Um conflito de interesses deve afastar do revezamento da tocha olímpica, que começará no dia 3 de maio e passará por mais de 300 cidades do território brasileiro, alguns dos principais nomes do esporte olímpico nacional.
O motivo é a cláusula número 13 dos termos de participação do simbólico evento.
De acordo com ela, o condutor "autoriza, em caráter irrevogável e irretratável" o Comitê Organizador dos Jogos do Rio-2016, o COI (Comitê Olímpico Internacional) e os patrocinadores do revezamento "a utilizar suas imagens de forma perpétua".
Além disso, o participante também cede direitos de voz e fotografia "de forma universal e gratuita, integral ou parcialmente, para fins comerciais ou não" aos envolvidos na organização do evento.
Os três patrocinadores oficiais do revezamento são Bradesco, Nissan e Coca-Cola.
A cláusula conflita com boa parte dos contratos de patrocínio estabelecidos entre empresas e confederações esportivas ou atletas.
A Folha apurou que medalhões do esporte nacional vivem impasse sobre comparecer ou não ao revezamento.
O ginasta campeão olímpico Arthur Zanetti, que foi convidado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) para empunhá-la em São Caetano do Sul, tem a presença, até segunda ordem, descartada.
Símbolo olímpico chega ao país em maio
Ele e outros companheiros da seleção brasileira de ginástica artística, como Flávia Saraiva e Arthur Nory, entre outros, são patrocinados pela Caixa Econômica Federal.
O contrato do banco estatal com a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) proíbe promoção de concorrente.
Indagada, a Caixa afirmou que "não foi consultada por nenhum de seus atletas patrocinados em relação à participação no revezamento".
Porém, confirmou o conflito ao dizer que "eventuais solicitações serão avaliadas caso a caso, à luz dos contratos de patrocínio firmados".
A Caixa ainda patrocina seleções brasileiras de atletismo (olímpico e paraolímpico), luta olímpica e ciclismo.
A instituição não é a única que adotará postura cautelosa na cessão de patrocinados.
O Banco do Brasil, que patrocina o bicampeão olímpico Robert Scheidt, da vela, e as confederações de vôlei e handebol, fala em "preservar" seu investimento.
"O Banco do Brasil, como uma das empresas que mais investem no esporte brasileiro, analisará as eventuais demandas, caso a caso, levando em consideração a importância do momento para o esporte brasileiro, os contratos já estabelecidos e a necessidade de preservar os investimentos do BB no patrocínio esportivo", disse, em nota.
CONTRA A MARÉ
O fornecimento de material esportivo ficará a cargo da chinesa 361º, que é parceira técnica do revezamento e apoiadora oficial da Rio-2016.
Ao contrário dos bancos, a Nike, fornecedora oficial do COB, disse que não vai se opor caso um atleta patrocinado decida participar.
"A tocha olímpica é um símbolo do maior evento esportivo do mundo. Todo atleta sonha com esse momento e nós consideramos esta uma oportunidade única. A participação dos atletas é voluntária", afirmou a empresa.
FLEXIBILIDADE
O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio disse que a cláusula é padrão em todas as edições olímpicas no que tange ao revezamento da tocha.
Apesar disso, a entidade admitiu que pode flexibilizar as exigências do texto em determinados casos. Isso ocorrerá somente quando um atleta se manifestar perante o comitê organizador.
Segundo o diretor de comunicação dos Jogos, Mario Andrada, a cláusula é um resguardo do COI para não ter que pedir direito de imagem sempre que desejar exibir conteúdo relativo à tocha.