Apaixonado por futebol, Arthur Leite Alves, 32, por pouco não viu ir para o lixo a realização de um sonho: assistir a Copa do Mundo no Brasil.

À Folha Alves, brasileiro que mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos, disse que ganhou da empresa onde trabalha um ingresso para a partida entre Brasil e Chile, nas oitavas de final, que será disputada no Mineirão, em Belo Horizonte, sábado, às 13h.

Mas Alves conta que a expectativa de ver um jogo de Copa do Mundo virou desespero quando, na segunda-feira (16), sentiu falta do ingresso. Ele disse que se lembrou de quando separou o tíquete, o passaporte e documentos necessários para a viagem programada ao Brasil no dia 25, mas toda a papelada não estava mais em cima de uma mesa, onde havia deixado.

Agonia começou a tomar conta do empresário, que revirou toda a casa em busca do ingresso, sem sucesso.

"Comecei a ficar desesperado. Na hora você quer chorar. Já paguei o hotel, viagem para o Mineirão e tudo isso é muito caro. Eu pensava que aquilo não poderia estar acontecendo", lembra Alves. "Chegou um momento que pensei: perdi o tíquete."

	Arquivo Pessoal
	Arthur exibe ingresso da Copa após encontrá-lo em contêiner de lixo

Foi quando Alves lembrou que sua mulher, a malgaxe Trisca Alves, havia limpado a casa dois dias antes. E ela podia ter se desfeito também do ingresso. Alves tinha ido para o trabalho, mas não aguentou. Voltou para casa sem cumprir as tarefas do dia.

"Disse a um colega de trabalho que não podia perder tempo. Que iria tentar achar o ingresso e precisava voltar naquele momento. Ele riu e disse: 'Vai. Faça o que você tem que fazer'".

O casal e o filho de um ano moram em um condomínio em Rochester, cidade do interior do estado de Nova Iorque. São aproximadamente 300 casas no condomínio. Ainda de acordo com o relato de Alves, depois de procurar pelo ingresso dentro de casa, Artur não pensou duas vezes. Colocou sua luva de jardim e foi a um dos três contêineres onde são depositados o lixo dos moradores.

"Não sabia se [o ingresso] estava no lixo. Também não sabia o dia que o lixeiro recolhe o lixo. Não sei se ele pega toda a semana porque é um negócio grande e eles costumam recolher quando estou no trabalho", conta Alves. "Entrei lá. Estava muito quente porque o container é feito de metal. Tudo muito sujo. Havia comida estragada. O cheiro era muito ruim, mas eu não estava nem aí".

Alves conta que havia tanto lixo, que ele não sabia por onde começar. Mas começou a vasculhar em um canto. Conta que ficou surpreso com alguns objetos dispensados pelos vizinhos. Encontrou até tênis em bom estado. Mas a situação era longe de ser agradável.

"Se eu colocasse o pé até embaixo, teria lixo até a minha cintura. Cheguei a abrir um saco que parecia com os nossos, mas tinha uma galinha velha e um monte de larva dentro. Uma coisa nojenta", conta Alves.

Foi preciso uma hora e meia vasculhando o lixo até que Alves pegou um saco que, quando remexeu, viu sua foto do passaporte. Quando abriu, encontrou todos os seus documentos e o seu ingresso, dentro de um envelope, intactos.

"Quando peguei o meu ingresso comemorei como se eu tivesse ganhado a Copa do Mundo!", lembrou Alves.

Acompanhado de um amigo norte-americano, Alves chega Brasil nesta quinta-feira (26), dois dias antes do jogo válido pelas oitavas de final. E ele espera que tanto esforço se torne um incentivo para os jogadores da seleção brasileira.

"Seria legal se eles vissem. Pode servir para incentivá-los", sugere.

	Editoria de Arte/Folhapress