Publicidade
Publicidade

Árabes e judeus se unem em Israel por meio de grupo de corrida de rua

Correr é uma atividade física solitária. Mas, em grupo, os corredores têm o poder de ultrapassar até mesmo os preconceitos.

Por trás desta filosofia surgiu, em Jerusalém, o projeto "Runners Without Borders" (Corredores Sem Fronteiras, em português).

A largada da ideia ocorreu em novembro de 2004, após a tensão causada na região devido à guerra em Gaza. Shoshana Ben-David, então com 18 anos, reuniu um grupo de jovens mulheres árabes e judias para começar a correr juntas.

Em 2015, então, o segundo grupo deu os primeiros passos, comandado por Israel Haas, hoje diretor da ONG e com 36 anos. Atualmente, são quatro grupos mistos com homens, mulheres; jovens e adultos; muçulmanos, judeus e cristãos.

"Gosto da coexistência de Jerusalém. Mas vamos falar com árabes somente no mercado? Apenas nos negócios? Não vamos fazer outras coisas com eles, em outras oportunidades? Depois da última guerra em Gaza, há um ano e meio, eu e Shoshanna começamos essa empresa porque já corríamos e queríamos uma coexistência de verdade. A tensão em Jerusalém foi a causa, e o objetivo é conectar as pessoas", explica Haas à Folha.

Eduardo Anizelli - 18.mar.2016/Folhapress
JERUSALEM, CAPITAL, ISRAEL, 18-03-2016: Retrato do corredor Israel Haas, que tem um projeto social que visa unir pessoas de religioes diferentes em uma mesma equipe de corredores. A intencao do projeto e unir religioes diferentes atraves da corrida na tentativa de semear a paz entre eles. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, ESPORTE) ***EXCLUSIVO***
Israel Haas, diretor do Corredores Sem Fronteiras

Shoshanna costumava dizer que não tinha amigas muçulmanas de sua idade, mesmo com um terço da cidade sendo habitada por árabes. Haas então surgiu como uma espécie de conexão entre todos, pois fala árabe, hebraico e inglês.

"Judeus não vão falar árabe. E árabes não vão falar hebraico. Especialmente os jovens. Porque eles têm medo um do outro. E quando a causa é o medo, precisamos nos conectar. Precisamos diminuir o medo", afirma o diretor da ONG que se reúne, uma vez por semana, aos domingos, para treinar e trocar experiências.

Todas as atividades são em inglês, depois traduzidas para outras duas línguas se necessário. Além da equipe de Jerusalém, que hoje conta com 70 corredores, há também um grupo em Haifa, ao norte do país, com cerca de 15. A próxima a receber o projeto deve ser Tel Aviv.

Além dos exercícios de força, técnica e corrida, orientadas por um treinador, os times acabam sendo também grupos de discussão. Os conflito entre judeus e palestinos na região já fez com que eles tivessem que deixar um parque no qual treinavam e, atualmente, o grupo se reúne no estádio de uma universidade.

"Não falamos do conflito. Não é um tema que levantamos. Mas se eles falarem, deixamos. A política desconecta as pessoas. Por isso é importante o debate de ideias, elas não precisam concordar com as outras, mas podem agregar ideias à discussão", explica Haas.

Em torno de 60% do grupo é de homens e árabes, mas, entre as mulheres, a maior parte é de judias. Entre os árabes, há muçulmanos e cristãos. O recrutamento é feito nas escolas ou por meio de uma conta no Facebook.

"À princípio, as escolas árabes não queriam que as mulheres estivessem nas conversas, por causa da tradição. Mas as próprias mulheres do programa disseram que queriam participar. Isso é muito importante para os dois lados", diz Haas.

"Há muitas diferenças na cidade e entre os árabes, mas os judeus não sabem disso, porque eles não se integram com todos os cidadãos de Jerusalém", completa o diretor da empresa que arrecada dinheiro graças a financiamentos coletivos na Internet (crowdfunding) e a doações vindas de EUA, Itália, Alemanha, Canadá, Inglaterra e também do Brasil.

Na Maratona de Jerusalém, realizada na última sexta-feira (18), os Corredores Sem Fronteiras tiveram 40 representantes divididos entre as provas de 5 km e 10 km (na qual Haas esteve). Eles também já correram provas em Milão e Berlim, em 2015. E esperam começar negociações para participar de alguma no Brasil em breve.

"A empresa é algo específico. Temos em Haifa e queremos ter em Tel Aviv, porque o objetivo é conectar as etnias em sítios mistos. Por exemplo, se há um bairro com judeus e árabes, os queremos juntos. E o primeiro passo é Jerusalém entender isso", afirma Haas, ao justificar o caráter local do projeto.

Afinal, qualquer um pode correr, a pista ou a rua é igual e aceita todos, é acima de tudo uma atividade democrática.

O repórter MARCEL MERGUIZO viaja a convite do Ministério do Turismo de Israel

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade