A 200 dias do início dos Jogos Olímpicos do Rio, o interesse do público varia da conclusão de novas instalações esportivas à eficácia das medidas de segurança que serão adotadas pelas autoridades.
Umas das principais dúvidas recai sobre a participação esportiva do país, ainda mais após o COB (Comitê Olímpico do Brasil) estipular a meta de estar no top 10 no quadro de medalhas -por total de pódios.
A Folha conta estratégias adotadas pelo COB, confederações e atletas para tentar extrair as vantagens do "fator casa" e impulsionar a campanha.
1 - TREINO ISOLADO
Tido como esporte líder para a campanha brasileira, o judô pouco ficará na Vila Olímpica. A preparação será toda feita em um hotel em Mangaratiba, no Estado do Rio. Eles já fizeram uma experiência antes do Pan de Toronto.
Os judocas irão para a Vila apenas na antevéspera de competirem. Tudo para que os brasileiros tenham uma base e não precisem dividir tatame em treinos nas arenas designadas pela organização.
A natação, que iria treinar na Fortaleza de São João, na Urca, quartel-general da delegação brasileira, estuda fazer sua aclimatação nos EUA ou em outro Estado. "O desafio é encontrar um local que dê uma condição de união para o grupo", disse Bichara.
A piscina do "QG" da equipe brasileira não ficaria pronta a tempo da preparação do time nacional de natação.
Marcio Rodrigues/MPIX | ||
Treinamento da seleção brasileira em hotel em Mangaratiba, no Rio de Janeiro - Judo |
2 - NEGOCIAÇÃO
Nos bastidores, os dirigentes brasileiros trabalham para que os atletas e equipes do país atuem em horários mais favoráveis. Em nem todas as modalidades isso é possível, mas em algumas sim.
Um desejo do COB, por exemplo, é que as as equipes de vôlei e vôlei de praia não sejam as escolhidas para as últimas sessões esportivas do dia. Tudo para não prejudicar a recuperação para a sequência da competição. Haverá jogos na praia de Copacabana que vão até 0h50.
Tudo depende de negociação com o comitê organizador da Rio-2016. Este tipo de apelo é praxe entre os países-sede dos Jogos Olímpicos.
3 - VIDA NOTURNA
Esportes como a natação, atletismo e vôlei de praia terão horários nos Jogos do Rio que fogem do habitual. As finais aquáticas, por exemplo, serão disputadas a partir de 22h, para atender pedido das TVs em Londres-2012 eram às 19h30 (no horário local).
COB e confederações têm feito tentativas para adaptar os atletas e amenizar efeitos. No início de dezembro, um grupo do atletismo fez dois dias de treinos à noite em instalação da Aeronáutica. A natação também estuda treinar nos respectivos horários.
Atletas de outros esportes passarão por experiência semelhante. Um trabalho é feito em conjunto com Marco Túlio de Mello, professor da UFMG e especialista na área.
4 - RECLUSÃO
A Vila Olímpica é estratégica para o Brasil. Nas últimas edições olímpicas, o COB já pensava com carinho em como usar o local em favor da delegação. Agora, em casa, os dirigentes puderam aplicar de maneira ainda mais efetiva a estratégia.
Está definido que os atletas brasileiros ficarão num prédio inteiro na Vila. Sozinho. E do lado oposto à movimentação na avenida em frente, que dá para o Parque Olímpico da Barra da Tijuca.
A área escolhida é próxima à zona de transporte, de onde partem os ônibus para as arenas de competição.
O prédio também é afastado do burburinho da zona internacional (onde atletas, técnicos, jornalistas e convidados podem circular).
A ideia é dar o máximo de tranquilidade aos atletas. Outra preocupação do COB se relaciona com o nascer o no pôr do sol, pondo em quartos estratégicos quem acorda mais cedo e mais tarde.
Por ser o país-sede, o Brasil pôde mexer a primeira peça nessa disputa. O mesmo aconteceu com os ingleses em Londres, os chineses em Pequim e assim por diante.
Falar com atletas será quase impossível. O desejo do comitê é restringir ao máximo o acesso de familiares e convidados à Vila. Para isso, terá espaço em um shopping que fica a cerca de 4 km do local. A ideia é levar alguns competidores lá, de maneira escalonada, para ter contato com parentes e amigos, sem atrapalhar a concentração.
Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio | ||
Imagem da Vila Olímpica dos Jogos do Rio, em dezembro |
5 - OS 'SEM VILA'
Cerca de 85% da delegação brasileira, que deve ter mais de 400 atletas, está com estratégia de alojamento para os Jogos definida. Parte não vai ficar hospedada na Vila.
Devido à distância entre as principais praças de competição no Rio, a melhor condição de hospedagem é fora dela. É o caso dos velejadores, por exemplo, cujas competições ocorrerão na baía de Guanabara. Eles se acomodarão em hotéis, instalações militares e casas nos arredores da Marina da Glória.
Antes de suas provas, atletas da maratona aquática e triatlo, que competem em dia único, ficarão em hotéis entre Ipanema e Copacabana.
Para a preparação antes dos Jogos, os brasileiros usarão instalações do Exército reformadas na Urca a um custo de mais de R$ 20 milhões.
A Fortaleza de São João receberá a preparação de equipes de mais de dez modalidades, entre elas atletismo, basquete e futebol feminino.
Também próxima à Urca, a Escola Naval foi revitalizada pelo governo federal e será usada pela equipe de vela.
Marcio Rodrigues/MPIX | ||
Treinamento da seleção brasileira em hotel em Mangaratiba, no Rio de Janeiro |
6 - BASE DEODORO
O COB também planeja montar uma base de ação em Deodoro, segundo principal polo de competição dos Jogos do Rio -será o palco de 11 modalidades olímpicas.
"Pensamos em competições que demoram o dia inteiro, que o atleta tenha um tempo para relaxar. Por exemplo, o cara que compete de manhã teria uma base para descanso", disse Jorge Bichara, gerente-geral de performance esportiva do COB.
O comitê iniciou tratativas com o Exército para ter apoio na região e recebeu um aceno positivo. Afastado mais de 30 km do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, Deodoro é uma vila militar e recebeu diversas modalidades no Pan do Rio, em 2007.