivesse de sussurrar para eles que "sim, vocês conseguiram, vocês estão na Copa do Mundo".

A explosão de emoções que se seguiu mostrou o quanto aquelas eliminatórias significavam para a nação. Mais de 50 mil pessoas saíram às ruas de Sarajevo para receber a seleção naquela noite, tratando os jogadores como heróis nacionais. Eles circularam pela cidade em carro aberto, saudaram e agradeceram a torcida de uma sacada no centro da cidade; as pessoas dançaram nas ruas a noite inteira.

De certa forma, o gol de Ibisevic marcou não só um momento histórico para o futebol bósnio mas o final da campanha mais bem sucedida de sua história. Não é apenas que a vitória tenha sinalizado a maior celebração na história moderna de um país conturbado, mas ela também pôs fim à aura de guerra que flutuava por sobre as cabeças de todos os bósnios.

Há 20 anos, a Bósnia e Herzegovina estava no centro da mais cruel guerra em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1992, esse pequeno e pitoresco país montanhoso, onde sempre existiu uma mistura de religiões e etnias, posicionado entre o leste oriental e o oeste moderno, conquistou sua independência, deixando de ser parte da Iugoslávia que estava aos poucos se dissolvendo. No entanto, a complexidade de sua sociedade e a estrutura étnica de sua população conduziram a um banho de sangue que em três anos custou mais de 100 mil vidas e deixou o país completamente destruído.

A guerra terminou em 1995 com uma trégua que produziu um sistema político ineficiente e autodestrutivo, que expunha todas as divisões que existiam na Bósnia e Herzegovina. Em lugar de um processo de reconstrução, 20 anos depois o país continua dividido e enfrenta uma queda econômica que parece impossível de deter. O índice de desemprego de 44,3% é um dos piores do mundo; mais de 50% da população vive na pobreza, e a renda média de cerca de 400 euros mal basta para cobrir as despesas básicas.

O que é pior, há apenas três semanas, enquanto a Bósnia se preparava para a Copa do Mundo, o pior desastre natural em 100 anos se abateu sobre o país. As terríveis inundações que varreram o norte da Bósnia deixaram um terço do território bósnio sob a água e destruíram tudo que encontraram em seu caminho.

Por muitos anos, o povo da Bósnia e Herzegovina não conheceu outra coisa que não sofrimento, dores e problemas, e o futebol não era exceção. Nos últimos 18 anos, desde que disputamos nosso primeiro amistoso, em Tirana contra a Albânia, os bósnios sempre estiveram distantes dos grandes palcos. E nem tivemos grandes gerações - a de 1996, com Hasan Salihamidzic, do Bayern de Munique como líder, esteve perto do empate em um amistoso em Manaus contra o Brasil (Ronaldo marcou o único gol do jogo), e a mesma geração perdeu a chance de disputar a Copa do Mundo e a Eurocopa em suas partidas finais de eliminatórias. O mesmo aconteceu de novo posteriormente - em 2010, a Bósnia e Herzegovina perdeu para Portugal na repescagem, o que voltaria a acontecer dois anos mais tarde.

Tudo mudou naquela noite em Kaunas. O emblemático gol de Ibisevic pôs fim à fase de derrotas e deu alguma coisa ao país. É claro que a vida não será melhor, a pobreza não desaparecerá, as tensões políticas continuarão. Mas quando Edin Dzeko, Miralem Pjanic, Asmir Begovic e os demais heróis do país se perfilarem hoje - exatamente oito meses depois do gol de Ibisevic - para ouvir o hino nacional na Copa do Mundo pela primeira vez, a nação será feliz e deixará de pensar nas coisas ruins que aconteceram. Pelo menos por 90 minutos, os bósnios serão um povo feliz que poderá concentrar suas atenções em uma simples partida de futebol.

Mesmo antes do pontapé inicial de hoje, não importa o que aconteça na partida contra os argentinos - e os Dragões com certeza farão seu melhor -, a Bósnia e Herzegovina é uma verdadeira vitoriosa nessa Copa do Mundo. Por estar no Brasil e levar alegria à sua nação.

Editoria de Arte/Folhapress

Tradução: Paulo Migliacci

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