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Agência antidoping aponta extorsão no atletismo e cita Putin

Mikhail Klimentyev - 10.ago.2013/Associated Press
Putin (dir.) ao lado de Lamine Diack
Putin (dir.) ao lado de Lamine Diack, ex-presidente da IAAF

Comissão independente instituída pela Wada (Agência Mundial Antidoping) aponta, em relatório divulgado nesta quinta-feira (14), envolvimento do presidente russo, Vladimir Putin, em casos de doping do país no atletismo. A informação é da agência de notícias Associated Press.

Segundo a agência, o ex-presidente da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), o senegalês Lamine Diack, foi informado antes do Mundial de Moscou-2013 pelo então advogado da entidade, Huw Roberts, que nove atletas russos foram flagrados no doping. O advogado queria saber como deveria proceder.

Diack, então, afirmou a Roberts que "estava em uma posição difícil que poderia ser resolvida apenas pelo presidente Putin, com quem ele havia construído uma amizade". Nenhum dos nove atletas participou do Mundial em questão, mas seus casos não foram investigados pela IAAF.

Roberts se demitiu da associação no início de 2014, irritado por não ter controle sobre os casos positivos que envolveram os russos. Desde 2011, Diack delegava apenas a seu advogado pessoal, Habib Cissé, o manejo de doping envolvendo russos. Atualmente, Cissé é investigado pela Justiça francesa por corrupção.

Além de relacionar diretamente Putin, o relatório da Wada também conclui que não havia maneira de os principais dirigentes da IAAF estarem desavisados sobre a extensão dos casos de doping no atletismo e de corrupção.

Entre eles, o documento cita o inglês Sebastian Coe, que foi vice por oito anos e desde agosto preside a entidade, e o conselho, do qual faz parte o brasileiro Roberto Gesta de Melo.

O chefe da comissão independente da Wada, o canadense Richard Pound, afirma que a IAAF precisa se reestruturar. "A corrupção estava impregnada na organização", escreveu Pound no relatório, segundo a Associated Press.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (14), realizada em Munique (Alemanha), Pound clamou que a IAAF aceite a responsabilidade pelas falhas e tenha mais "apetite" para solucionar o problema. A sessão foi acompanhada por Coe.

"Estamos cuidadosos sobre a habilidade de Coe [para comandar uma reforma]. É uma fabulosa oportunidade para a IAAF aprender e voltar a caminhar", afirmou Pound, eximindo o cartola de culpa total pela crise na entidade máxima do atletismo mundial. "Não vejo ninguém melhor do que Coe para comandá-la. Meus dedos estão cruzados."

"O atletismo pode se aproveitar da oportunidade que surgiu depois da investigação feita sobre a Rússia", complementou o canadense.

O documento detalha ainda um súbito aumento de US$ 6 milhões para US$ 25 milhões pelos direitos de transmissão do Mundial de atletismo de 2013. O dinheiro foi fornecido por um banco da Rússia. O filho de Lamine Diack, Papa Massata Diack, participou da negociação.

Devido ao caráter criminal que a investigação tomou, Pound afirmou que a comissão decidiu contatar a Interpol, que por sua vez sugeriu remeter o assunto a autoridades francesas. Nesta quinta, a Justiça francesa emitiu mandado de prisão para Papa Massata Diack.

Ele e outros dois dirigentes, além de um técnico, foram banidos da modalidade na semana passada.

No primeiro relatório da comissão independente da Wada, divulgado em novembro, foi exposta uma ampla rede de dopagem na Rússia, principalmente no atletismo. O esquema envolvia também a agência antidoping russa, laboratório credenciado pela própria Wada, e o serviço secreto do país.

A comissão também recomendou o banimento do atletismo russo de todas as competições internacionais até segunda ordem, o que foi acatado pela IAAF.

A federação russa de atletismo precisa cumprir uma série de exigências com urgência para não ficar fora dos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto.

EXTORSÃO

Segundo o documento, Papa Massata Diack e seu irmão, Khalil Diack, tentaram extorquir a atleta turca Asli Alptekin, campeã olímpica dos 1.500 m em Londres-2012.

Antes da Olimpíada, a atleta teve uma variação anormal nos índices de seu passaporte biológico (mapeamento individual de urina e sangue de cada competidor, adotado por algumas federações). Porém, a federação de atletismo de seu país só foi notificada após o megaevento de que ela poderia ser punida.

Em novembro daquele ano, Papa Massata Diack teria solicitado um encontro com a atleta e seus representantes, o que ocorreu em Monaco. Lá, ele teria pedido 650 mil euros para acobertar o caso e, mais tarde, baixado a pedida para 350 mil euros. Não teria havido consenso e a definição do assunto foi postergada.

Ainda de acordo com o documento, a pedido de Alptekin, uma nova reunião foi realizada em Istambul. A atleta pagou a viagem e hospedagem de Papa Massata e chegou a fazer um pagamento de 35 mil euros. Ainda assim, houve chantagens futuras envolvendo o ex-diretor do departamento antidoping da IAAF, Gabriel Dollé, e Khalil Diack.

Futuramente, Alptekin teria concordado em abrir mão de sua medalha e cumprir uma punição de oito anos por testar positivo no exame.

Segundo Richard McLaren, outro componente da comissão da Wada, o caso da turca pode ser "apenas a ponta do iceberg" e que extorsões poderiam ser uma prática comum na IAAF sob Diack. "A corrupção vinha do topo, do próprio Lamine Diack."

Outro caso citado no documento é o da maratonista russa Lilya Shubukhova, que também teria sido vítima de tentativa de extorsão de 450 mil euros –ela chegou a pagar parte da quantia.

OUTRO LADO

Em comunicado, a IAAF afirmou que reconhece totalmente e aceita a gravidade das revelações da comissão independente da Wada. A entidade também disse que vai incorporar as recomendações feitas o quanto antes.

"Estou extremamente grato à comissão independente da Wada pelo seu trabalho e pelas recomendações que fez. A corrupção que ela revelou é totalmente repugnante e uma grande traição de confiança por aqueles envolvidos. Reconheço que a IAAF ainda tem uma enorme tarefa pela frente para restaurar sua confiança. Não podemos mudar o passado, mas eu estou determinado a aprender com isso e não repetir os erros", afirmou Coe, por meio de nota.

Doping no atletismo

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