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Olimpíada mostra que Brasil não é só roubalheira, diz Eduardo Paes

Ricardo Borges - 5.jan.2016/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ,BRASIL, 05/01/2016; Entrevista com o prefeito do Rio, Eduardo Paes em seu gabinete na prefeitura. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
Eduardo Paes concede entrevista em seu gabinete na prefeitura

A pouco mais de 200 dias do início dos Jogos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), 46, afirma não ter mais "preocupações olímpicas". Nem mesmo seu futuro político, diz, depende do sucesso do evento. "Não é um projeto do Eduardo Paes. É do Brasil", disse à Folha o prefeito, em entrevista em seu gabinete, no centro do Rio.

Afirma que o evento é uma oportunidade de mostrar que o país "não é só Lava Jato, roubalheira, falta de planejamento, com obra não terminando no prazo".

Ele nega interesse em disputar a Presidência em 2018. Para ele, o candidato natural do PMDB é Michel Temer. Mas indica o tucano José Serra como o nome ideal para a sigla –em caso de filiação.

Apesar disso, não abandona o apoio a Dilma Rousseff, que ora chama de "presidente", ora de "presidenta". Diz não ver crime de responsabilidade cometido pela petista.

Paes só se exalta na defesa de seu pré-candidato à sucessão, o secretário Pedro Paulo, investigado por agredir a ex-mulher –pondo em dúvida a veracidade dos ataques reconhecidos pelo aliado.

*

Folha - O PMDB é um bom aliado para a presidente?
Eduardo Paes - O PMDB é complexo. A presidente passa por dificuldades políticas e as diferenças internas no partido acabam se exacerbando. Soma-se a isso um desejo do partido de ter projeto próprio.

Acha viável o PMDB ter candidato a presidente em 2018, num cenário conflagrado?
Quem está nessa paz toda? O PSDB? O PT está pacificado? Esses conflitos existem na política. O nome mais natural é o Michel Temer. Mas torço muito para o [senador José] Serra se mudar logo para o PMDB e ser o candidato a presidente.

Qual a sua avaliação sobre a atuação do vice-presidente?
Ele cumpre seu papel. As pessoas insinuaram que ele estaria trabalhando contra a presidente. Não acho. Sobre a relação dele com a presidenta, ele mesmo já explicou. Ao longo do tempo, se afastou. Ou nunca esteve próximo.

Por que o sr. mantém apoio à presidente?
Impopularidade, equívocos na condução da política econômica e erros de governo não são motivos para impeachment. Impeachment não é golpe, desde que haja um crime de responsabilidade. Não me parece haver.

O sr. se arrepende de ter apoiado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara?
Não. Foi o candidato do meu partido. Ele poderia ter uma atuação mais serena. Ele se elegeu como oposição à presidente, mas, a partir do momento em que assume uma função institucional, tem que ser institucional. Às vezes é parcial demais.

E as denúncias contra ele?
Ele tem que se defender. Se for culpado, que responda. Não vou ficar interpretando.

A filha de um funcionário dele [Altair Pinto, acusado de receber propina para Cunha] foi nomeada na Prefeitura do Rio. Quantos ele nomeou?
Não tem mais ninguém. Era uma veterinária que trabalhava numa função política num cargo superbaixo. Não era uma função de comando. Ele jamais me pediu para nomear ninguém na prefeitura.

Mas o sr. disse que essa foi ele.
Estou dizendo num cargo de importância. Um secretária, gerente, coordenador... Eu atendi ao pedido de um deputado. Para ser honesto, nem lembrava. Quando o caso veio à tona, achei mais adequado exonerá-la, e o fiz.

Suspeita-se de que Cunha tenha recebido propina para liberar recursos do FGTS para a obra no porto do Rio. O sr. pediu os recursos?
Se isso que se relata de fato ocorreu, é um problema do deputado com seu indicado na Caixa Econômica Federal [Fábio Cleto]. O que posso garantir é que nas obras da prefeitura não tem delator para delatar, nem nenhuma denúncia para fazer porque a gente faz tudo direitinho.

Seu nome também é citado numa conversa entre Léo Pinheiro [da OAS] e Cunha. O sr. teria ficado feliz porque foi aprovada a concessão de benefícios fiscais para empreiteiras nas obras da Olimpíada.
Não soube [da citação]. Mas, se diminuí o valor [da obra], fico feliz. Está falando de um personagem que era de uma das maiores empreiteiras do país. A gente se relaciona com as pessoas. O que tem de gente com quem a gente se relacionava e está com problemas, é uma enormidade. O que a gente não pode é criminalizar a política.

O sr. quer disputar a Presidência? O seu nome é ventilado por causa da Olimpíada.
Não dá para vincular minha vida [política] à Olimpíada. Não é um projeto do Eduardo Paes. É do Brasil. É natural que o prefeito tenha protagonismo, mas o sucesso e o fracasso têm que ser divididos com muita gente. Se a Olimpíada for um sucesso, não vou ser mais ou menos popular. Se for um fracasso, também não vou morrer. O natural é ser candidato ao governo do Rio. Mas decidi não pensar nisso para não afetar meu segundo mandato.

O seu discurso busca nacionalizar a Olimpíada. Não é uma forma de se projetar?
Quando eu digo que a Olimpíada é do Brasil, é porque precisamos mostrar que o país não é só Lava Jato, só roubalheira, não é só falta de planejamento, com obra não terminando no prazo.

Qual o peso da Olimpíada para fazer seu sucessor?
Para fazer meu sucessor tem que ter um bom governo. A vida é muito mais real do que o projeto olímpico.

A escolha do secretário Pedro Paulo está mantida, mesmo depois das denúncias de agressões contra a ex-mulher?
Não há denúncia. Há episódios da vida dele que cabe a ele esclarecer. Estou apresentando ao eleitor o melhor quadro, o melhor gestor.

Ao chamar as agressões de "episódios" o sr. não minimiza o que ocorreu?
Não estou minimizando. Ele tem o direito à defesa. Conheço o Pedro Paulo e sei que não estou lidando com um homem violento, espancador de mulheres.

Além de ter agredido a mulher, ele mentiu sobre o caso duas vezes. Isso não o prejudica?
Será que ele conhecia os fatos? Será que alguns fatos aconteceram?

As agressões que ele assumiu não existiram?
Cabe a ele se defender.

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