Primeiro o mundo conheceu Ronaldo, o Fenômeno, e na última década conheceu o fenômeno Ronaldo. Duas situações distintas, dois jogadores a marcar a história do futebol mundial.

Dois craques. O brasileiro já deixou a sua marca, o português está a deixar. Nós, os portugueses, sempre admiramos o Ronaldo, o Fenômeno, pela sua genialidade em campo, mas também por aquele sorriso que sempre tinha na cara. Boa parte dos portugueses seguiam Ronaldo até por ser companheiro de Vítor Baía, Fernando Couto e Figo no Barcelona.

Cristiano Ronaldo está marcando uma geração e, acredito, no futuro será recordado como um dos melhores jogadores mundiais de todos os tempos. Aliás, já é. Os portugueses esperam muito do capitão, melhor jogador português de todos os tempos, nesta Copa do Brasil. Mas se a equipe das Quinas está no Brasil deve isso a Ronaldo.

O mata-mata com a Suécia ficou na história, mas antes, ainda nas eliminatórias, Portugal estava pendendo na Irlanda do Norte, por 2 a 1, e ganhou por 4 a 2. O craque marcou três e resolveu a partida. Se tivesse perdido esse jogo, até a repescagem estaria comprometida.

Portugal vale muito menos sem Ronaldo, é um fato, mas tal aconteceria com qualquer seleção ou qualquer equipe que não pudesse contar com o melhor do mundo. E já deu para perceber que o mundo do futebol também deposita grande expectativa nele. Outra coisa não seria de esperar do Bola de Ouro de 2013.

O craque português está preparado para isso. Mesmo não tendo surgido na melhor condição física nesta parte final da temporada, está recuperado e a vontade que tem de fazer um grande Mundial supera tudo.

Ronaldo é um vencedor, um grande profissional e um atleta magnífico. Teve o azar de pertencer à geração de Messi, outro craque, e só por isso não foi consagrado mais vezes o melhor do Mundo. Imaginem ainda o que seria se tivesse nascido num país como o Brasil, a Argentina ou a Alemanha? A possibilidade de conquistar mais troféus coletivos seria maior e o talento que tem seria perpetuado para a eternidade.

Cristiano Ronaldo é um craque e um fenômeno de popularidade. Acompanho permanentemente a seleção portuguesa desde 2004, o ano em que Cristiano Ronaldo começou a explodir e participou na sua primeira grande competição, a Eurocopa realizado em Portugal, e o que tenho visto um pouco por todo o mundo é o carinho que os adeptos nutrem pelo português.

É impressionante. Se antes a seleção era recebida com assobios nos países por onde passava, na última década esses assobios foram trocados por aplausos. Tudo por causa de Ronaldo. Não tenho dúvidas. Por onde passa é uma loucura. Ronaldo, com aquele ar de menino, aprecia esse carinho. Enche-o de orgulho. Só não chega mais vezes perto do povo por questões de segurança.

Há uns anos, na Albânia, o hotel da seleção ficava a uns 200 metros do estádio e os jogadores podiam perfeitamente descer a pé, mas a polícia não autorizou. Eram milhares e milhares de adeptos à espera de ver Ronaldo passar. A equipa teve de fazer aquele percurso muito curto de autocarro, com fortes medidas de segurança. O entusiasmo dos adeptos era tal que foi difícil controlar a multidão. E eram todos adeptos albaneses. Uma popularidade que superou mesmo a que Figo tinha, apesar do midiatismo que sempre teve depois de assinar com o Barcelona e de jogar no Real Madrid.

No Brasil, esse fenômeno de popularidade mantém-se, mas o que surpreende verdadeiramente é que estamos falando de um país que sempre teve alguns dos melhores jogadores do mundo. É gratificante passar por várias cidades brasileiras e perceber a paixão que os brasileiros —e as brasileiras, claro— nutrem pelo craque português. O fenômeno Ronaldo vai prosseguir.

Manuel Casaca, 44, é jornalista do diário português "O JOGO" há 20 anos e, atualmente, é editor. Desde 2004 acompanha a seleção portuguesa. Cobriu três Eurocopas (2004, 2008 e 2012) e as Copas do Mundo da Alemanha (2006) e da África do Sul (2010). No Brasil, cobre seu terceiro Mundial