Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu

O nigeriano: "Vitória contra a Bósnia é inegociável"

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Quando os grupos da Copa do Mundo 2014 foram sorteados, os nigerianos celebraram a sorte de cair no Grupo F, no qual a seleção do país, os "Super Eagles", teria um jogo fácil contra o Irã, o que elevaria seu moral e permitiria que se preparasse para o duelo contra os estreantes da Bósnia-Herzegóvina, antes de encarar a partida final contra a Argentina, favorita do grupo e do certame.

Em 16 de junho, na Arena da Baixada em Curitiba, a equação mudou, as expectativas desapareceram e o desânimo tomou o país. Apesar de tentarem por 90 minutos, os nigerianos não conseguiram quebrar a resoluta defesa iraniana. Por 90 minutos, milhões de nigerianos em seu país e na diáspora assistiram, inconformados, à exibição de concentração, determinação e dedicação dos iranianos para frustrar uma equipe nigeriana que parecia incapaz de encontrar seu jogo naquele dia.

Kola Oweniyi, que economizou para poder viajar o Brasil e torcer pelo seu time, estava atônito no estádio, e passou minutos imóvel depois do apito final. Ele disse que não reconheceu sua seleção. "Os nigerianos não jogam assim. Estávamos lançando bolas sem rumo. Sem controle, sem plano de jogo, sem um jogador que se erguesse para decidir pelo país", lamentou Oweniyi, enquanto os torcedores iranianos gritavam em volta dele como se tivessem vencido o jogo.

Na Nigéria, meu filho Enobong Paul Bassey havia saído para comprar uma camisa da Nigéria na véspera do jogo. Que o preço equivalesse a US$100 não dissuadiu o jovem torcedor. Depois da partida, ele estava arrependido e contemplando se teria a confiança para voltar a vesti-la, no jogo do sábado (21/6).

Nas ruas de Lagos, Abuja, Calabar e Kaduna, os jogadores nigerianos foram fortemente criticados por sua falta de dedicação e de esforço. As pessoas comentavam sua situação como superastros em ligas europeias, comparada à modesta situação dos iranianos, no papel.

Os nigerianos eram unânimes em acreditar que esta Copa do Mundo seria uma oportunidade de se saírem melhor do que nas quatro participações anteriores, e confiavam em um treinador que, desde que assumiu o comando, prometia redenção para o continente africano.

O treinador Stephen Keshi não foi poupado de críticas. A de que, taticamente, nada sugeria que seus comandados poderiam fazer melhor, mesmo em um segundo tempo que os africanos dominaram, mas sem resultados concretos a mostrar. E que sua escalação não havia sido a melhor, que ele havia tirado Victor Moses do time antes da hora...

E é claro que o treinador respondeu. Que na Nigéria todo mundo acha que é técnico, que os jogadores de seu país não haviam respeitado o Irã, que a campeã mundial Espanha havia sido surrada por cinco a um pela Holanda e que, acima de tudo, ele prometia a recuperação diante da Bósnia-Herzegóvina.

A expectativa era de que a Bósnia perdesse para a Argentina em sua partida de abertura na Copa do Mundo, dado o arsenal de que o país sul-americano dispõe, mas a despeito da derrota a equipe europeia tem muito de que se orgulhar pelo seu desempenho.

A Bósnia se classificou para a Copa do Mundo marcando espantosos 30 gols, graças à parceria de ataque entre Edin Dzeko, do Manchester City, que disputou 63 partidas pela seleção, marcando 28 gols; Vedad Ibisevic, do Stuttgart, que jogou 56 vezes pela seleção, com 21 gols; e o veterano capitão Zvjezdan Misimovic, que já acumula 82 partidas pela equipe nacional bósnia.

A Argentina descobriu para sua surpresa que o meio de campo formado por Miralem Pjanic, o armador da Roma, na Itália; Sven Susic, do Hadjuk Split; e Lulic Senad, da Lazio, era sólido, e havia também o sólido desempenho do goleiro Asmir Begovic, do Stoke City, da segunda divisão inglesa, que com 31 partidas pela seleção monopoliza o posto na Bósnia.

E essa equipe sabe que, depois da derrota para a Argentina, mesmo um empate contra os "Super Eagles" não será suficiente —é necessário vencer. E é essa a equipe que os nigerianos terão de vencer, conscientes do fato de que um empate seria uma proposição arriscada em uma situação na qual sua partida final acontece contra a Argentina, com a Bósnia encarregada da saborosa tarefa de devorar o Irã.

Assim, qual será o destino dos "Super Eagles"?

Contra o Irã, os nigerianos sofreram um golpe devastador quando o zagueiro titular Godfrey Oboabuna sentiu uma lesão que exigiu que fosse substituído cedo por Joseph Yobo.

Outra substituição que aconteceu cedo foi a entrada de Shola Ameobi, 32, veterano do Newcastle, que só jogou oito vezes pelo país, no lugar de Victor Moses, o que indiretamente causou o curto-circuito de qualquer estratégia que a comissão técnica tivesse antes da partida. A entrada do controverso Osaze Odemwigie, acreditam muitos, animou um ataque sem vida, mas o técnico aparentemente declarou que ele "não jogou de acordo com as instruções".

Quais serão as instruções, agora? E que jogadores se disporão a jogar de acordo com essas instruções?

Diante do Irã, o treinador Keshi optou por jogar com uma linha de quatro defensores apoiada por dois meio-campistas de marcação, Mikel Obi e Onazi Ogenyi, que lamentavelmente pouco contribuíram para o ataque e reduziram a capacidade de gol dos "Super Eagles".

No ataque, Keshi experimentou com Emmanuel Emenike, com o jovem Ramon Azeez, 21, que jogou apenas três vezes pela seleção e carece de experiência internacional, com Ahmed Musa e Victor Moses, cujo passe pertence ao Chelsea, mas que está emprestado ao Liverpool. O resultado foi quase fatal.

Será que ele promoverá mudanças radicais contra a Bósnia? Se sim, em que setores? A primeira coisa que o comandante nigeriano precisa perceber é que o ataque é o principal atributo da equipe da Bósnia e que, onde não existe uma defensa muito formidável, há necessidade de instituir uma formação de meio de campo que iniba as incursões do adversário à área do goleiro Vincent Enyeama.

A defesa nigeriana já está sob suspeita na competição, e o treinador Keshi teve de colocar um atacante para substituir o lesionado Elderson Echiejile.

Yobo é experiente, e Efe Ambrose, do Celtic, que tem 38 partidas pela seleção, está em boa forma. Há também o jovem Kenneth Omeruo, 20. Os demais integrantes do elenco não contam com a combinação certa de idade e experiência.

Juwon Oshaniwa, 23, do Ashdod de Israel, jogou 11 vezes pela seleção e enfrentou dificuldades na estreia contra o Irã, o que vale também para Ebenezer Odunlami e Azubuike Egwuekwe, que jogam no futebol nigeriano e não parecem qualificados para fazer impacto no torneio internacional, o que deixa o goleiro Enyeama, que está para completar sua 94ª partida pela seleção da Nigéria, exposto ao bombardeio dos atacantes bósnios.

E os nigerianos, além de se defenderem, precisam montar um esquema de contra-ataque que apanhe a Bósnia desguarnecida. Se Shola Ameobi, que joga na Premier League, acredita que a Nigéria é lenta demais, ele mereceria elogios caso acelerasse o time.

O ataque tem necessidade de Emenike, do Fenerbahce da Turquia, que quer elevar seu total de nove gols com a seleção e é a esperança de gols dos nigerianos nesta Copa do Mundo.

Apesar das críticas do técnico, Odemwigie, um jogador experiente com 62 partidas e 10 gols pela seleção, deve ser escalado e pode revelar aos colegas os segredos do goleiro bósnio Begovic, seu colega de clube.

Os demais homens de ataque devem ser: o baixinho Ejike Uzoenyi, 22 anos e 20 jogos pela seleção, do Rangers International de Enugu, Nigéria, ansioso por retribuir a confiança do técnico que realizou seu sonho de jogar uma Copa do Mundo, e Ahmed Musa, 21, que já jogou pela seleção nigeriana 38 vezes mas só marcou cinco gols, um desempenho considerado pobre em comparação ao que ele exibe pelo CSKA de Moscou.

Esta Copa do Mundo já se tornou um cemitério de grandes reputações. Não viu desempenhos muito impressionantes de países encarados tradicionalmente como potências e revelou e celebrou desconhecidos. Os "Super Eagles" pediram desculpas aos nigerianos por uma "má partida explicável", e querem estar entre os sobreviventes, continuar a desfraldar a bandeira da África e recompensar os milhões de homens e mulheres de seu país que investiram emocionalmente em seu sucesso.

O primeiro passo para essa redenção é uma vitória sobre a Bósnia em Cuiabá.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Editoria de Arte/Folhapress
Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade

Siga a folha

Publicidade

+ Livraria

Livraria da Folha

Jogo Roubado
Brett Forrest
De:
Por:
Comprar
Festa Brasil (DVD)
Vários
De:
Por:
Comprar
The Yellow Book
Toriba Editora
De:
Por:
Comprar
Futebol Objeto das Ciências Humanas
Flávio de Campos (Org.), Daniela A.
De:
Por:
Comprar
Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página